Longe dos olhos dos usuários de internet, a V.tal vem crescendo nos bastidores das telecomunicações. A companhia, controlada por fundos do BTG Pactual, é a maior detentora de fibra ótica no País. São mais de 430 mil quilômetros de cabos terrestres e submarinos – uma infraestrutura sem a qual não seria possível o tráfego atual de dados em celulares e computadores. Os ativos foram comprados da Oi por R$ 12,9 bilhões em 2021, na primeira tentativa da tele de fugir da falência.
De lá para cá, a V.tal cresceu alugando essa rede para os provedores que, por sua vez, atendem os consumidores finais. Já são mais de 80 contratos. A Oi permaneceu como a principal cliente, mas o grupo também passou a ceder suas redes para TIM, Sky, Vero, entre outras, incluindo um projeto-piloto com a Claro.
Mais recentemente, a V.tal entrou no ramo de data centers visando atender a demanda crescente de processamento de dados na nuvem. O grupo está investindo US$ 1 bilhão em um parque de data centers espalhado pelo País, disse o novo presidente da empresa, Felipe Campos, em entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast, a primeira, desde que assumiu o cargo. Confira os principais trechos.
Como vai funcionar a administração da V.tal após a compra da operação de fibra ótica da Oi (ClientCo)?
Vamos ter três empresas totalmente diferentes, independentes, com administradores distintos e CNPJs próprios. Inicialmente, serão subsidiárias da V.tal, mas não terá interferência entre as administrações. Para a ClientCo, foi contratado o Marcio Fabris, que, neste momento, está atuando na função de consultor. Ele tem mais de 20 anos de mercado, foi vice-presidente de B2C na Vivo, e contratado agora para coordenar o processo de aquisição da ClientCo e ficar como futuro CEO. Ele responderá diretamente aos acionistas. Já a Tecto fazia parte do dia a dia da V.tal, mas, por ser um negócio extremamente relevante no mercado de data centers, resolvemos ter como uma empresa separada.
Há planos de fazer uma cisão (spin off) de algum dos braços de negócios?
No futuro, tudo pode acontecer, mas hoje não tem nenhuma discussão em relação a isso.
Quando vocês esperam concluir a aquisição da ClientCo?
A expectativa é que o processo se conclua até o final deste ano. Tem um rito a ser cumprido, como condições precedentes, a assinatura do contrato, a homologação e, obviamente, as autorizações junto à Anatel e ao Cade. Pode escorregar para o ano que vem, mas não trabalhamos com essa possibilidade ainda.
Por que a V.tal teve participação decisiva neste novo plano de recuperação judicial da Oi? Vocês assumiram o compromisso de comprar a ClientCo em segunda rodada no leilão, bem como assumiram investimentos no acordo da Oi com a União para encerrar a concessão de telefonia fixa. Havia temor de que uma quebra da Oi afetasse a V.tal?
Naturalmente temos interesse em colaborar com o soerguimento da Oi, na medida em que é um cliente relevante para nós, mas acima de tudo, cada um desses eventos teve um contexto específico em que identificamos boas oportunidades de negócio. Nos dois casos, o nosso conhecimento do negócio e do setor nos permitiu negociar e celebrar operações com sentido econômico. No caso da adaptação de regime da concessão da Oi, viabilizamos o acordo no TCU assumindo compromissos de investimentos e, em contrapartida, adquirimos os recebíveis da arbitragem que a Oi move contra a Anatel. No caso da ClientCo, estamos adquirindo a carteira com 4 milhões de assinantes de FTTH (tecnologia de fibra que chega aos domicílios) e bom potencial de otimização de resultados.
O que o grupo pretende fazer agora com a ClientCo?
A estratégia de negócio é uma resposta que será dada pela nova administração. Eu não tenho acesso ao que está sendo discutido. Olhando de fora, a expectativa é que a empresa caminhe para um crescimento mais acelerado do que vinha apresentando nos últimos meses.
