Descongestionantes nasais parecem ser grandes aliados para aliviar a sensação de entupimento do nariz causada por alergias ou resfriados, principalmente durante épocas mais frias e secas do ano. Apesar disso, porém, se cuidados necessários não forem tomados, esses facilitadores podem fazer o papel de grandes vilões e trazer riscos à saúde.
De danos a estruturas do nariz a danos ao coração e ao sistema nervoso, problemas causados pelo uso em excesso e indiscriminado de descongestionantes, principalmente quando feito sem prescrição médica, preocupa profissionais de saúde.
Conforme explica a otorrinolaringologista Marcela Suman ao Correio, os descongestionantes nasais são medicamentos que fecham os vasos sanguíneos. Segundo ela, o nariz é um órgão muito vascularizado e, assim, “quando os vasos sanguíneos se comprimem, no espaço ocupado por sangue acaba sendo possível passar ar”.
É desta forma, portanto, que o paciente sente a respiração melhorar momentaneamente. Marcela alerta, porém, que o custo, no que diz respeito ao “prejuízo da mucosa nasal e de todos os efeitos sistêmicos” que os descongestionantes causam, é “muito alto”.
Tecidos e estruturas internas do nariz são desgastados e comprometidos devido à exposição a substâncias como oximetazolina e nafazolina, presentes em muitos desses produtos. Essas substâncias provocam, com o uso contínuo, “uma perda de função da mucosa nasal, causando uma rugosidade dessa mucosa por falta de nutrição e por falta de oxigênio, justamente pela constrição dos vasos sanguíneos”.
Dessa forma, diz Marcela, “o nariz não consegue fazer adequadamente o aquecimento, a filtração e a umidificação do ar, que são as funções próprias dele”; e “a mucosa nasal fica pálida, enrugada e sem função”.
Portanto, apesar de oferecerem alívio, os descongestionantes, se usados de forma indiscriminada, aumentam o risco de desenvolvimento de rinite medicamentosa — a ampliação da cavidade do nariz — e faz com que a congestão aumente ainda mais. Seria como um “ciclo de dependência”, semelhante aos causados por usos de substâncias ilícitas.
“Mesmo que o paciente respire, ele tem a sensação de não estar respirando, porque os receptores da mucosa ficam também inativos”, explica a otorrinolaringologista. Ela diz também que, como o nariz é um órgão muito vascularizado, esses medicamentos vão diretamente para a corrente sanguínea e causam efeitos no sistema nervoso.
“Inicia com o aumento da frequência cardíaca, a taquicardia, podendo chegar ao aumento da pressão arterial, irritabilidade, insônia, casos mais graves e arritmias que podem ser malignas, podendo causar morte súbita até mesmo dormindo, além dos efeitos neurológicos também”, alerta. “É um medicamento usado no nariz, mas que consequentemente traz efeitos sistêmicos.”
Depois de um tempo de uso excessivo, Marcela explica que o organismo deixa de responder ao medicamento, o que faz com o que o paciente, sem sentir melhora, abuse ainda mais da substância.
Assim, o principal cuidado ao utilizar descongestionantes nasais é ficar atento ao tempo e à frequência de uso, sempre com intervalos longos. “Nós, médicos especialistas, prescrevemos, para casos de sangramento nasal ou pós-operatório recente, por no máximo cinco a sete dias, por no máximo quatro vezes ao dia, não ultrapassando essa dose.”
Viciei, e agora?
Por serem vendidos sem necessidade de receita, os descongestionantes nasais são perigosos se utilizados sem o devidos prescrição e acompanhamento médicos. “É um medicamento que não deveria ser liberado pela compra”, diz Marcela.
Caso o paciente já se considere viciado no produto, a otorrinolaringologista recomenda um “esquema de retirada”, que consiste em “escolher um único frasquinho do medicamento e desprezar todos os demais; diluir esse frasco com soro fisiológico e usar o mínimo possível; quando chegar na metade, rediluir com soro fisiológico e usar o mínimo possível” e repetir essas ações. Ela também recomenda que se inicie tratamento adequado com especialista.