Gestos em fotos nas redes sociais podem levar à morte por facções; relembre casos no Acre

O delegado se referiu a dois casos de execução que foram associados a vídeos e fotos nas redes sociais das vítimas

Postar uma foto ou um vídeo nas redes sociais hoje pode representar a decretação de sua morte, a depender de qual sinal ou gesto você faz, pois a pessoa pode ser confundida com um faccionado e ter sua morte decretada pela facção criminosa rival.

Esta situação, imposta pelas facções criminosas em todo o Brasil, tem causado revolta e medo em pessoas que não fazem parte do crime organizado. Um simples sinal de vitória ou legal, feito com os dedos, e a vítima pode ser confundida com uma integrante, por exemplo, e ser executada pela facção rival.

“As organizações criminosas de todo o Brasil, não importa a estrutura, não importa o porte, via de regra elas têm todo um conjunto de ações de grande volume, já que elas se conectam não só no Brasil, mas internacionalmente. Elas utilizam códigos de comunicação para interação entre seus integrantes”, explicou o delegado Robert Alencar em entrevista ao ContilNet.

Robert destacou que a exposição excessiva nas redes sociais do cidadão e, principalmente, a utilização de gestos e sinais, que muitas vezes são similares aos das organizações criminosas, podem trazer algum tipo de situação específica, como essas duas que aconteceram em Rio Branco e em várias outras cidades do Brasil.

“Delegado Robert Alencar alerta sobre os perigos da exposição nas redes sociais e o uso de gestos que podem ser confundidos com símbolos de facções criminosas/Foto: Reprodução

O delegado se referiu a dois casos de execução que foram associados a vídeos e fotos nas redes sociais das vítimas.

Em março de 2024, o jogador de futebol profissional Thiago Oséas Tavares da Silva, de 18 anos, foi sequestrado e executado a tiros após participar de uma festa na Travessa do Recreio, no bairro Santa Inês, na região do Segundo Distrito de Rio Branco.

Segundo a denúncia, o motivo do crime teria sido uma fotografia encontrada no celular de Thiago, que mostrava um símbolo de uma facção rival. O grupo criminoso interpretou o gesto como uma demonstração de apoio a uma facção rival, o que teria motivado a execução, mas os amigos disseram se tratar apenas de um V, de vitória.

Outro caso foi do adolescente Junior Henrique, estudante da Escola Antônia Fernandes, no bairro Santa Inês, mas que morava na região do Amapá. O jovem estava saindo da escola quando foi chamado por membros de uma facção que domina o bairro Santa Inês, para falar sobre uma live que o rapaz fez e que apareceu fazendo o símbolo “2” com os dedos.

Thiago Oséas, jovem jogador de futebol, perdeu a vida após ser confundido com integrante de facção criminosa por causa de uma foto nas redes sociais/Foto: Reprodução

Além da possível morte decretada, outras ações criminosas podem ser praticadas contra as vítimas, como extorsões, chantagens e ameaças, por parte dos integrantes das facções criminosas.

“A polícia Civil, de forma geral e não só aqui no Acre, orienta que as pessoas tentem evitar, além da exposição excessiva, o uso de gestos ou sinais dessa natureza em vídeos, postagens e fotos,” alertou Robert.

Um vídeo divulgado amplamente nas redes sociais mostra um indivíduo cobrindo o rosto e informando quais sinais e gestos são proibidos pela população que não pertence ao crime, sob pena de sofrerem as consequências, caso publiquem em suas redes sociais.

A Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada, tem investigado na tentativa de identificar quem são e de onde são vazadas essas mídias.

“A gente tem todo trabalho de monitoramento e ações preventivas que são exercidas de forma conjunta pela Delegacia de Repressão a Organização Criminosa – DRACO, Departamento de Inteligência da Polícia Civil e também o laboratório nacional de operações cibernéticas. O mundo cibernético não é uma terra sem lei. Nós conseguimos sim rastrear”, destacou Robert Alencar.

Mesmo com as investigações, a polícia alerta que a melhor solução é a prevenção.

Gestos aparentemente inofensivos podem ser interpretados como símbolos de facções criminosas. Polícia alerta para os riscos de compartilhá-los nas redes sociais/Foto: Reprodução

“Principalmente o tipo de vídeo que você posta e é um vídeo em tom educativo, se é um vídeo com tom de ironia, e tudo isso é analisado. Não só o gesto em si”, alertou. “Todo cuidado é pouco no mundo cibernético, o que se fala e com o que se utiliza de sinais, porque pode gerar uma repercussão. O mais importante é que as pessoas tenham consciência de que têm que agir conforme as regras sociais aceitáveis e evitar essas consequências, que não é uma circunstância que está fora do controle estatal.”

Em caso de denúncias, o cidadão deve se dirigir à delegacia mais próxima e registrar um boletim de ocorrência.

“A polícia tem feito esse trabalho, acompanhando, mas a gente não consegue dar conta de tudo o que acontece nas conversas e no mundo privado das redes sociais e também dos apps de mensagens, então é importante que as pessoas procurem a delegacia para que sejam tomadas as providências cabíveis e evitar o pior, como aconteceu nos dois casos citados”, finalizou Robert Alencar.

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