Túmulo de homem que jogou bomba no STF pode virar destino de romaria, diz Gilson Pescador

Confira o artigo de opinião do advogado Gilson Pescador

Enquanto a Polícia Federal, por seu núcleo anti-terrorismo, iniciava as investigações sobre o episódio ocorrido em Brasília-DF, no início da noite de 13 de novembro de 2024, quando um cidadão brasileiro detonou alguns fogos de artifício na Praça dos Três Poderes, algumas autoridades, e uma parte da imprensa, rapidamente, classificaram o ato como sendo de terrorismo, com ligação com a baderna danosa ocorrida no Congresso Nacional, na data de 08 de janeiro de 2024, e, obviamente, ao Presidente Jair Bolsonaro, já que, além de Francisco Wanderley Luiz ter sido filiado ao PL do município de Rio do Sul, Santa Catarina, distante 288 km de Tubarão (SC), terra da Fátima, não a Nossa Senhora, mas a Fátima de Tubarão, tudo que acontece de errado no país é culpa do Bolsonaro.

Dono de carro que explodiu em Brasília foi candidato a vereador pelo PL

Dono de carro que explodiu em Brasília foi candidato a vereador pelo PL/Foto: Reprodução

Se o nome Francisco até então nos lembrava apenas um santo, um ator galã, um jurista e um ambientalista famoso, agora nos remete também ao primeiro terrorista do Brasil. E, por ser do Brasil, precisava ser diferente. Tudo no Brasil é diferente dos outros países, até o terror.

O nosso terrorista, assustador, era um pré-sexagenário, careca e usava óculos. Informava seus possíveis ataques nas redes sociais, usava roupa de bolinhas e um arsenal de fogos de artifício longe de fazer inveja à torcida do Flamengo e do Corinthians. A torcida do Peñarol morre de rir. Os assaltantes semanais de caixas eletrônicos também não se sentiram intimidados, seguros de que as explosões do Tio França não lhes tiraria a primeira colocação nesta arte. Os organizadores do reveillon de Copacabana também não viram na exibição nada de lhes causar inveja ou na qual poderiam se inspirar.

A infelicidade de muitos é que o nosso terrorista morreu. Se auto aterrorizou. Não matou e nem feriu ninguém, senão a si mesmo. Se, por azar, tivesse sobrevivido, sentiria o verdadeiro terror.

Francisco Luiz, com o nome holandês Wan der ley no meio, é filho do Brasil, é fruto do Brasil. Em que pese a gravidade de seus atos, ele alcançou o que queria, com sua autoimolação. Passou para a história, e, no futuro, os professores mencionarão seu nome nas escolas, como vilão ou como herói. Não faltará aquele que vai propor uma estátua sua ao lado da estátua da Justiça, ou, na principal avenida de Rio do Sul.

Atentado em Brasília: homem usava roupa parecida com a do Coringa/Foto: Reprodução

Ao lançar seus traques na Praça dos Três (ou um) Poderes e no estacionamento de um dos anexos da Câmara Federal, o humilde chaveiro quis dizer para todos que está farto do perdão de dez bilhões de reais para a JBS, que a esperança que tinha num país melhor foi detonada pela absolvição dos terroristas da corrupção e da Lava Jato, que aquele encontro frequente em Portugal, do qual participam diversas autoridades, que para lá vão com dinheiro público, enquanto precisava esmerilhar chaves para sobreviver não dá mais, que um dos tribunais superiores gastar quase dezessete milhões de reais com passagens aéreas em dois anos, sem se entender qual o interesse público com tamanha despesa com o dinheiro dos contribuintes, que uma política que criou não só a geração NEM NEM (Nem estuda e Nem trabalha), agora atualizada para NEM NEM BET (Nem estuda, Nem Trabalha, Só aposta), que é leniente com as organizações criminosas já basta. Derramou.

É errado o que o Tio França fez, mas é preciso entender a mensagem que um pobre e honesto cidadão de Santa Catarina quis passar para seus compatriotas. A narrativa, mais uma, de que é um ato de terrorismo, e de que está ligado com o acontecimento de 08 de janeiro – longe de ser golpe – é pretender amedrontar e cegar os cidadãos para a barbaridade que está acontecendo no Brasil.

A estátua da Justiça no DF nem enxergou o traque que contra si foi lançado, um dos quais apagou no chão molhado da famosa praça, enquanto o outro lembrava a festa de São João. Certo que o gesto do chaveiro é de indignação da sociedade e ataque aos símbolos do Poder Judiciário, não à integridade física das autoridades, e que deve ser reprovado.

No entanto, não duvidem que o túmulo onde for sepultado se torne destino de romaria, mais adiante. E até ponto turístico. É melhor sumir com o corpo. Tio França parece ser mais perigoso morto do que vivo.

Gilson Pescador é advogado.

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