Três bebês morrem de frio em acampamento para deslocados na Faixa de Gaza em menos de uma semana

Desde o início da guerra, em outubro de 2023, cerca de 14,5 mil crianças foram mortas em Gaza; agência da ONU indica que uma criança é morta a cada hora no enclave

Pelo menos três bebês recém-nascidos morreram de frio em um acampamento de deslocados palestinos no sul da Faixa de Gaza, disse o diretor-geral do Ministério da Saúde do enclave na quarta-feira. A área em que os casos foram registrados, al-Mawasi, é uma região costeira a oeste de Rafah, anteriormente designada por Israel como uma “área humanitária”, embora hoje seja alvo frequente de ataques. Milhares de civis deslocados se mudaram para lá em busca de refúgio, vivendo por meses em tendas improvisadas feitas de tecido e nylon.

Homem segura criança ferida após bombardeio a campo de refugiado no hospital al-Quds, em Gaza — Foto: MAHMUD HAMS / AFP

Sela Mahmoud al-Fasih “morreu congelada devido ao frio extremo”, escreveu no X Munir al-Bursh, o diretor-geral do órgão de Saúde palestino. Imagens da CNN em al-Mawasi mostraram o pequeno corpo de Sela envolto em um sudário branco enquanto seu pai, Mahmoud al-Fasih, de 31 anos, a segurava. Em outro momento, um grupo de jovens se ajoelha ao lado de seu túmulo. As imagens feitas pela rede americana mostraram que o rosto da bebê de três semanas havia ficado azul.

— (Sela) morreu de frio — disse sua mãe, Nariman al-Fasih, à CNN. — Eu estava aquecendo e segurando ela. Mas nós não tínhamos roupas extras para me ajudar a aquecer essa menina.

Num intervalo de apenas 48 horas, segundo Ahmed al-Farra, chefe de pediatria e obstetrícia do Hospital Nasser, em Khan Younis, dois bebês — um com três dias de vida e outro com um mês — morreram na Faixa de Gaza devido às baixas temperaturas. Na terça-feira, a agência das Nações Unidas para refugiados palestinos (UNRWA) afirmou que, desde o início da guerra, em outubro de 2023, cerca de 14,5 mil crianças foram mortas no enclave. Citando dados da Unicef, o órgão indicou que uma criança é morta a cada hora no território palestino.

Em junho, o mesmo órgão afirmou que, em média, dez crianças perdem uma ou ambas as pernas diariamente em Gaza. Os dados alarmantes, segundo o chefe da UNRWA, Philippe Lazzarini, não incluem menores que perderam um braço ou uma mão. O sistema de saúde de Gaza está mal preparado para lidar com isso, e muitos dos hospitais da região foram completamente desativados. Outros se mantêm com faltas de suprimentos como anestésicos e antibióticos. Cirurgiões dizem que a falta de suprimentos e a escala de feridos os forçam a amputar membros que, em outros lugares, poderiam ser salvos.

— São dez por dia, ou seja, cerca de 2 mil crianças após mais de 260 dias dessa guerra brutal — enfatizou Lazzarini à época. — Também sabemos que a maioria das amputações é realizada em condições horríveis e, às vezes, sem anestesia. Isso também se aplica às crianças.

Ele citou um relatório, publicado no mesmo mês pela ONG Save the Children, que estima que 21 mil crianças estão desaparecidas por causa do conflito — seja porque estão enterradas sob escombros ou em sepulturas não identificadas, porque estão presas ou porque perderam contato com a família. Ainda que os números sejam difíceis de coletar e verificar, há pelo menos 17 mil crianças desacompanhadas, e 4 mil provavelmente desaparecidas sob os escombros, diz a organização.

A ofensiva de Israel, lançada após o ataque liderado pelo Hamas em 7 de outubro, devastou bairros de Gaza, eliminou famílias inteiras e gerou uma crise humanitária de fome, deslocamento e doenças. Mais de 45 mil palestinos foram mortos e 107 mil ficaram feridos, relatou o Ministério da Saúde local na segunda-feira.

Apenas 20% das unidades neonatais estão operacionais em Gaza, e bebês prematuros estão morrendo devido à falta de suprimentos médicos, e os profissionais são forçados a priorizar casos na tentativa de salvar vidas infantis, segundo al-Farra, o chefe de pediatria e obstetrícia. A Unicef alertou que muitas crianças deslocadas em Gaza vestem pouco mais do que as roupas do corpo — depois de terem fugido dos bombardeios de Israel com roupas de verão, no início deste ano.

“Por mais de 14 meses, as crianças têm estado na linha de frente deste pesadelo. Em Gaza, a realidade para mais de um milhão de crianças é de medo, privação extrema e sofrimento inimaginável”, disse Rosalia Bollen, especialista em comunicação da Unicef, em comunicado no dia 20 de dezembro. “A guerra contra crianças em Gaza é um lembrete de nossa responsabilidade coletiva. Uma geração de crianças está enfrentando a violação brutal de seus direitos e a destruição de seus futuros”.

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