O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, que escapou de sofrer impeachment neste sábado por uma manobra do partido governista, é um ex-promotor e outsider político que ficou conhecido como “campeão das gafes” durante a campanha presidencial, em 2022. Ele estava sob risco de deposição depois de decretar lei marcial na terça-feira, sob o pretexto de proteger o país das “forças comunistas”, o que gerou forte disputa com a oposição no Parlamento e protestos com milhares de pessoas.
Em 2023, num dos episódios que rodaram o mundo com o presidente como protagonista, Yoon surpreendeu o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ao cantar a música “American Pie”, de Don McLean, no fim de sua visita à Casa Branca. O momento foi aplaudido pelos participantes do jantar de Estado promovido pelo democrata para o líder sul-coreano.
Biden aproveitou o momento e brincou com Yoon:
— Nós sabemos que esta é uma de suas canções favoritas — disse o democrata. — Queremos ouvir você cantar.
— Já faz um tempo, mas… — complementou Yoon, com uma resistência simbólica enquanto pegava o microfone.
O presidente sul-coreano cantou as primeiras estrofes da música à capela, o que provocou muitos aplausos, inclusive de Biden e da primeira-dama Jill Biden.
Eleito em uma votação decidida por menos de um ponto percentual de diferença, Yoon contou, desde o início do mandato, com uma oposição ferrenha do Partido Democrático, que barrou muitas de duas iniciativas parlamentares — após as eleições de abril, quando os oposicionistas mantiveram a maioria na Casa, o presidente passou a ser apelidado de “pato manco”, um político que ainda tem tempo de mandato à frente mas que tem poucos poderes na mão.
Além da falta de resultados de governo, Yoon, que na campanha ficou conhecido como um “campeão das gafes”, enfrentou uma quantidade considerável de escândalos e polêmicas.
Em outubro de 2022, meses depois de tomar posse, 159 pessoas morreram pisoteadas no popular bairro de Itaewon, em Seul, durante uma comemoração do Dia das Bruxas. Seu governo foi acusado de não fazer o suficiente para apoiar as famílias das vítimas, e em janeiro deste ano ele vetou uma lei que autorizava uma nova investigação da tragédia.
Em fevereiro do ano passado, o Parlamento aprovou o impeachment do então ministro do Interior, Lee Sang-min, afirmando que ele deveria assumir a responsabilidade pelas mortes, mas a decisão foi revertida em julho do mesmo ano pela Justiça.
No pronunciamento desta terça-feira, Yoon criticou os pedidos de afastamento de integrantes de seu governo, afirmando que “ é uma situação que não é apenas sem precedentes em qualquer país do mundo, mas também completamente sem precedentes desde a fundação do nosso país”.
Combate à corrupção
Yoon Seok-yeol fez fama como promotor em grandes casos de corrupção, incluindo o da própria ex-presidente Park Geun-hye, afastada do cargo em 2017 e presa. Em 2017, participou do processo que levou mais um ex-presidente conservador para a cadeia: Lee Myung-bak. Seu apoio entre os progressistas aumentou nesse período, e foi essencial para o próximo e mais importante passo.
Em 2019, Moon Jae-in, entusiasmado por suas visões de reforma no Judiciário, o indicou para procurador-geral, uma decisão que até hoje assombra o atual presidente. Uma vez no cargo, Yoon passou a investigar integrantes do governo, como o ministro da Justiça, Cho Kuk, que deixou o ministério meses depois. A mudança de rumo colocou seu nome no radar dos conservadores.
A ascensão meteórica não durou muito — em boa parte, por culpa do próprio Yoon: o ex-promotor rapidamente ganhou o apelido de “Uma gafe por dia”, por conta de suas declarações desastradas. No final de 2021, ele fez comentários que sugeriam uma glorificação do ex-ditador Chun Doo-hwan (1980-1988), condenado à morte (sentença posteriormente revista) pela participação no Massacre de Gwangju, em 1980, quando centenas de manifestantes pró-democracia foram executados.
Em julho daquele ano, Yoon se filiou ao PPP, sua primeira experiência política, e se apresentou como pré-candidato, desafiando nomes tradicionais, como o congressista Hong Joon-pyo. Depois de primárias marcadas por duros ataques pessoais, Yoon se beneficiou das regras do partido, que priorizavam a opinião do chamado “núcleo duro”, mais favorável ao seu nome, e foi confirmado como candidato.