Vocês enxergam condições de acelerar o crescimento mesmo em um mercado tão competitivo como o de banda larga?
Sim, acho que dá para crescer, assim como nossos outros clientes de redes neutras estão crescendo conosco, como são os casos de TIM, Sky, Vero. Se juntar todos os clientes, sem a Oi, a taxa de crescimento da banda larga é de dois dígitos por mês. Ou seja, se estamos trabalhando para que todos cresçam dentro do modelo de rede neutra, é natural ter a expectativa de que o cliente âncora, a ClientCo, cresça também.
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Vocês vão trazer um sócio para ajudar na operação de banda larga, uma vez que atender diretamente o consumidor final não era algo que estava no DNA original?
No momento, não tem nada disso em discussão. No futuro não sabemos, mas para curto prazo não tem nada. O foco foi o movimento de montar uma administração experiente para tocar essa operação.
E no caso da V.tal, qual o foco do plano de negócios?
Não poderíamos estar mais animados. Outubro foi o melhor mês para aquisição de novos clientes. Cada vez mais, o modelo de redes neutras está se provando vencedor. O negócio vem crescendo, e a expectativa é que continue assim.
A que se deve esse recorde de aquisições de clientes? Quantos clientes vocês têm?
Temos hoje por volta de 80 contratos com provedores. Os clientes quando nos procuram estão, inicialmente, na dúvida se constroem as redes por conta, fazem aquisições de empresas e suas redes, ou se recorrem à locação da nossa rede neutra. Quando pensam no tempo de instalação e no nível de qualidade optam pelas redes neutras. Por isso, o crescimento está indo muito bem. Estamos animados também com os outros negócios aqui dentro, como os sistemas de infraestrutura terrestre e submarinos. Somos habilitadores de infraestrutura para as grandes operadoras e para outras empresas que buscam racionalizar custos. Neste ano, fechamos contrato para fornecer redes para a Ligga Arena (estádio do Athlético-PR) e para os shoppings da Allos (maior empresa do ramo no País). E temos outros negócios que serão anunciados nos próximos meses.
Qual o tamanho da cobertura das redes de fibra ótica da V.tal atualmente? E qual a previsão de crescimento?
São 22 milhões de domicílios cobertos (homes passed, no jargão). Não temos uma meta de crescimento escrita na pedra. Vamos avaliando o mercado momento a momento. Nós ainda construímos redes, mas a prioridade é ser mais relevante nas praças onde já estamos presentes, tapando lacunas estratégicas. Além disso, reforçaremos a rede como um todo. Temos investimentos de aproximadamente R$ 500 milhões para aumentar a capilaridade da rede submarina na região do Rio Grande do Sul. Já temos um cabo que vai de São Paulo a Buenos Aires, e agora faremos uma extensão para uma filial em Porto Alegre. Isso é muito importante. Se esse cabo já estivesse operando, o Rio Grande do Sul não teria ficado um segundo sequer sem conectividade durante as enchentes. O investimento de R$ 500 milhões também vai abranger uma rede de cabos na Região Norte do País, que vamos anunciar oportunamente.
E quais os planos para data centers?
Estamos trabalhando fortemente para ser o principal player de data center no Brasil, com investimentos de US$ 1 bilhão (R$ 5,76 bilhões). Estamos construindo um terceiro data center em Fortaleza (CE), maior que os dois anteriores, com investimento de US$ 550 milhões (R$ 3,2 bilhõess). Além disso, temos planos de expansão para mais duas novas cidades, que são Porto Alegre (junto do cabo submarino) e a outra cidade é Santana de Parnaíba, na Grande São Paulo. A ideia é expandir o parque pelo País com esse total de US$ 1 bilhão, o que deve acontecer nos próximos anos. A razão para tudo isso é a demanda alta das big techs por capacidade de armazenamento e processamento de dados na nuvem, o que está crescendo exponencialmente com a inteligência artificial. Estamos bem otimistas.