Estados Unidos acusam Rússia de estar por trás de vídeo falso sobre eleições americanas

Filmagem de 20 segundos mostra homem que diz, em um discurso 'forçado e robótico', estar no país há seis meses, ter cidadania americana e votar em Kamala Harris

Autoridades de inteligência dos Estados Unidos acusaram nesta sexta-feira a Rússia pela divulgação de um vídeo falso de um imigrante haitiano que afirma ter votado várias vezes, a mais recente de uma série de campanhas de desinformação na reta final para as eleições da próxima semana. Os Estados Unidos estão em alerta máximo para uma possível avalanche de manipulação por parte de atores alinhados ao Kremlin nos últimos dias de uma disputa polarizada entre o candidato republicano Donald Trump e a vice-presidente democrata Kamala Harris.

EUA acusam Rússia de estar por trás de vídeo falso sobre eleições americanas; no registro, homem afirma ser haitiano que conseguiu cidadania americana em seis meses e pede voto em Kamala

EUA acusam Rússia de estar por trás de vídeo falso sobre eleições americanas; no registro, homem afirma ser haitiano que conseguiu cidadania americana em seis meses e pede voto em Kamala — Foto: Reprodução

O secretário de Estado da Geórgia, Brad Raffensperger, principal líder desse estado (um dos ainda indecisos nos Estados Unidos), disse que um vídeo que mostra um imigrante haitiano alegando ter dado vários votos a Harris era um exemplo de “desinformação direcionada”.

Na filmagem de 20 segundos, aparece um homem que diz, em um discurso “forçado e robótico”: “Somos do Haiti. Viemos para os Estados Unidos há seis meses e já temos a nossa cidadania americana; vamos votar em Kamala Harris.” Raffensperger sustentou que o vídeo, “obviamente falso”, era provavelmente produzido por “fazendas de trolls russos”, enquanto as autoridades de inteligência dos EUA atribuíam a culpa diretamente aos “influenciadores russos”.

Em uma declaração conjunta, o Gabinete do Diretor de Inteligência Nacional, o FBI e a Agência de Segurança Cibernética e de Infraestrutura disseram que era “um esforço mais amplo de Moscou para levantar questões infundadas sobre a integridade das eleições nos EUA e atiçar as hostilidades entre americanos”.

Os investigadores sobre desinformação já destacaram um esforço amplo para semear o caos e influenciar os eleitores antes das eleições de 5 de novembro, desde contas de bots pró-Rússia na plataforma X até sites pró-Kremlin disfarçados de meios de comunicação de “notícias”. Darren Linvill, especialista em desinformação da Universidade Clemson, disse que o vídeo mais recente traz as características da rede de propaganda russa Storm-1516, um grupo que ele estudou de perto.

“É importante notar que também utilizam prováveis ​​atores da África Ocidental, muitas vezes recrutados na área de São Petersburgo”, disse à AFP.

“Agentes Adormecidos”

Os investigadores dizem que Storm-1516 já produziu vídeos falsos para desacreditar a campanha de Harris, inclusive com uma alegação infundada de agressão sexual contra seu companheiro de chapa, Tim Walz. Na semana passada, o grupo foi vinculado a um vídeo viral que mostrava falsamente a destruição de cédulas de voto para Trump pelo correio na Pensilvânia, um dos estados que podem decidir a eleição.

O Centro de Análise de Ameaças da Microsoft alertou no mês passado que agentes russos estavam intensificando esforços para espalhar vídeos conspiratórios para difamar a campanha de Harris. Outros esforços para semear notícias falsas incluem centenas de sites pró-Kremlin disfarçados de meios de “notícias” americanos que estão alimentando uma explosão de narrativas eleitorais polarizadas ou falsas.

Em setembro, o Departamento de Justiça acusou dois funcionários do canal de notícias russo RT, patrocinado pelo Estado, de canalizarem cerca de 10 milhões de dólares através de uma rede de empresas de fachada para influenciadores americanos das redes sociais, entre as líderes de claque online mais proeminentes de Trump.

Influenciadores conservadores como Benny Johnson e Tim Pool, que têm muitos seguidores nas plataformas, reconheceram que faziam parte do plano, mas negaram ter conhecimento da fonte de financiamento.

O American Sunlight Project, um grupo de pesquisa de desinformação com sede em Washington, disse que centenas de contas de bots aparentemente pró-Rússia na rede X estavam divulgando informações erradas sobre a eleição e amplificando narrativas falsas sobre Harris. O grupo chamou essas contas de “agentes adormecidos” por terem evitado sua detecção durante anos.

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