Belém, sede em 2025 da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP30, está entre as três capitais com mais baixo índice de desenvolvimento sustentável do Brasil. A avaliação é do Instituto Cidades Sustentáveis, que analisa a condição de vida da população nos 5.570 municípios brasileiros. Numa escala onde 100 é a melhor nota, Belém surge com 40,06, acima apenas de Macapá (37,33) e Porto Velho (37,10).
Mas nenhuma capital ou cidade do país se destacou por alto desempenho, com nota acima de 80. Entre as capitais, mesmo as mais bem colocadas apresentaram índices médios, caso de Brasília (57,13), que encabeça a lista, seguida por Curitiba e Goiânia (ambas com 55,99).
Treze capitais tiveram notas médias, entre elas as mais ricas do país, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre. A única capital da Amazônia nesse grupo é Palmas (TO).
As 12 capitais restantes apresentaram índice de desenvolvimento sustentável baixo (entre 40 e 49,99 pontos) ou muito baixo (até 39,99).
— O índice gera um desconforto e mostra que estamos atingindo um limiar. Ou mudamos de patamar ou vamos chegar a momentos gravíssimos. Não podemos continuar passando verniz — diz Jorge Abrahão, coordenador-geral do Instituto Cidades Sustentáveis.
Segundo ele, as cidades precisam de mudanças estruturantes, em saúde, transporte e educação, e uma gestão integrada para as demandas de seus moradores. E a economia, assinala, não pode continuar dissociada das questões sociais e ambientais.
— As capitais não evoluíram e a média das cidades brasileiras prossegue com baixa qualidade de vida. O Brasil não consegue distribuir riqueza ou facilidades para os moradores e os municípios continuam a criar núcleos de riqueza — afirma.
O índice um retrato dessa realidade. Abrahão assinala que, mesmo questões mais recentes, como as mudanças climáticas, só surgem quando acontece o caos, sem que os prefeitos adotem medidas de gestão de risco.
No caso de Belém, o coordenador Abrahão ressalta que, por mais investimentos que sejam direcionados para a cidade em função da COP30, não é possível resolver em dois anos problemas acumulados em décadas numa cidade onde metade das pessoas moram em situação precária e convive com esgoto a céu aberto.
Procurada, a prefeitura de Belém não quis se pronunciar.
68% das cidades têm índice baixo ou muito baixo
Duas em cada três cidades brasileiras têm nível baixo ou muito baixo de desenvolvimento sustentável. Dos 5.570 municípios, 2.855 ficaram no nível baixo 40 e 49 pontos e 934 foram classificados como muito baixos.
Somente 91 (1,6% do total) alcançaram mais de 60 pontos.
Na comparação com 2015, primeiro ano em que o Índice de Desenvolvimento Sustentável, 88% das cidades brasileiras pioraram ou ficaram estagnadas. Apenas 683 municípios apresentaram melhorias – ou 12% do total. Outros 2.503 ficaram no mesmo patamar e em 2.384 deles as condições de vida pioraram.
Na Amazônia estão as cidades mais fragilizadas, com as menores pontuações do índice, como Itacoatiara (AM), Altamira, Cametá e Breves (PA) e Santana (AP). Em municípios menores, com menos de 100 mil habitantes, como Lábrea (AM), onde a floresta tem sido destruída, a nota sequer chega a 30.
São Paulo tem quatro cidades entre 100 a 500 mil habitantes com as melhores pontuações. São Caetano do Sul, no ABC paulista, teve a nota mais alta (64). A segunda posição nesta faixa ficou com Varginha, no Sul de Minas Gerais. Os demais municípios paulistas são do interior do estado – Jundiaí, Catanduva e Bragança Paulista.
O Índice de Desenvolvimento Sustentável das Cidades (IDSC) é formado por 100 indicadores de áreas como saúde, educação, moradia, transportes, infraestrutura urbana e mudanças climáticas. Eles estão associados aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para serem alcançados até 2030.
Como é a classificação por nível de pontuação:
80 a 100 – muito alto
60 a 79,99 – alto
50 a 59,99 – médio
40 a 49,99 – baixo
até 39,99 – muito baixo