Desde criança, Caio Macedo sempre demonstrou interesse pela arte. Natural de Pernambuco, ele recitava poesias em sua escola em São José do Egito. Hoje, Caio se destaca na cena audiovisual nacional ao assumir papéis intensos, sempre buscando se desafiar, como no aclamado filme de terror “O Cemitério das Almas Perdidas” (2020), de Rodrigo Aragão.
Sua recorrência em filmes de horror nacionais surgiu tanto por acaso, quanto por seu amor pelos desafios e pela adrenalina que esse tipo de filme proporciona. Ele destaca que não se via muito disso em destaque no Brasil em comparação com outros temas e que, desde o início, ficou animado com os elementos de fantasia presentes em “Cemitério das Almas Perdidas” — que proporcionou até mesmo aulas de luta armada como parte da preparação. Caio gosta muito desse estilo e tem vontade de trabalhar mais nele, apesar de não se sentir preso. Pelo contrário, o que mais gosta é de sair de sua zona de conforto e buscar novos projetos.
O próximo capítulo de sua jornada é a aguardada estreia de “Ruas da Glória”, de Felipe Sholl, no Tallinn Black Nights Film Festival, um dos mais importantes festivais de cinema da Europa. Para Caio, que ainda não assistiu ao filme em sua versão final, o momento é de muita expectativa. No longa-metragem, ele vive Gabriel, um jovem envolto em dilemas familiares e afetivos, que se muda de Pernambuco para o Rio de Janeiro e apaixona-se por um garoto de programa vindo do Uruguai. O ator considera uma das experiências mais desafiadoras de sua carreira e se anima com o quão especial será dividir isso com o público.
Caio se interessou rapidamente pelo papel, pois já fazia tempo que queria atuar em um filme com foco LGBTQIAPN+. Além disso, ele já conhecia o trabalho do diretor Felipe Sholl, o que reforçou sua vontade de estar no projeto. Durante o processo, o ator teve a oportunidade de visitar locais onde garotos e garotas de programa trabalham no Rio de Janeiro, o que ampliou sua visão sobre a realidade dessas pessoas. Ele espera que o público, assim como ele, se sensibilize e desestigmatize o olhar sobre essas vidas, ajudando a desconstruir preconceitos e estereótipos.
Sua conexão com o personagem Gabriel foi imediata, principalmente por ambos serem pernambucanos que se mudaram para o Rio de Janeiro. No entanto, a identificação foi além: durante a construção do personagem, Caio se viu lidando com questões pessoais, como o luto pela perda de seu pai, o que contribuiu para compor a dor de Gabriel, que também sofre uma perda familiar no filme. Ele cita que foi difícil separar-se de Gabriel e, como sempre viu a arte como cura, entregou-se completamente ao projeto, emprestando corpo e alma ao personagem. A experiência foi tão intensa que, ao final das filmagens, Caio acabou somatizando a tensão do personagem, chegando a sentir sintomas físicos e necessitando de acompanhamento psicológico para lidar com o esgotamento emocional. Ele destaca que, graças ao ambiente acolhedor e à empatia da equipe, conseguiu passar por esse momento difícil com segurança.
Além dos projetos no cinema, Caio compõe o elenco de “Lama dos Dias”, cuja terceira temporada está em planejamento. O ator conta que ficou eufórico ao ser convidado para a segunda temporada e que, quando estudava teatro em Pernambuco, vivia intensamente a cultura pernambucana, que é profundamente valorizada pela população local. Para ele, é um grande orgulho participar desse projeto e ajudar a contar a história do manguebeat.
Ele também destaca a perseverança necessária para o surgimento do movimento, tanto na música quanto no cinema, e como é gratificante trabalhar ao lado de pessoas extraordinárias, incluindo Louise França, filha de Chico Science, fundador do movimento. Apesar de não ter muitas informações sobre a terceira temporada, espera ansiosamente pelo que está por vir.
Embora sua maior experiência seja com o cinema, Caio tem muito interesse em explorar outras áreas, especialmente as telenovelas. Ele aprecia a rapidez com que o público pode responder e reagir nesse formato, o que lhe permite trabalhar com o retorno dos espectadores ao longo do processo, diferentemente do cinema, onde um filme gravado pode demorar mais de um ano para ser lançado. Sua experiência em “Terra e Paixão” foi muito positiva, e ele conheceu pessoas incríveis, despertando ainda mais o desejo de atuar em novelas. Ele destaca que, além de ter um ritmo e uma linguagem diferentes, telenovelas são mais populares e acessíveis. Inclusive, ele menciona que sua própria família, que por vezes não chega a assistir aos seus filmes, tem mais acesso e interesse pelo formato das novelas.
Para Caio Macedo, o maior valor da arte está em seu poder de transformação. Além de seu trabalho no cinema, ele se dedica a ensinar teatro em comunidades periféricas, acreditando no potencial da arte para impactar vidas. Ele conta que o brilho nos olhos dos alunos durante as aulas é algo espiritual e que a arte não apenas entretém, mas forma o ser humano, ensina empatia e aproxima as pessoas de suas emoções e do mundo ao seu redor. Seu maior conselho para novos atores é a perseverança, ressaltando que o capitalismo não busca mudança, mas que escolher a arte é justamente querer fugir dessa lógica. Também enfatiza a importância de valorizar as próprias características, inclusive étnicas, para se destacar, especialmente agora, com o audiovisual se tornando mais aberto em relação ao que não é padronizado.
E como em qualquer outra área, ele ressalta que o estudo é indispensável: “A atuação é uma ciência que explora as psicologias das artes”, cita Caio, inspirando-se nas palavras do poeta e ator francês Antonin Artaud, que disse que “O ator é o atleta do coração”.
Com novos projetos no horizonte, incluindo o filme “Prédio Vazio” — com lançamento previsto para 2025 —, que promete ser um marco no terror nacional, e sua nova exploração no território da escrita como roteirista, Caio demonstra que sua sede por desafios está longe de acabar. Ele continua abrindo portas para o cinema brasileiro no cenário internacional, com autenticidade e intensidade que conquistam o público dentro e fora das telas.