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Após 80 mil simulações, há um favorito a vencer a eleição dos EUA. Por 0,36 ponto

Por O Globo

Candidata democrata à Presidência dos EUA, Kamala Harris, e candidato republicano à Presidência, Donald Trump, em comícios no estado de Nevada — Foto: LOREN ELLIOTT and Ian Maule / AFP

Esta é a mais apertada das eleições americanas, o leitor está ciente disso. E, literalmente, tanto a democrata Kamala Harris quanto o republicano Donald Trump podem tornar-se o 47º presidente dos EUA. Mas, ainda assim, quando os modelos de previsão são rodados, levando em consideração uma enxurrada de pesquisas, parâmetros demográficos, votações anteriores, temas quentes da corrida, partidos que controlam os estados, aprovação dos candidatos e do governo federal etc, sempre sai um “favorito”. Aspas intencionais e categóricas. Veja por quê.

Candidata democrata à Presidência dos EUA, Kamala Harris, e candidato republicano à Presidência, Donald Trump, em comícios no estado de Nevada

Candidata democrata à Presidência dos EUA, Kamala Harris, e candidato republicano à Presidência, Donald Trump, em comícios no estado de Nevada — Foto: LOREN ELLIOTT and Ian Maule / AFP

Nate Silver é um dos mais renomados estatísticos eleitorais americanos. Construiu carreira e reputação com o blog independente FiveThirtyEight (538 em inglês, o número total de delegados no Colégio Eleitoral), encampado em 2010 pelo New York Times. Em 2013, migrou com seu hub de previsões e estatísticas para a ESPN e depois para a ABC News, de onde saiu em 2023 após vender o produto. Hoje, ele comanda o Nate Silver Bulletin.

Com um modelo sofisticado de agregação de pesquisas, parâmetros quantitativos e qualitativos e probabilidades, Nate Silver é acompanhado com lupa (e não só nas eleições: seu trabalho é um sucesso no mundo das apostas esportivas). O estatístico chegou ao fim do trabalho de probabilidades de vitória na corrida à Casa Branca quando o relógio bateu meia-noite nesta segunda-feira. E então apertou a tecla Enter no computador.

Foram feitas 80 mil simulações de resultados para a eleição que se encerra esta noite. Em 40.012 delas, Kamala Harris aparece como a vencedora, levando a maioria dos votos no Colégio Eleitoral. Donald Trump venceu em 39.718 dos exercícios. Em 270 simulações, houve um empate (269 delegados do Colégio Eleitoral para cada; são necessários 270 para levar a Casa Branca). Como, neste caso, a lei americana estabelece que a Câmara dos Deputados decidirá o presidente, e esta tem hoje maioria republicana, significa que Trump saiu vencedor em 39.988 das simulações.

40.012 versus 39.988.

Ajustados para a margem de erro, os dados de Nate Silver apontam que a chance de Kamala Harris vencer a disputa é de 50,015%. E a de Donald Trump, de 49,647%. Probabilidades apenas míseros 0,368 ponto percentual distantes. “Da perspectiva do modelo, a corrida é literalmente mais apertada do que uma disputa de cara ou coroa: empiricamente, cara vence em 50,5% das vezes, mais do que os 50,015% de chance de Harris”, escreveu Nate Silver em sua última newsletter antes de a apuração começar.

E ele não está sozinho. Seu antigo blog, o FiveThirtyEight, chegou a resultado semelhante. Rodadas 1.000 simulações, em 503 Kamala saiu vitoriosa, e Trump prosperou em 492. Em dois exercícios, houve empate. Traduzindo: a democrata tem 50% de chance de levar a Casa Branca, e o republicano tem 49%.

Outro oráculo eleitoral americano, o cientista político Larry Sabato tem um monitor de eleições chamado de Crystal Ball (Bola de Cristal). Ele não calcula probabilidades estatísticas. Mas usa os mesmos parâmetros para classificar os estados americanos entre sólidos, prováveis ou inclinados aos democratas ou aos republicanos. Na classificação final de 2024 antes das eleições, divulgada nesta terça-feira, Sabato diz que os chamados Blue Wall States — Michigan, Wisconsin e a joia da coroa Pensilvânia — estão inclinados a votar em Kamala Harris. Se isso se confirmar, a democrata está eleita.

Mas a verdade é que, ainda assim, tudo pode ser. Basta que as pesquisas embutidas nos modelos errem na margem, por exemplo por não terem achado para entrevistar eleitores de Trump o suficiente, ou não terem estimado corretamente o comparecimento às urnas de fatias do eleitorado, ou, ainda, não terem captado o percentual de jovens, negros e latinos que migraram para o republicano para que o ex-presidente garanta seu retorno a Washington, DC.

De fato, outro excepcional analista de pesquisas e tendências eleitorais dos EUA, o repórter sênior Nate Cohn, do New York Times, escreveu que a polarização, a divisão e a movimentação dos eleitores tradicionais de cada partido estão tão elevadas que quatro cenários são absolutamente possíveis para esta eleição (e todos parecerão absolutamente um reflexo da corrida eleitoral quando concretizados).

Há os cenários de vitórias de Kamala ou Trump desenhadas desde o início da apuração, com mais folga do que o sugerido pelas pesquisas. Ambos dependem da parcela de negros, jovens e latinos (tradicional base democrata) que vão migrar para Trump, da parcela dos mais velhos e dos brancos com nível superior (tradicional base republicana) que vão migrar para Kamala e de qual combo prevalecerá nos corações e mentes dos americanos: a economia, a imigração e o descontentamento com o presidente Joe Biden de um lado; o direito reprodutivo das mulheres, a defesa da democracia e a aversão ao populismo radical do outro.

Nos dois cenários restantes, a eleição será realmente muito apertada, como as pesquisas vêm apontando, com porções do eleitorado, ou alguns condados apenas, decidindo a corrida por poucos milhares de votos.

Ou seja, tudo pode ocorrer hoje à noite, e nos dias seguintes, pois também é impossível prever com precisão quando cada estado vai encerrar sua contagem de votos. A única coisa certa é que americanos e o mundo terão de ter 100% de paciência até que seja projetado um vencedor. Acompanhe no GLOBO, em tempo real, até o último voto, com mapa de apuração atualizado assim que as cédulas são computadas, notícias dos 7 estados-pêndulo e análises ao vivo do colunista Guga Chacra, do repórter especial Eduardo Graça e da editora-executiva Flávia Barbosa.

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