O Santos venceu o Coritiba por 2 a 0 nesta segunda (11) e voltou à Série A do Campeonato Brasileiro com antecedência. A noite é de festa, mas também de apreensão para saber se o Peixe aprendeu a lição após o inédito rebaixamento.
A Série B para os grandes clubes pode representar uma reconstrução e até uma reconexão com o torcedor. No caso do Peixe, a competição foi um martírio. E não há muito legado para 2025.
O presidente Marcelo Teixeira está desprestigiado, o técnico Fabio Carille é xingado até em vitórias, boa parte do elenco desagrada… Mas a vitória fora de casa deixa a torcida respirar aliviada por ver o Santos de volta à elite e com a esperança de que a Série B é coisa do passado.
O técnico criticado
A segunda passagem de Carille no Santos não deu muito certo, mesmo com o objetivo do acesso cumprido. Em 2022, o treinador chegou para deixar o Peixe na primeira divisão e conseguiu. Naquele momento, o desempenho não importava. Bastava pontuar o suficiente.
Desta vez, o torcedor santista esperava uma Série B de protagonismo, vitórias convincentes e revelação de novos jogadores após o vice-campeonato paulista contra o Palmeiras. Não foi isso que o campo mostrou.
O Santos jogou para o gasto, chegou a perder quatro seguidas e apostou pouco na base. Carille ouviu vaias nos estádios até nas vitórias e frases como “Não vou mudar o esquema tático” não pegaram bem.
A direção do Peixe pensou em demiti-lo algumas vezes, mas segurou a bronca, inclusive quando o Corinthians fez proposta. Naquele momento, Fabio Carille queria ir, só que o Timão hesitou e fechou com Ramón Díaz.
A relação entre Carille e o presidente Marcelo Teixeira piorou ao longo do caminho. Na reta final da temporada, eles apenas se toleram. E quem convive no dia a dia do clube espera um litígio pela frente.
O técnico tem cláusula de renovação automática pelo acesso, incluindo aumento salarial. Quebrar esse contrato não será fácil, nem barato, para o Santos. Mas o Peixe deve mexer no comando mesmo assim.
Carille, ainda que nessas condições, espera ficar. O treinador destacou o apoio dos atletas e disse que o clima hostil na Vila não é visto no dia a dia quando caminha pela cidade.
Estou tranquilo, vou para casa e faço caminhada. Gosto do Santos. O que vejo na rua eu não vejo no estádio. Torcedores me apoiam
Oi, sumidos
O Santos busca velhos conhecidos para 2025. As primeiras tentativas pelo técnico Jorge Sampaoli e o atacante Gabigol não funcionaram. Eles têm acertos encaminhados com Rennes (FRA) e Cruzeiro, respectivamente.
O presidente Marcelo Teixeira busca novas receitas e quer aumentar a folha salarial para o ano que vem. A intenção é trazer vários reforços na volta à Série A.
Dentre os sonhos da gestão estão Neymar e Paulo Henrique Ganso. O Peixe aguarda por uma possível rescisão de Neymar no Al-Hilal e tem uma sinalização positiva do craque.
Enquanto Marcelo Teixeira sonha, a realidade tem o Santos sem treinador definido, com problemas no elenco e nenhuma contratação garantida para o próximo ano. Clubes de maior orçamento já se movimentam.
20 vitórias
8 empates
8 derrotas
63% de aproveitamento
56 gols feitos
(melhor ataque)
28 gols sofridos
(2ª melhor defesa)
Acesso sem sustos
Líder da Série B, o Santos garantiu o acesso com duas rodadas de antecedência e tem o melhor ataque e a segunda melhor defesa.
Os números frios são bons, mas não convenceram a torcida. O jeito pragmático de Carille gerou uma enxurrada de críticas nos estádios e nas redes sociais.
O pior momento foi a sequência de quatro derrotas consecutivas entre maio e junho. O treinador balançou, o Corinthians demonstrou interesse na sequência e o trabalho quase foi interrompido. O Timão desistiu, e o treinador conseguiu retomar o caminho de resultados positivos no Peixe.
Esse desgaste, porém, nunca foi superado. Em 2022, o “1 a 0 tá bom” de Carille era uma piada engraçada. Hoje, as defesas aos resultados não são mais toleradas.
A repercussão negativa era tão grande que Fabio Carille por várias vezes pediu para não conceder entrevistas coletivas. Em uma delas, ele justificou que precisava “dar moral” para seus auxiliares e não compareceu. A torcida chiou, a direção reclamou e o comandante voltou, a contragosto, para os microfones.
Eu vou ser sempre muito direto e transparente: não sei de onde surgiu que o time está incomodado com Carille ou vestiário. Ele passa as informações. Fácil colocar a culpa no treinador. Nós assumimos a responsabilidade, e o treinador tem a confiança. Espero ter o torcedor ao lado e que entenda isso.
Entendo que todo mundo quer que a gente ganhe de goleada sempre. O Santos exige muito isso. Mas sabemos que não é um campeonato fácil. Não é fácil a Série B. Os resultados vieram. Chegamos na final do Paulista, estamos brigando na parte de cima da tabela. Os resultados falam por si.
