Quanto tempo duram as sobras da ceia de Natal? Cerca de três dias, mas há exceções

O manejo no preparo e ao servir definem muito do que será ou não aproveitado no pós-ceia

Transformar sobras das ceias de Natal e de Ano Novo em refeições prontas e saborosas para os dias após as festas é uma tradição na mesa brasileira. Saber o que pode ser guardado e como armazenar, porém, faz muita diferença para a durabilidade dos alimentos e, principalmente, para garantir a saúde da família e evitar mal-estar nesta época do ano.

Não espere sentir o odor forte ou avaliar se o alimento está bom ou não devido sua aparência/Foto: Reprodução

De acordo com especialistas em segurança alimentar, o manejo no preparo e ao servir definem muito do que será ou não aproveitado no pós-ceia. Não espere sentir o odor forte ou avaliar se o alimento está bom ou não devido sua aparência, dizem. “A maioria dos agentes contaminantes não altera o cheiro ou o aspecto do alimento”, afirma a médica Adriana Abud, consultora em cultura da segurança dos alimentos e sustentabilidade.

Abud, que atua há mais de 20 anos junto à indústria e ao varejo alimentar, diz que mesmo em casa o cuidado deve continuar. “Preparações como assados e farofas devem ser consumidas até dois dias após as datas das festas, desde que mantidas sob refrigeração”, diz ela.

Se congelados, o descongelamento precisa ser feito de um dia para o outro e dentro da geladeira. Alimentos quentes que ficam expostos nas mesas como decoração (ou sobre o fogão) por mais de duas horas ou que tenham sido muito manipulados podem ficar comprometidos com a multiplicação de micro-organismos, gerando o risco de intoxicação alimentar.

Nessas condições, os pratos devem ser descartados, assim como alimentos com alterações visíveis de textura, cor ou cheiro, e que tenham sido feitos com ovo cru ou laticínios não pasteurizados.

A nutricionista Maria Cacau Zeoti, especialista em gestão de negócios em serviços de alimentação e tecnologia dos alimentos, diz que as normas sanitárias brasileiras para serviço de alimentação estabelecem que o ideal é que alimentos prontos sejam armazenados e consumidos em até três dias.

De acordo com resoluções da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as temperaturas seguras para comidas são até 4°C ou acima de 60 °C. “Atenção especial a carnes e aves com molho ou recheio, pois têm alta propensão ao crescimento microbiano, como salmonella”, diz a profissional.

Alimentos com maionese ou creme de leite, como salpicão e sobremesas, devem ser consumidos em até um dia após preparados, e frutos do mar, se muito bem conservados no processo, em até dois dias.

Zeoti, que é integrante do Núcleo Tecmentar Segurança dos Alimentos da Associação Comercial e Industrial de Ribeirão Preto pela Nutrire RP, recomenda que se evite recongelar o que já foi descongelado, pois além do risco de contaminação, os alimentos podem perdem qualidade sensorial na textura e sabor.

“É essencial separar os alimentos crus dos prontos para consumo. Carnes cruas devem ser colocadas na parte inferior da geladeira, em recipientes bem vedados, para evitar que líquidos contaminem outros itens. Frutas, saladas e sobremesas devem ficar nas prateleiras superiores, longe de possíveis fontes de contaminação”, declara.

Do preparo ao próximo dia

O cuidado para se ter um alimento seguro começa ainda no pré-preparo. Isso inclui higienizar frutas e legumes em solução de um litro de água para duas colheres de sobremesa de água sanitária (escolha o produto que trouxer no rótulo descrição de ser apropriado para a descontaminação de alimentos).

Também é necessário lavar utensílios, mesas e a pia. “Uma dica muito prática é colocar duas colheres de sopa de água sanitária no detergente e aplicar essa mistura com um pano limpo umedecido para fazer essa limpeza prévia que reduz os contaminantes das superfícies”, sugere a médica.

Lavar as mãos várias vezes durante o preparo e na hora de guardar as sobras é outro conselho. Certifique-se ainda que cada prato seja servido com utensílios únicos.

“Guarde porções pequenas em recipientes limpos, bem vedados e, se possível, identificados com informações como: o que é, quando foi preparado e qual a data de validade”, diz Zeoti. Nessas condições, é possível armazenar os alimentos no congelador (a -18°C) por até 3 meses.

Para evitar o desperdício

Segundo Abud, listar o número de convidados e planejar o cardápio da ceia “sem a crença de que fartura é bonito'” é a melhor forma de fugir do desperdício de alimentos nesta época do ano.

“Opte por entradas de petiscos como amendoins e salgadinhos, que combinam com as bebidas sem gerar saciedade. Monte as saladas com folhas e legumes deixando os molhos separados, assim não murcham e não perdem as propriedades nutricionais”, sugere a médica.

Zeoti diz que é possível calcular uma média de 300g de comida por pessoa. Se a comida for muita, vale montar marmitas para os convidados levarem, e, assim, reduzir o volume a ser armazenado. “Congele qualquer sobra o mais rápido possível, [em especial] o que não será consumido em breve”, diz ela.

Reaquecendo as sobras

O pós-ceia também demanda cuidado. “Ao reaquecer os alimentos das ceias, opte por servir refrigerado e montar os pratos individualmente, usando o micro-ondas na função média-alta por dois a três minutos, garantindo um aquecimento completo e uniforme”, aconselha Abud.

A médica destaca ainda que se o alimento for bem preparado, servido e conservado, pode se tornar uma nova receita no dia seguinte. Algumas opções são fazer um arroz cremoso do arroz branco, uma macarronada com molho branco ou vermelho com as sobras de legumes e carnes, um escondidinho de carnes desfiadas ou uma salada caprichada com tender ou peru em lascas.

“Leguminosas podem ser reaproveitadas em sopas ou saladas e o panetone em pudins ou rabanadas”, sugere a nutricionista.

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