As Luas cheias ocorrem aproximadamente a cada 29 dias, quando o Sol brilha sobre a Lua diretamente de trás da Terra, iluminando toda a sua face.
A Lua cheia desta sexta-feira (15/11) será a última de uma série de quatro “superluas“, quando o satélite natural parece ser até 14% maior e 30% mais brilhante do que o normal.
As chamadas superluas ocorrem apenas três ou quatro vezes por ano e sempre aparecem de forma consecutiva.
Elas acontecem quando a Lua cheia coincide com o momento em que a Lua está no ponto mais próximo da Terra em sua órbita – o perigeu.
A Lua não gira numa órbita perfeitamente circular. Ela se afasta e se aproxima um pouco da Terra.
Quando está mais próxima, pode parecer um pouco mais brilhante e maior no céu noturno.
Mas sendo uma “super” ou não, a Lua cheia desempenhou um papel importante na formação de culturas e tradições ao redor do mundo.
Vamos explorar alguns dos mitos, das atividades e dos significados associados a esse fenômeno celeste.
Importância para os ancestrais
Os ritmos da Lua – com suas fases regulares de crescimento e diminuição, uma vez por mês – foram usados desde os tempos primitivos para medir o tempo.
Um exemplo disso é o osso de Ishango, encontrado em 1957 no que hoje é a República Democrática do Congo.
O osso, provavelmente retirado da tíbia de um babuíno e com mais de 20 mil anos, é considerado uma forma primitiva de calendário.
Descoberto por um geólogo belga, ele possui marcas distintas – algumas em forma de círculos ou semicírculos.
O arqueólogo Alexander Marshack, da Universidade de Harvard, sugeriu que essas marcas podem representar as diferentes fases da Lua, indicando que o osso pode ter sido usado como um calendário lunar de seis meses.
A Lua da Colheita é o nome dado à lua cheia mais próxima do equinócio de outono (no fim de setembro ou início de outubro, no hemisfério norte).
Nesta época do ano, a Lua nasce logo após o pôr do Sol, permitindo que agricultores colhessem suas plantações até tarde da noite sob a luz da Lua. Hoje em dia, claro, a maioria usa lâmpadas.
Festivais da Lua cheia
Na China, o Festival do Meio Outono, Zhongqiu Jie (também chamado de Festival da Lua), acontece no dia da Lua da Colheita e é feriado nacional. O festival remonta a 3 mil anos e era celebrado em antecipação a uma colheita abundante.
De forma semelhante, na Coreia, o festival de Chuseok é um evento de três dias realizado durante a Lua da Colheita. Famílias se reúnem para celebrar a colheita e agradecer aos ancestrais.
Na cultura hindu, os dias de Lua cheia, chamados Purnima, são marcados por jejuns e orações.
Kartik Purnima, realizado em novembro – o mês mais sagrado no calendário hindu – celebra a vitória do Senhor Shiva (um dos deuses supremos da religião) sobre o demônio Tripurasura e a primeira encarnação do Senhor Vishnu (deus responsável pela sustentação do universo) como Matsya.
Os rituais incluem banhos em rios e o acendimento de lâmpadas de barro.
Budistas acreditam que Buda nasceu sob uma Lua cheia há 2,5 mil anos. Eles também acreditam que ele alcançou a iluminação e faleceu sob a Lua cheia. Esses eventos são marcados pelo Buddha Purnima, que geralmente ocorre em um dia de Lua cheia em abril ou maio.
No Sri Lanka, a Lua cheia de cada mês é um feriado nacional, chamado Poya, quando a venda de álcool e carne é proibida.
Em Bali, a Lua cheia é marcada pelo Purnama, quando se acredita que deuses e deusas descem à Terra para abençoar. É uma época de orações, ofertas divinas e plantio de árvores frutíferas.
Muçulmanos são encorajados a jejuar por três dias em torno da Lua cheia, conhecidos como Dias Brancos ou Al-Ayyam al-Bid. Diz-se que o profeta Maomé jejuava nesses dias para agradecer a Alá (Deus) por iluminar as noites escuras.
No Cristianismo, a Páscoa é celebrada no primeiro domingo após a primeira Lua cheia que segue o equinócio da primavera (no hemisfério norte).
No México e em alguns países da América Latina, há um renascimento da “dança da Lua” indígena, na qual mulheres se reúnem na Lua cheia para dançar e adorar em um festival que dura três dias.
Mitos e lendas
Desde os tempos antigos na Europa, acreditava-se que a Lua cheia induzia loucura em algumas pessoas. A palavra “lunático” deriva de luna, a palavra latina para Lua.
A ideia de que a lua cheia desencadeia comportamentos incontroláveis deu origem ao mito dos lobisomens – humanos que se transformam involuntariamente em lobos e aterrorizam comunidades em noites de Lua cheia.
No século 4 a.C., o historiador grego Heródoto escreveu sobre uma tribo da Cítia (na atual Rússia) chamada Neuri, afirmando que seus membros se transformavam em lobos por vários dias todos os anos.
Na Europa, várias pessoas foram julgadas por serem lobisomens entre os séculos 15 e 17.
Um dos casos mais infames foi o de Peter Stubbe, um proprietário de terras na Alemanha em 1589. Caçadores locais alegaram tê-lo visto se transformar de lobo em humano.
Sob tortura, Peter confessou possuir um cinto mágico que usava para se transformar em lobisomem, permitindo que ele caçasse e comesse pessoas.
Como a Lua cheia afeta a vida cotidiana?
Estudos sugerem que, durante ou perto da Lua cheia, as pessoas demoram mais para adormecer, passam menos tempo em sono profundo, dormem por menos tempo e têm níveis mais baixos de melatonina – hormônio que ajuda no sono.
Participantes desses estudos relataram noites menos satisfatórias de sono, mesmo quando dormiam em quartos completamente vedados, sem serem incomodados pela luz da Lua cheia.
Muitos jardineiros plantam sementes e mudas na Lua cheia (como os balineses fazem durante o Purnama), acreditando que isso melhora o solo.
Quando há Lua cheia, a força gravitacional da Lua puxa de um lado da Terra enquanto a força gravitacional do Sol puxa do outro. Além de causar marés maiores, acredita-se que isso também traz mais umidade à superfície da Terra.
Animais são mais propensos a morder durante a Lua cheia, segundo um estudo realizado em Bradford, no Reino Unido, em 2000.
A pesquisa observou que, entre 1997 e 1999, o número de pacientes chegando ao hospital com ferimentos por mordidas de animais aumentou significativamente nos dias ao redor da Lua cheia.
Nenhuma mordida de lobisomem, entretanto, foi registrada.