As expressões artísticas servem para representar ou emular sensações, sentimentos e passar uma mensagem, e com a música não seria diferente. Nesta sexta-feira (22), é comemorado o dia do músico.
A data faz alusão ao dia de Santa Cecília, a padroeira dos músicos, que foi uma nobre romana, martirizada durante o império de Alexandre Severo, entre os anos 222 e 235. De acordo com o que se tem registrado acerca da padroeira, esta seria a data de seu nascimento.
Ainda segundo as histórias, diz-se que durante a condenação de Santa Cecília, enquanto encontrava-se presa em uma terma, a jovem teria cantado de maneira incansável louvores católicos, enquanto agonizava, sendo assim salva através das músicas sacras.
O estado do Acre conta, há 14 anos, com uma escola voltada para o desenvolvimento musical da população, a Escola de Música do Acre(EMAC), que fica localizada no bairro Tucumã, na capital acreana.
O local foi inaugurado em 2010, durante a gestão do governador Binho Marques, e conta com salas para aulas práticas de diversos instrumentos, assim como ensino teórico de música e aulas práticas de canto.
Sua última grande mudança foi no ano de 2018, durante a gestão de Tião Viana, onde as reformas revitalizaram as salas de aula já existentes e reconstruíram o auditório, que conta com capacidade para quase 100 pessoas e um palco para as apresentações.
Atualmente, a escola contempla alunos da rede pública de ensino com prioridade, mas também é acessível para qualquer pessoa da sociedade, mediante sorteio de vagas realizado no início dos períodos letivos.
O coordenador pedagógico da EMAC, Carlos Eduardo da Silva, conta sobre a evolução da Escola de Música, após sua reabertura em 2022, após o período pandêmico.
“Em 2022 a Socorro Neri reabriu a escola, só nossa biblioteca que funcionava. Ela chamou o maestro Afonso pra fazer esse trabalho, uma das propostas era fazer os alunos tocarem no fim do ano, então surgiu a ideia de fazer a cantata de natal”, explica o coordenador.
A cantata de natal acontece anualmente, próximo ao final do ano e desde a reabertura foi tomada como um evento ligado ao governo do estado, contando com a participação do governador e de outras autoridades locais.
“Esta é a nossa terceira edição, a primeira foi com um grupo bem menor do que temos agora, ano passado já tivemos entre 90 e 100 pessoas, este ano esperamos ter 150 pessoas em frente ao palácio”, revela.
O coordenador diz que a cantata tem tomado proporções maiores e que a própria comunidade vem abraçando o evento, que vem sendo cada vez mais procurado pela população.
“A comunidade realmente quer participar, seja as do entorno da escola quanto pessoas conhecidas dos professores daqui, como alunos particulares deles, amigos, alunos da Ufac, eles vem participar com a gente”, conta ele sobre a adesão da comunidade de Rio Branco ao evento natalino.
Entretanto, mesmo com o apoio à EMAC por parte do Estado desde sua criação em 2010 e reabertura em 2022, a escola enfrenta alguns problemas na manutenção, já que certos itens precisam ser repostos com certa celeridade.
Visando arrecadar fundos e criar um espaço para apresentações de bandas e grupos musicais, com diversos estilos e origens diferentes, surgiu o projeto Nossa Música. Silva comenta que o evento é uma oportunidade da escola arrecadar recursos próprios.
“O projeto nossa música foi uma ideia do maestro Afonso, uma das iniciativas que tivemos pra arrecadar recursos foi esse evento, começamos esse ano, como um piloto, vamos destrinchar ele ano que vem”, explica ele.
O projeto consiste em trazer músicos de estilos e influências diferentes para realizarem apresentações no espaço da escola, criando mais um espaço de apresentação pros músicos, levando uma diversidade de estilos musicais e ajudando na manutenção do local.
“Os fundos arrecadados são pra escola mesmo, um cabo que precisa, uma fonte de instrumento que pode queimar, utensílios pra cantina, são coisas básicas que precisamos e muitas vezes ele tem que ser rápido, não podemos ficar sem”, relata.
“O projeto pensa em chamar artistas daqui, pros alunos conhecerem, a comunidade e priorizando estilos diferentes, pessoas diferentes, fomentando a diversidade, essa é a proposta, então todo mundo que quiser mostrar seu trabalho pode vir que estaremos de portas abertas”, convida o coordenador.
Mariana Ravena é professora de técnica vocal e canto coral da EMAC, e foi uma das primeiras participantes do projeto Nossa Música, junto de sua banda, a Love Breath, onde atua como vocalista.
“Esse projeto é muito importante na valorização dos músicos acrianos, porque cria um espaço, eles não tão pagando nada para utilizar, uma parte dos ingressos fica pra eles e a outra fica pra escola. Por exemplo, se a corda de um violão quebrar a gente pode usar esse dinheiro para repor essa corda”, explica ela
Além disso, a professora ressalta que o espaço tem um público mais engajado na música, sendo um espaço atrativo para outros músicos aderirem ao projeto.
“Os alunos da escola são sempre motivados a participar dessas apresentações porque faz parte do nosso processo de educação criar esse público, ensinar que a música não é só ir lá tocar e ir ao palco, mas a gente também tem que consumir música, então tem esses dois lados, um público efetivo para o músico, mas tem também o impacto educacional do projeto para os alunos da escola”, explica Ravena.
Os músicos ainda contam como foi tornar-se professor de música, e como é poder ensinar arte para as próximas gerações.
“Com zero materiais, eu tentei estudar, escutando música e tentando criar de maneira aleatória, que eu achava que poderia me ajudar. Poder trabalhar hoje, numa escola de música, sabendo da oportunidade que essas crianças, jovens e adultos vão ter e que eu não tive na minha infância já é excepcional, orque eu sei é toda a trajetória que eu tive sem ter acesso a isso”, conta Ravena.
“E esse sempre foi o meu sonho era acessar essas pessoas. Desde da minha infância, eu sempre quis utilizar a música de uma maneira que eu pudesse ajudar de alguma maneira as pessoas com música, que pudesse transformar a vida delas através da música, através da arte”, encerra ela.
O ser humano é dotado, sobretudo, da subjetividade do sentir, e a música é uma das maneiras mais antigas de se transmitir sentimentos, pois é uma arte inerente ao ser humano, que pode, antes mesmo de falar, fazer seus primeiros batuques ritmados.
Sendo assim, é também uma das formas mais genuínas de conexão entre pessoas, mesmo que não troquem ao menos uma palavra ou sequer olhares, a musicalidade toca onde os olhos não podem ver, mas o coração pode ouvir. Feliz dia do músico para aqueles que vivem de música, e aos que consomem também.