Ofensiva rebelde em Homs altera dinâmica da guerra civil síria e agrava crise humanitária

A captura de Homs por forças rebeldes lideradas pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS) marcou um avanço significativo na longa e devastadora guerra civil síria. Em 7 de dezembro de 2024, os rebeldes adentraram a cidade, rompendo as defesas do regime de Bashar al-Assad. O episódio é mais uma reviravolta em um conflito que já causou a morte de mais de 500 mil pessoas e deslocou milhões de civis, enquanto redesenha o cenário geopolítico no Oriente Médio.

Bandeira Síria – Foto: TexBr / Shutterstock.com

Homs é um ponto estratégico, tanto militar quanto logístico. A cidade conecta a capital Damasco às regiões costeiras, onde estão localizadas bases militares russas em Tartus e Latakia. Este avanço ameaça diretamente as linhas de abastecimento do regime, isola a capital e intensifica as tensões entre os envolvidos no conflito. A vitória rebelde em Homs é resultado de uma campanha militar iniciada em novembro, denominada “Dissuasão da Agressão”, que respondeu aos bombardeios intensos do governo sírio em áreas controladas pela oposição.

A importância estratégica de Homs no conflito

Homs desempenha um papel central na dinâmica da guerra civil síria. Localizada em uma rota vital entre Damasco e o litoral mediterrâneo, a cidade tem sido alvo de disputas intensas desde os primeiros anos do conflito. Sua localização facilita o transporte de suprimentos, armas e reforços militares, tornando seu controle essencial para ambas as partes no conflito. Além disso, a proximidade com bases militares russas reforça sua importância no cenário geopolítico.

A queda de Homs para as forças rebeldes marca uma ruptura significativa na estrutura de poder do regime de Assad. A captura da cidade evidencia não apenas a fragilidade das defesas do governo, mas também os desafios logísticos que o regime enfrenta para manter sua posição em um território cada vez mais fragmentado. Para os rebeldes, o controle de Homs representa uma plataforma estratégica para expandir suas operações em direção a Damasco, colocando o regime sob pressão ainda maior.

A resposta militar e política da Rússia

A Rússia, principal aliada de Assad, intensificou suas operações militares em resposta à ofensiva rebelde. Ataques aéreos foram conduzidos nas províncias de Aleppo e Idlib, visando posições do HTS, postos de comando e armazéns de armamentos. De acordo com fontes russas, as operações resultaram na morte de centenas de combatentes rebeldes, mas ainda não foram suficientes para reverter os avanços significativos das forças opositoras.

Além das ações militares, o Kremlin reafirmou seu compromisso político com o regime sírio. O presidente russo Vladimir Putin destacou a importância de manter a integridade territorial da Síria e garantiu apoio contínuo ao governo de Assad. No entanto, a eficácia desse apoio está sendo testada em um momento em que os recursos militares e diplomáticos da Rússia estão sobrecarregados devido à guerra na Ucrânia.

Os desafios enfrentados pelos aliados de Assad

A queda de Homs ocorre em um momento de fragilidade para os aliados de Assad. O Irã, um dos principais apoiadores do regime, enfrenta dificuldades crescentes devido às sanções internacionais e ao envolvimento em outros conflitos regionais, como a recente escalada de tensões em Gaza. O Hezbollah, tradicionalmente um pilar de apoio militar para Assad, também tem enfrentado limitações devido à redistribuição de recursos para combater em outras frentes.

Essa diminuição na capacidade de apoio dos aliados enfraquece ainda mais a posição do regime sírio, criando uma abertura para que os rebeldes consolidem seus ganhos territoriais. A redistribuição de forças do Hezbollah, por exemplo, tem permitido aos rebeldes avançar em áreas anteriormente fortemente defendidas, como Homs, sem encontrar resistência significativa.

A crise humanitária em Homs

O impacto humano da captura de Homs é devastador. Milhares de civis foram deslocados, enquanto aqueles que permanecem na cidade enfrentam uma crise humanitária crescente. A destruição de infraestrutura essencial, como hospitais, escolas e redes de abastecimento de água, agravou as condições de vida. Além disso, a insegurança persistente dificulta os esforços de organizações humanitárias para fornecer assistência às populações mais vulneráveis.

A situação em Homs é um reflexo do sofrimento generalizado que a guerra civil síria tem infligido à sua população. Desde o início do conflito em 2011, mais de 13 milhões de pessoas foram deslocadas, incluindo cerca de 6,8 milhões que fugiram para países vizinhos como Turquia, Líbano e Jordânia. Essas populações enfrentam desafios contínuos, incluindo falta de acesso a serviços básicos e discriminação em países de acolhimento.

Os números por trás da guerra

A guerra civil síria é uma das crises humanitárias mais devastadoras do século XXI. Com mais de 500 mil mortes confirmadas, o conflito gerou uma destruição massiva de infraestrutura e uma crise econômica que reduziu o PIB da Síria para menos da metade de seu valor antes da guerra. Estima-se que o custo da reconstrução do país ultrapasse os 400 bilhões de dólares, um desafio colossal em um cenário de instabilidade persistente.

Homs, que já abrigou mais de um milhão de habitantes, agora é uma cidade fantasma. A destruição em massa de edifícios e serviços essenciais transformou a cidade em um símbolo da devastação causada pelo conflito. A reconstrução de Homs, assim como de outras áreas gravemente afetadas, exigirá um esforço coordenado da comunidade internacional, que enfrenta suas próprias limitações financeiras e políticas.

As implicações regionais do conflito

O avanço rebelde em Homs reflete não apenas a dinâmica interna da guerra civil síria, mas também suas implicações regionais. A instabilidade na Síria tem exacerbado tensões em todo o Oriente Médio, influenciando conflitos em países vizinhos e redesenhando alianças políticas e militares. Além disso, a presença de grupos jihadistas como o HTS levanta preocupações sobre o impacto de longo prazo do conflito na segurança regional e global.

A captura de Homs também destaca a complexidade do envolvimento internacional na guerra civil síria. Enquanto países como Rússia e Irã apoiam o regime de Assad, outros, incluindo os Estados Unidos e membros da União Europeia, têm expressado preocupação com a crescente influência de grupos jihadistas na oposição. Essa divisão reflete os desafios de encontrar uma solução política para o conflito que atenda às diversas e frequentemente conflitantes agendas dos atores envolvidos.

Impacto no cenário político global

O conflito sírio é um microcosmo das tensões geopolíticas globais, envolvendo grandes potências como Rússia, Estados Unidos e Irã em uma disputa por influência na região. A captura de Homs pelos rebeldes ocorre em um momento em que as relações internacionais estão marcadas por rivalidades intensas, como a guerra na Ucrânia e a escalada de tensões entre Israel e o Hezbollah.

Essas dinâmicas globais complicam ainda mais os esforços para estabilizar a Síria. Enquanto a comunidade internacional luta para gerenciar as consequências do conflito, a população síria continua a sofrer as consequências de uma guerra prolongada que parece longe de terminar.

Os desafios da reconstrução

Reconstruir Homs e outras áreas devastadas pelo conflito será uma tarefa monumental. Além dos danos físicos, o tecido social da cidade foi severamente afetado, com comunidades inteiras deslocadas e relações interpessoais destruídas. O retorno de refugiados e deslocados internos será crucial para revitalizar a economia local, mas isso exigirá um ambiente seguro e estável, algo que ainda está fora de alcance no atual contexto da guerra civil.

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