Neste domingo (17 de novembro), o ex-governador Flaviano Melo, atualmente internado numa UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) do Hospital Albert Einstein, em São Paulo, tratando de uma pneumonia, está completando 75 anos de idade.
O que sempre foi razão de festa, hoje é motivo de preocupação entre amigos e familiares, porque o político voltou a ser intubado em face de a pneumonia ter resistido após uma primeira melhora que permitiu a extubação. O boletim médico emitido no sábado (16) revelou que a pneumonia está regredindo, mas seu corpo voltou a contrair febre, o que muito preocupa o corpo médico, os amigos e familiares.
Atualmente presidente do MDB regional, Flaviano Melo é um dos políticos de carreira mais longevas do Acre, com quase 40 anos de mandato. Sua história política começa em 1983, quando o então engenheiro civil da Construtora Mendes Júnior, filho de tradicional família de políticos, foi convidado pelo então governador Nabor Júnior a se tornar prefeito nomeado da capital Rio Branco, onde ele nasceu.
Filho do então deputado estadual Raimundo Hermínio de Melo, que vinha de vários mandatos na Assembleia Legislativa do Estado do Acre (Aleac), pelo PTB e depois MDB, na época em que a ditadura militar só permitia a existência de dois partidos políticos – a Arena (Aliança Renovadora Nacional), que dava sustentação ao regime, e o MDB, que fazia uma espécie de oposição consentida –, Flaviano Melo deu seus primeiros passos políticos.
Ninguém sabia o que se passava na cabeça do então governador Nabor Júnior – hoje aposentado, aos 94 anos e lúcido – quando fez aquele convite. Mas é certo que ele já preparava o futuro e sua própria sucessão. Flaviano Melo aceitou o convite para ser prefeito numa época em que cidades fronteiriças, mesmo sendo capitais, como era o caso de Rio Branco, não podiam eleger seus prefeitos pelo voto direto.
Os militares alegavam que eram áreas de segurança nacional e, por isso, ali não deveria haver eleições livres. Os prefeitos, portanto, eram chamados de interventores nomeados pela presidência da República. Durante 20 anos da ditadura militar, Rio Branco esteve sob a intervenção de dois prefeitos nomeados: o advogado Adauto Frota e, por último, o engenheiro Fernando Inácio dos Santos, a quem Flaviano Melo substituiu, após ter seu nome aprovado na Aleac.
O curioso, naquela votação, foi que, dos 24 deputados, o nome de Flaviano foi aprovado por apenas 23 votos – o 24º e único voto contrário ao seu nome, revelado depois, foi exatamente o de seu pai, o deputado Raimundo Hermínio de Melo, que faleceu no ano seguinte, em 1984. Quando alguém perguntou ao deputado, que sofria de problemas pulmonares, a razão de ter votado contra o próprio filho, ele afirmou: “Lá em casa já tem político demais”.
De fato, além dele, deputado estadual, as eleições de 1982 revelariam outro fenômeno nas urnas da família Melo: o advogado José Batista Melo, aos 25 anos de idade, foi eleito deputado federal mais votado pelo Acre naquela eleição.
A veia política naquela família vinha de longe. O então prefeito de Rio Branco era descendente de um antigo cacique da política local, o advogado Flaviano Flávio Batista de Melo, pai de sua mãe, dona Laudelina Souza Batista de Melo, já falecida. Flaviano Flávio foi o fundador e primeiro presidente da OAB-AC (Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional Acre), de 1932 a 1956, na época do Acre Território.
Não sabia o então deputado Raimundo Hermínio de Melo que seu sobrenome ficaria marcado na história política do Acre, porque seu filho Flaviano Melo não seria apenas prefeito de Rio Branco. Da prefeitura, ele saiu em 1985, dando vaga para a eleição de Adalberto Aragão, também do MDB, primeiro prefeito eleito de Rio Branco após 20 anos de ditadura militar. Flaviano iria mais longe. Da prefeitura, em 1986, candidatou-se ao Governo do Estado e foi eleito.
Permaneceu no governo até 1990, quando renunciou para ser candidato ao Senado. Foi eleito e permaneceu no Senado até 1998. Antes, em 1994, tentou voltar ao governo, mas perdeu a eleição no segundo turno para Orleir Cameli. Ficou sem mandato até o ano de 2000, quando disputou e venceu a prefeitura de Rio Branco, cargo que acabaria renunciando para ser candidato novamente a governador, agora disputando com o engenheiro Jorge Viana, do PT, que ele projetou para a vida política ao nomeá-lo presidente da Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), em seu governo, em 1987.
Em 2006, candidatou-se para o primeiro mandato de deputado federal, cargo que exerceria por outros três mandatos seguidos, até fevereiro de 2023. Em 2022, não conseguiu renovar o que seria seu quinto mandato consecutivo de deputado federal.
Nos últimos dias, antes de adoecer, vinha anunciando sua retirada por completo da vida pública, recusando-se, inclusive, a disputar a indicação para um novo mandato na presidência regional do MDB. Justificou a decisão afirmando que era preciso haver renovação nos quadros do partido.
Luciana, a esposa de Flaviano Melo, disse ao Contilnet, nesta manhã de sábado, que seu marido continua sedado e que a febre persiste. “Os exames são feitos a cada dia. Continua sedado para facilitar os exames”, escreveu ela em mensagens.
Esta não é a primeira vez que Flaviano Melo enfrenta problemas de saúde. Em 1991, quando exercia o mandato de senador da República, sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral) que lhe deixou profundas sequelas, inclusive com dificuldades de locomoção. Passou praticamente oito meses daquele ano hospitalizado, enquanto o mandato era exercido pelo suplente Telmo Camil Vieira.
Quem viu Flaviano Melo naquelas condições no passado, se enche de esperança de que, forte e com muita vontade de viver, ele reaja mais uma vez e sobreviva para os próximos aniversários fora do leito de um hospital.