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Da Monarquia à República: historiador conta o que a Proclamação tem a ver com a história do Acre

Por Victor Manoel, ContilNet

O Brasil proclamou a República no Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1889. O historiador e arqueólogo Marcos Vinicíus, que atua com pesquisas sobre história e cultura do patrimônio histórico cultural da Amazônia e do Acre, há mais de 30 anos, revela ao ContilNet nesta sexta-feira (15) sobre o impacto do evento histórico no Acre.

Proclamação da República por Benedito Calixto/Foto: Reprodução

“Na realidade não houve nenhum impacto sobre o Acre na ocasião da proclamação da república em 1889, quando se deu no Rio de Janeiro, o Acre estava ainda numa situação indefinida porque se vivia o auge do ciclo da borracha”, explica o historiador.

A área, que integrava as florestas amazônicas, era habitada por populações indígenas e atraía brasileiros, bolivianos, peruanos, além de imigrantes europeus como italianos, portugueses e espanhóis. Esses grupos eram atraídos pela exploração do látex, extraído das seringueiras, e a região mantinha-se à margem das grandes transformações políticas do país.

“Porque durante todo o período do império, Dom Pedro I, a questão do Acre inexistia. O Tratado de Madrid havia definido essa região aqui como a região da colônia espanhola. O Tratado de Ayacucho (1867) havia renegociado essas fronteiras e em grande medida consolidado a fronteira”, continua o professor.

Reviravoltas na história

Naquela época, não havia disputas significativas entre as nações vizinhas em relação ao território acreano, o que conferia uma aparência de estabilidade à região.

Sena Madureira, no Acre, no início do século 20/Foto: Arquivo Nacional

Segundo o historiador, a situação começou a mudar nos últimos anos do Império e início da República, com o aumento das tensões entre brasileiros, bolivianos e peruanos, devido à crescente demanda internacional por borracha. O período republicano trouxe uma sensibilidade maior à opinião pública, com uma imprensa mais ativa e um governo que, ao contrário da monarquia, precisava responder aos anseios populares. Assim, questões como a disputa territorial do Acre, que anteriormente eram resolvidas nos bastidores do poder, ganharam destaque e apoio na sociedade.

“No que diz respeito ao direito internacional, entretanto, com o início da questão do Acre, seja os conflitos entre brasileiros, bolivianos e peruanos em torno da questão de limites de posse da região de cobrança de impostos uma vultosa soma isso, começa a afetar a opinião pública nacional. A república era muito mais suscetível à opinião pública nacional do que a monarquia precisava”, continua.

Resgate histórico

O presidente Campos Sales (1898-1902), eleito já sob o regime republicano, manteve inicialmente a postura de que o Acre era território boliviano, posição defendida desde os tempos imperiais. 

“Brasil teve a possibilidade de mudar a sua posição em relação à questão do Acre e influenciando determinado pela opinião pública foi a população brasileira. Já nesse Brasil-República que obriga por assim dizer o governo brasileiro a mudar de posição e que dá origem então à negociação do tratado que viria ser tratado de Petrópolis com a Bolívia e depois tratado do Rio de Janeiro com o Peru”, explica.

Bandeira do Acre/ Foto: ContilNet

No entanto, o cenário político mudou com a eleição de Rodrigues Alves em 1902, que, pressionado pela opinião pública, adotou uma posição mais favorável aos interesses dos brasileiros que habitavam o Acre. Esse apoio popular impulsionou as negociações que culminaram no Tratado de Petrópolis (1903), pelo qual o Brasil comprou o território do Acre da Bolívia, resolvendo a disputa de forma pacífica.

“Nós podemos dizer que a Proclamação da República teve consequências na questão do Acre, mas foram consequências bem posteriores aos eventos que aconteceram no dia 15 de novembro de 1889”, finaliza o professor.

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