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Líder indígena defende que transição ecológica só será completa com aumento na demarcação de terras

Por Tião Maia, ContilNet

Representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), reunidos na semana passada, no Rio de Janeiro, no chamado G20 Social, decidiram que qualquer modelo de transição ecológica precisa contemplar a demarcação de terras indígenas e a proteção das populações nativas contra invasores. Na plenária, a líder indígena Marciely Ayap Tupari citou a ameaça do Marco Temporal e criticou o projeto de exploração da Petrobras na Margem Equatorial no Amazonas.

“Os povos indígenas são 5% da população mundial, mas preservam 80% da biodiversidade de todo o planeta, graças tanto ao nosso conhecimento ancestral quanto ao sangue de nossos parentes derramados”, declarou a líder indígena Marciely Ayap Tupari.

Líder indígena defende que transição ecológica só será completa com aumento na demarcação de terras/Foto: ContilNet

Ela ressaltou também que os próprios indígenas vivem em harmonia com o meio ambiente e contribuíram no G20 Social, evento paralelo à Cúpula de Líderes do G20, que reúne as 19 maiores economias do planeta, além da União Europeia e da União Africana.

“A sustentabilidade, hoje colocada como solução, sempre foi colocada em prática por nós. Queremos que nosso conhecimento seja utilizado. As consequências que estamos sentindo hoje são resultado de ações de 20 anos atrás. O que vamos esperar nos próximos 20 anos? Será que estamos preocupados com as futuras gerações?”, declarou.

Em relação ao Marco Temporal, Tupari afirmou que a ameaça aos direitos dos povos indígenas continua avançando. Ela defendeu que o G20 Social considere a demarcação de terras como uma medida de enfrentamento às mudanças climáticas.

“Hoje, no Brasil, estamos sofrendo um retrocesso muito grande, principalmente no que diz respeito ao Marco Temporal. Estamos debatendo para que o Estado brasileiro coloque a demarcação das terras indígenas como uma pauta climática”, declarou.

Tupari cobrou não apenas o avanço nas demarcações, mas também a proteção das etnias, que, segundo ela, atuaram na linha de frente no combate aos invasores no governo anterior. “Não adianta apenas demarcar as terras indígenas. É preciso garantir a proteção desses povos. Precisamos olhar para os indígenas que estão na linha de frente, defendendo os territórios”, disse.

A representante da Apib também criticou a burocracia na concessão de financiamentos aos povos nativos. Segundo ela, o dinheiro prometido por organismos internacionais não chega à população indígena devido a restrições impostas tanto pelos bancos multilaterais quanto pelo governo brasileiro.

“A gente quer ter acesso a esses financiamentos que são destinados a nós, mas não conseguimos porque existe muita burocracia. Hoje, os movimentos indígenas estão criando fundos para tentar resolver esses problemas e acessar os financiamentos”, afirmou. “Nas COPs [Conferências das Nações Unidas sobre as mudanças climáticas], eles só criam fundos. A gente ouve muitas promessas, mas não vê nada acontecer”, garantiu.

A líder indígena também criticou o projeto da Petrobras de explorar a Margem Equatorial, uma área de grandes reservas de petróleo entre a costa do Rio Grande do Norte e a do Amapá, na Amazônia. A potencial exploração de petróleo na região, que inclui a foz do Rio Amazonas, é criticada por ambientalistas, que temem danos ambientais significativos.

“Hoje não temos mais como barrar o limite de 1,5°C de aquecimento global. Não podemos mais aumentar a extração de combustíveis fósseis. Se o Brasil quer vender a imagem de um país sustentável para o mundo, não pode explorar petróleo na Região Amazônica”, avaliou Tupari, sob aplausos da plateia.

A representante da Apib afirmou, ainda, que os movimentos indígenas estão mobilizados para defender seus direitos e se manifestar contrários à exploração da Margem Equatorial no próximo ano, durante a COP 30, em Belém, no Pará.

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