Enquanto Carille não teve amparo da maior parte da torcida e quase foi demitido em mais de uma oportunidade, o elenco abraçou o treinador.
Os capitães Gil, Giuliano, Diego Pituca, João Schmidt e Giuliano defenderam o técnico internamente e também em manifestações públicas.
A maior parte dos atletas entende que o trabalho é bem feito e que uma mudança poderia ser prejudicial. O grupo vê em Carille um cara justo.
Esse afago a Carille, porém, não deve ser suficiente para a permanência. A diretoria crê que o desempenho poderia ter sido melhor e leva em consideração o descontentamento do torcedor.
Marcelo Teixeira voltou ao Santos com uma vitória acachapante nas urnas e a promessa de “limpar” o clube. A ideia era oxigenar o grupo e criar uma base para 2025 na Série A. Esse planejamento não foi cumprido.
A maioria das decisões não funcionou. Poucos continuarão. A última janela teve contratações que não agregaram em nada, como Laquintana, Billy Arce e o gambiano Yusupha Njie.
O maior exemplo é Patrick, ex-Atlético-MG. O Santos aceitou um empréstimo com obrigação de compra de R$ 5 milhões, além do salário de R$ 400 mil por mês. E o meio-campista é reserva dos reservas e mal joga.
Outro fato curioso foi a chegada de Rodrigo Ferreira, do Mirassol. O lateral-direito foi contratado pela provável saída de Hayner, que iria para o Vitória, mas a comoção nas redes sociais fez Hayner ser comprado junto ao Azuriz. No fim das contas, o Santos tentou e não conseguiu devolver Rodrigo Ferreira, ficou com Hayner, ambos decepcionaram e são reservas do garoto JP Chermont.
O Peixe ainda terá que lidar com os aumentos em 2025. Vários jogadores aceitaram redução salarial na Série B, mas passam a ganhar mais no ano que vem, como João Paulo, Tomás Rincón e Furch.
Dentre os poucos destaques estão o goleiro Gabriel Brazão, o lateral-esquerdo Escobar, o volante João Schmidt, o meia Giuliano e os atacantes Guilherme, Otero e Wendel, apesar dos altos e baixos.
Os garotos Jair, JP Chermont, Souza e Miguelito geram boa expectativa para 2025, assim como os já carimbados Luan Peres e Diego Pituca. Gil pode se aposentar. João Paulo retornará após grave lesão.
Quem fica?
O Santos precisa definir quem dos atletas com contrato até dezembro vai ficar. Os mais cotados são Giuliano, Willian Bigode, Aderlan, Otero e Serginho. Dentre os emprestados, Soteldo (Grêmio) poderia ser reintegrado se Sampaoli voltar. Os demais devem ser negociados novamente.
Quem sai?
O ex-capitão Alison mal jogou neste ano. Laquintana, Pedrinho e Renan devem sair. A lista de quem tem vínculo maior e não está garantido conta com Alex Nascimento, João Basso, Billy Arce, Diógenes, Hayner, Furch, Kevyson, Patrick, Rodrigo Ferreira, Sandry, Tomás Rincón e Yusupha Njie.
O presidente Marcelo Teixeira perdeu popularidade ao longo do ano e busca meios de se reconectar ao torcedor após a “goleada” a seu favor na eleição no fim do ano passado.
Um sinal disso é o Instagram de Teixeira. Quando o time ganha, o mandatário pede uma edição especial da Santos TV para publicar antes no seu perfil, atualiza o feed e libera comentários. Nas derrotas, comentários são limitados e os posts ficam escassos.
O Instagram foi utilizado até para uma enquete sobre onde o Santos deve enfrentar o CRB: Vila Belmiro ou Allianz Parque. No fim, será na Vila. Uma forma desesperada de apagar o descontrole após os 3 a 0 sobre o Vila Nova. Teixeira foi confrontado por torcedores e ameaçou um deles: “Eu vou te pegar, você não vai escapar”.
Multicampeão no passado, o dirigente agora lida com um ritmo totalmente diferente das redes sociais. Se entre 2000 e 2009 a preocupação era o rádio ou a televisão, atualmente hashtags têm poder. E essa gestão tomou várias decisões baseadas no termômetro do torcedor.
Em um primeiro momento, Teixeira teve receio de mexer muito nos departamentos e manteve nomes marcados pelo rebaixamento como o coordenador Alexandre Gallo, o auxiliar Marcelo Fernandes e o preparador de goleiros Arzul.
Durante o ano, chegou o CEO Paulo Bracks. Ele pediu tempo para fazer um raio-x do clube e já sugeriu mudanças significativas para 2025, em várias áreas do clube, assim como a ampliação do departamento de inteligência e a criação de um setor de psicologia.
Gallo pode sair. Há também sugestões de trocas em chefes da saúde, jurídico, administrativo, financeiro e comunicação. Marcelo Teixeira trouxe amigos e apoiadores de campanha para cargos estratégicos e vários processos do dia a dia do Santos não funcionam bem.
Se as mudanças sugeridas não forem contempladas, Bracks pedirá para sair. A carta branca prometida na contratação ainda não apareceu na prática.
Em 2025, o Santos deve ter novo técnico, novos dirigentes e novo elenco. Tudo novo de novo.