“Divórcio cinzento ou grisalho”: o aumento das separações de casais depois de 50 anos de casados

Dados do IBGE revelam aumento e o fenômeno que começou nos EUA chegou ao Brasil; Pesquisadores querem descobrir a razão

O divórcio após 50 anos de casados tem se tornado mais comum nas últimas décadas no Brasil, revelam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).

A média mostra que a separação entre pessoas acima de 50 anos e com muitos anos de casadas cresceu 28% entre 2000 e 2010, um aumento maior do que o registrado entre casais mais jovens. O fenômeno já ganhou até nomes específicos como “divórcio cinzento” ou “divórcio grisalho”.

“Divórcio cinzento ou grisalho”: o aumento das separações de casais depois de 50 anos de casados. Foto: Reprodução

De acordo com levantamento junto a cartórios em todo o país, até há pouco tempo, esses divórcios eram relativamente raros. