Quando o Grammy anunciou as 11 indicações de Beyoncé por seu álbum “Cowboy Carter”, alguns fãs alardearam que ele havia se tornado “o álbum mais indicado ao Grammy de todos os tempos” e que Beyoncé teria superado um recorde estabelecido em 1984 por “Thriller”, de Michael Jackson, o mega-sucesso contra o qual todos os outros são julgados desde então. Mas isso é verdade? Não exatamente. Mas, de certa forma, a conquista de Beyoncé se tornou equivalente à de Michael Jackson. Vamos explicar.
Os números do Grammy muitas vezes são confusos, as indicações de um artista podem ser distribuídas em vários projetos, e intérprete de uma música ou álbum não é necessariamente o indicado em certas categorias — os prêmios podem (e geralmente vão) para colaboradores como compositores, produtores ou engenheiros.
Além disso, Beyoncé não foi a única artista recente a receber 11 indicações em um ano. Kendrick Lamar teve o mesmo número em 2016, assim como Jon Batiste em 2022 — mas em ambos os casos, nem todas foram para o trabalho em um único álbum. Entre as de Lamar, por exemplo, estava uma por sua participação especial na música “Bad Blood” de Taylor Swift.
As indicações de ‘Thriller’
“Thriller” recebeu um total de 13 indicações ao Grammy, em 1984, com Michael Jackson citado em 11 delas. Das outras duas, uma foi para Bruce Swedien, o renomado engenheiro de som do álbum; e a outra para Quincy Jones e James Ingram, compositores da música “P.Y.T. (Pretty Young Thing)”, que concorreu como melhor canção de rhythm & blues. Num sinal do domínio completo naquele ano, duas outras canções de “Thriller” foram indicadas na mesma categoria: “Billie Jean” e “Wanna Be Startin’ Somethin’”. (“Billie Jean”, om Michael Jackson creditado como único compositor, venceu.)
No final, Jackson recebeu sete prêmios por “Thriller”, incluindo álbum do ano e gravação do ano (por “Beat It”). Swedien ganhou o de melhor gravação com engenharia de som, não clássica. Aquela noite foi um dos momentos mais icônicos de Jackson. Ele compareceu ao show com Brooke Shields e Emmanuel Lewis como convidados, e vestiu uma jaqueta azul e dourada brilhante de estilo militar, com uma luva de cristal sobre a mão direita.
Indicação extra por “E.T.”
Mas isso não foi tudo. Jackson narrou um álbum de trilha sonora para o filme “E.T, o Extra-Terrestre”, com música de John Williams — o que se tornou um pesadelo legal porque a MCA Records, que lançou o álbum “E.T.”, não tinha obtido a autorização necessária da gravadora de Jackson, Epic, para que ele aparecesse.
A Epic se recusou a fornecer essa autorização até que um acordo — ou seja, um grande pagamento — pudesse ser arranjado. “Isso durou meses, com advogados corporativos tagarelando como só eles sabem”, escreveu Quincy Jones em seu livro de memórias, “Q”. De acordo com ele, a Epic recebeu um adiantamento de US$ 500 mil pela permissão, e nem ele nem Jackson viram um centavo disso. No Grammy de 1984, o álbum “E.T.” ganhou o prêmio de melhor gravação para crianças — seu oitavo troféu da noite.
Dessa forma, Michael Jackson teve mais indicações no total em 1984, embora Beyoncé tenha empatado no número de indicações para um único álbum.
Asteriscos
No mundo do Grammy, no entanto, geralmente há asteriscos. As 12 indicações de Jackson em 1984 somam o maior número num único ano para qualquer artista até aquele momento. Mas, em 1997, o produtor e compositor de R&B Babyface empatou. Mas a comparação faz sentido?
Babyface — que já ganhou o Grammy de produtor do ano quatro vezes, um recorde — recebeu suas indicações naquele ano por projetos envolvendo vários artistas, incluindo Whitney Houston, Toni Braxton, Brandy e Eric Clapton. Em algumas categorias, Babyface trabalhou em vários títulos, o que limitou o número de prêmios que ele poderia ganhar. Ele terminou a noite com três vitórias.