A Praça de São Marcos em Veneza pode receber mais turistas do que pombos, Barcelona viu a agressão contra turistas atingir um pico febril e os caminhos no topo dos penhascos em Cinque Terre, na Itália, podem parecer uma fila de supermercado.
No entanto, além desses (e outros) pontos turísticos, há lugares igualmente ricos em cultura, mas sem multidões. Ao redor do mundo, há cidades clamando por turistas e trilhas para caminhadas onde você não verá uma alma o dia todo.
Embora muitas vezes ouçamos sobre as forças destrutivas do turismo em grandes destinos culturais, para países menos desenvolvidos, o dinheiro que o turismo traz ajuda a construir infraestrutura e espaços comunitários muito necessários.
Ele oferece empregos e treinamento e dá aos moradores a chance de compartilhar com orgulho a cultura e as tradições de seu país. Bem administrado, o turismo pode ser fonte de um fluxo econômico enriquecedor, reunindo as pessoas em torno de valores e experiências compartilhados.
Esses quatro destinos são apenas alguns dos que estão usando o turismo como ferramenta para construir economias mais fortes e recebendo os viajantes de braços abertos.
Groenlândia
Com um novo aeroporto internacional abrindo na capital, Nuuk, no final deste ano, além de outra pista de pouso internacional chegando na capital turística do norte, Ilulissat, em 2026, a Groenlândia está se preparando para receber um número crescente de visitantes.
Essas inaugurações marcam uma virada no turismo groenlandês: até o momento, suas pistas internacionais não eram longas o suficiente para receber aeronaves maiores. Quem chegava no país até então era encaminhado a Kangerlussuaq, uma antiga base militar dos EUA, e depois transportado em um avião menor pelos destinos domésticos.
A nova infraestrutura significará que não apenas mais turistas poderão voar diretamente para a capital. Em um país onde muito do que é consumido é importado, mais mercadorias poderão entrar no país, ao passo que uma maior quantidade de produtos locais, como os frutos-do-mar, poderão ser exportados, levando a um impulso econômico para todo o país.
O turismo é uma forma de pagar pelo desenvolvimento do aeroporto, bem como fornecer empregos e estabilidade para o futuro.
A Groenlândia tem explorado o turismo de aventura, que inclui desde escalada no leste do país até observação de baleias e acampamento na camada de gelo, e o astroturismo – observação de estrelas e, em particular, da aurora boreal.
Atrair pessoas para lugares onde o sol mal brilha no pico do inverno – e onde as temperaturas podem cair para -50 °C – pode parecer um desafio, mas o país fez disso uma virtude, abrindo cabines com vista para o céu e iglus para experiências impressionantes focadas na aurora.
Tanny Por, chefe de relações internacionais da Visit Greenland, faz questão de enfatizar que não é uma questão de quantidade no lugar de qualidade, observando que a meta do país é que 80% da população veja o turismo como algo que oferece uma contribuição positiva para a sociedade.
“Os aeroportos custam muito, então temos que incentivar muitos turistas a virem”, disse ela, “mas faremos isso de forma equilibrada, para não atropelar a população local”.
Por acabou de retornar de uma viagem para analisar oportunidades de viagem no norte da Groenlândia, que será acessível por voos internacionais diretos a partir de 2026, quando a nova pista em Ilulissat for inaugurada.
“Fui a uma pequena cidade de mil habitantes, Qasigiannguit, e foi fantástico”, disse ela. “Há bois-almiscarados no interior, encenações históricas no museu local e tantas baleias! Eu as ouvi antes de vê-las do meu quarto, e elas estavam em todos os lugares onde estivemos”.
Marrocos
Marrocos é outra nação interessada em receber mais visitantes internacionais, à medida que continua desenvolvendo sua infraestrutura turística e construindo novos hotéis antes da Copa do Mundo de 2030, que será co-sediada pela Espanha e Portugal.
O país do Norte da África vê o torneio como uma oportunidade para impulsionar o turismo e espera dobrar o número de visitantes até 2030, para 26 milhões de visitantes anuais.
Estima-se que o país precisará de cem mil quartos extras, no mínimo, para acomodar os torcedores e times de futebol visitantes. Por isso, muitas redes de hotéis internacionais estão entrando em cena para suprir esse déficit. Uma série de novas acomodações serão abertas em todo o país como resultado, do Waldorf Astoria em Tânger a 25 novos hotéis Radisson que devem abrir antes de 2030, junto com muitos que reabriram após o terremoto devastador do ano passado.
Barbara Podbial é consultora especialista em Marrocos na agência de viagens Flee Winter e visita o país há mais de 20 anos. Ela viu em primeira mão a diferença que o investimento em turismo fez no país.
“O turismo teve um impacto positivo em Marrakech”, disse ela. “Você pode ver isso na limpeza das ruas, é muito seguro e as pessoas não estão pressionando você a comprar coisas agora do jeito que era antes. Mas, com tantos voos baratos trazendo turistas, pode parecer muito movimentado.”
Aumentar os voos para Marrakech certamente faz parte do plano quando se trata de desenvolver a indústria do turismo do Marrocos, então é improvável que a cidade fique mais tranquila tão cedo.
