O parlamento da Nova Zelândia foi temporariamente interrompido, na quarta-feira, por parlamentares realizando um haka em protesto contra um projeto de lei controverso que busca reinterpretar o tratado de fundação entre o país e o povo Maori. A deputada de oposição Hana-Rawhiti Maipi-Clarke iniciou a dança cerimonial após ser questionada sobre o apoio de seu partido ao projeto, que passou pela primeira votação nesta quinta-feira.
Segundo a rede de televisão inglesa BBC, enquanto isso, uma hīkoi — marcha pacífica de protesto organizada por um grupo de direitos humanos Maori — continua em direção à capital, Wellington. Milhares de pessoas já aderiram à marcha de 10 dias contra o projeto, que chegou a Auckland, na quarta-feira, após partir do extremo norte da Nova Zelândia na segunda-feira.
A Nova Zelândia é frequentemente vista como um país líder em direitos indígenas, mas opositores temem que esse projeto de lei coloque esses direitos em risco. O Act, partido que propôs o projeto, defende que é necessário estabelecer uma definição legal para os princípios do Tratado de Waitangi de 1840, documento essencial para as relações raciais no país.
Com o tempo, os valores fundamentais do tratado foram incorporados às leis neozelandesas como forma de reparar injustiças cometidas contra os Māori durante a colonização. O Act — um partido menor na coalizão de centro-direita no governo — argumenta que a interpretação atual do tratado gerou uma divisão racial no país e que o projeto de lei permitirá que o parlamento interprete o tratado de forma mais justa.
O líder do partido, David Seymour, criticou os opositores por “incitarem” medo e divisão. Críticos, no entanto, afirmam que a proposta dividirá ainda mais o país e reduzirá o apoio essencial para muitos Māori.
A primeira leitura do projeto foi aprovada nesta quinta-feira, após um intervalo de 30 minutos, com o apoio de todos os partidos da coalizão governante, resultando na suspensão de Maipi-Clarke do parlamento. Apesar de ser improvável que passe em uma segunda leitura, já que alguns parceiros de coalizão sinalizaram que não apoiarão a medida, a hīkoi contra o projeto continua avançando em sua rota de 1.000 km.