Arroz envenenado provoca tragédia no Piauí com quatro mortos e cinco hospitalizados

As autoridades trabalham com a hipótese de que o veneno foi inserido no arroz no dia 1º de janeiro

Uma tragédia sem precedentes abalou uma família no Piauí após o consumo de arroz contaminado com uma substância tóxica. O caso, que ocorreu em Parnaíba, no litoral do estado, resultou em quatro mortes, incluindo uma mãe e dois de seus filhos pequenos, além de seu irmão.

Outros cinco familiares foram hospitalizados, sendo que uma criança de quatro anos permanece internada em estado delicado. O episódio, que chocou a comunidade local, levanta questões sobre segurança alimentar e crimes premeditados envolvendo o uso de venenos altamente tóxicos.

Francisca Maria da Silva, de 32 anos, a filha Lauane da Silva, de 3, o filho Igno Davi da Silva, de 1, e o irmão Manoel Leandro da Silva, de 18, morreram após comer arroz envenenado/Foto: Montagem/g1

O Instituto de Medicina Legal (IML) confirmou que o arroz consumido pela família estava contaminado com terbufós, um inseticida de alta toxicidade amplamente utilizado na agricultura. A polícia trata o caso como homicídio intencional, com fortes indícios de que o veneno foi colocado deliberadamente no alimento. A investigação está em curso para determinar como o veneno chegou à comida e identificar os responsáveis por esse crime que destruiu uma família.

Francisca Maria da Silva, de 32 anos, foi a quarta vítima confirmada após lutar pela vida no Hospital Estadual Dirceu Arcoverde (HEDA). Além dela, seus filhos Igno Davi, de um ano e oito meses, e Lauane, de três anos, morreram pouco depois do envenenamento, assim como seu irmão, Manoel Leandro, de 18 anos. A tragédia aconteceu em meio a um almoço de família no dia 1º de janeiro de 2025, marcando um início de ano trágico e alarmante.

Investigações e hipóteses sobre o envenenamento

As autoridades trabalham com a hipótese de que o veneno foi inserido no arroz no dia 1º de janeiro, pois o mesmo prato foi consumido pela família durante o Réveillon sem que ninguém apresentasse sintomas. O delegado responsável pelo caso, Abimael Silva, afirmou que a quantidade de veneno detectada no arroz era suficiente para causar os graves efeitos observados. A substância estava visível em grânulos, espalhados por todo o baião de dois consumido no almoço.

Os exames realizados no peixe doado à família, que inicialmente levantou suspeitas, não encontraram qualquer vestígio de contaminação. Esse resultado isenta o casal que realizou a doação, e a polícia foca agora em descobrir como e por quem o veneno foi inserido na comida. A suspeita de que alguém da própria família ou uma pessoa próxima tenha cometido o crime adiciona complexidade à investigação.

Histórico trágico da família

Esta não foi a primeira vez que a família de Francisca Maria enfrentou uma tragédia envolvendo envenenamento. Em agosto de 2024, dois de seus filhos, de sete e oito anos, morreram após consumir cajus contaminados com a mesma substância, o terbufós. Naquela ocasião, uma vizinha foi apontada como responsável pelo crime e atualmente responde por duplo homicídio qualificado. As semelhanças entre os casos levantam questões sobre a segurança e os riscos enfrentados pela família, que parece estar sob uma série de ataques premeditados.

Francisca, que já havia perdido dois filhos em circunstâncias semelhantes, lutou bravamente por sua vida até sua morte no dia 7 de janeiro de 2025. Seu falecimento intensificou a dor de uma família que, em poucos meses, viu a vida de quatro de seus membros ser brutalmente interrompida.

Impacto do terbufós e sua toxicidade

O terbufós, identificado como o veneno utilizado no arroz contaminado, é um inseticida da classe dos organofosforados. Embora seja amplamente utilizado na agricultura para controle de pragas, seu uso inadequado representa um risco significativo para a saúde humana. Ele age interrompendo a comunicação entre nervos e músculos, causando sintomas como tremores, convulsões, falta de ar e, em casos graves, morte.

Especialistas alertam que a ingestão de pequenas quantidades de terbufós pode ser suficiente para causar efeitos severos, especialmente em crianças e idosos. No Brasil, o uso desse tipo de inseticida é regulamentado, mas o acesso ilícito e sua aplicação em crimes destacam a necessidade de maior controle sobre sua comercialização e armazenamento.

Cronologia dos eventos e reações iniciais

Na noite de 31 de dezembro de 2024, a família preparou uma ceia para comemorar o Réveillon, que incluía baião de dois, feijão tropeiro e carne. O prato principal, o baião de dois, foi consumido sem que ninguém apresentasse sintomas. No dia seguinte, as sobras foram reaproveitadas no almoço, junto com peixes doados por um casal da região. Poucos minutos após a refeição, os primeiros sinais de envenenamento começaram a aparecer.

Dos nove membros da família que participaram do almoço, quatro morreram e cinco foram hospitalizados. O caso rapidamente chamou a atenção da polícia e da comunidade local, que reagiu com consternação e pedidos por justiça. A comoção foi intensificada pelas mortes trágicas e pelo histórico de perseguição enfrentado pela família.

Vítimas e sobreviventes do envenenamento

As vítimas fatais confirmadas até o momento incluem:

  • Francisca Maria da Silva, de 32 anos, mãe de cinco filhos e irmã de Manoel Leandro.
  • Igno Davi da Silva, de 1 ano e 8 meses, filho mais novo de Francisca.
  • Lauane da Silva, de 3 anos, filha de Francisca.
  • Manoel Leandro da Silva, de 18 anos, irmão mais novo de Francisca.

Uma menina de quatro anos, filha de Francisca, segue hospitalizada em Teresina, enquanto os outros familiares já receberam alta médica após apresentarem melhora.

O papel da perícia e o avanço das investigações

A perícia desempenhou um papel crucial na identificação do veneno e na exclusão de hipóteses iniciais, como a contaminação do peixe doado. O laudo do IML confirmou que o veneno foi inserido no arroz em um momento posterior à sua preparação inicial, reforçando a hipótese de um ato intencional.

O delegado Abimael Silva destacou que o crime foi premeditado e que o veneno não chegou à comida de forma acidental. A polícia trabalha agora para identificar possíveis suspeitos e descobrir as motivações por trás do envenenamento. O caso é tratado como homicídio qualificado, dada a clara intenção de causar dano à família.

Reflexões e impacto social do caso

A tragédia vivida pela família de Francisca Maria gerou uma onda de solidariedade e reflexão em todo o país. Casos como este destacam a vulnerabilidade de comunidades que enfrentam condições econômicas e sociais adversas, além de expor a necessidade de políticas públicas mais rigorosas para proteger famílias em situações de risco.

Especialistas em segurança alimentar e saúde pública alertam que o acesso irrestrito a substâncias tóxicas representa um perigo significativo para a sociedade. Medidas preventivas, como o fortalecimento da fiscalização sobre o uso de inseticidas e a ampliação de campanhas de conscientização, são consideradas essenciais para evitar tragédias semelhantes.

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