Quando se trata da Copa do Mundo, no entanto, os holofotes recairão sobre as cidades menos visitadas do país – Casablanca, Agadir, Fez, Rabat e Tânger – onde os estádios estão sendo reformados, o turismo está sendo mais desenvolvido e hotéis estão sendo construídos.
Destes locais, Barbara recomenda Fez, a capital cultural do Marrocos, que tem a maior medina do mundo e não é muito turística. Também indica passeios de um dia de Agadir, um destino popular de férias em pacote, para Taroudant, apelidada de “pequena Marrakech”.
“É uma curta distância de carro de Agadir e é uma cidade autêntica e não turística”, disse ela.
Também perto de Agadir, a costa perto da vila de pescadores de Taghazout oferece aulas de surfe em praias arenosas, enquanto aqueles que planejam uma viagem para Marrakesh também podem incluir uma excursão às montanhas do Alto Atlas, a algumas horas de carro.
Com a ênfase sendo colocada no desenvolvimento de grandes cidades no Marrocos, o segredo para umas férias autênticas lá pode muito bem ser usá-las como base para descobrir pontos menos visitados nas proximidades.
Sérvia
A Sérvia não precisa ir muito longe para se inspirar em um caso de sucesso: na vizinha Croácia, o turismo tem sido um sucesso estrondoso.
Enquanto a cidade de Dubrovnik tem tido problemas com o turismo excessivo, entretanto, a Sérvia está se concentrando no desenvolvimento sustentável, trabalhando com o Global Sustainable Tourism Council para desenvolver projetos que não incentivem o turismo de massa, mas busquem um caminho mais sensível e voltado para a cultura.
Isso ocorre em parte porque a estratégia de promoção turismo do país mudou. No passado, o foco era principalmente nas experiências urbanas, por exemplo, em Belgrado.
No entanto, com a percepção de que o turismo pode ajudar a diversificar os meios de subsistência rurais e melhorar as economias locais, o turismo de montanha, o turismo rural e as ofertas de spa e bem-estar ganharam relevância.
“Na Sérvia, as pessoas veem a palavra ‘turista’ como algo positivo”, disse George Colvin-Slee, consultor especialista em Sérvia na Cox & Kings.
“É um lugar desconhecido para muitas pessoas – enviamos mais pessoas para a Albânia e a Bósnia –, com alguns lugares realmente impressionantes.”
As montanhas do país atraem esquiadores no inverno e amantes de trilhas no verão; o ecoturismo está se desenvolvendo nas colinas, assim como a observação de pássaros; e fontes naturais alimentam resorts e hotéis.
E enquanto os turistas aproveitam essas experiências repletas de natureza, os negócios locais estão ganhando impulso, assim como o nível de emprego. Em 2023, o número de visitantes estrangeiros no país cresceu 20%.
Colvin-Slee recomenda visitar Novi Sad, a segunda cidade do país. “Há uma herança dos Habsburgos nesta região, então você encontrará prédios ‘de caixa de chocolate’ como em Praga e Budapeste, mas quase ninguém lá em termos de turistas. A comida também tem influência austríaca – strudel e goulash – e há alguns pontos turísticos excelentes, incluindo a Fortaleza Petrovaradin, apelidada de ‘Gibraltar do Danúbio’.”
Geórgia
A Geórgia, que faz fronteira com a Turquia, Rússia e Azerbaijão pelo Mar Negro, tem grandes planos para atrair de visitantes com deficiência e viajantes independentes até turistas de cruzeiros, com um vasto porto em Batumi, a segunda cidade do país.
Seu novo programa de desenvolvimento de 10 anos abrange desde a criação de sinalização internacional para que os turistas possam navegar pelo país sozinhos até a melhoria da acessibilidade, transporte público e portos de navios de cruzeiro à medida que ele se abre.
“O turismo é relativamente novo na Geórgia”, disse Natalie Fordham, especialista em Geórgia na Wild Frontiers, uma operadora de turismo especializada em destinos incomuns e aventureiros.
“A carreira é relativamente nova também, mas já vemos guias realmente fantásticos como resultado. Eles estão super animados para fazer parte disso, falam inglês muito bem e aprendem a se adaptar a pessoas diferentes. Muitos de nossos viajantes fazem amizade com eles e querem voltar.”
Como uma nação em desenvolvimento, algumas das coisas que você pode tomar como certas na Europa Ocidental – como uma extensa rede de estradas pavimentadas – ainda não estão lá. No entanto, há esperança de que a receita do turismo ajude a impulsionar esses tipos de iniciativas de infraestrutura.
“Tbilisi é minha capital favorita no mundo”, disse Fordham, “com charmosas ruas de paralelepípedos, uma estética real, antigas muralhas de fortaleza, museus e muito mais. Então você tem cidades-cavernas, arquitetura e história soviéticas — Stalin nasceu aqui — e as montanhas do norte e do sul, igrejas e mosteiros da Unesco, e uma próspera cena de vinho e comida. Há tanto para ver que você precisa de uma viagem de pelo menos uma semana.”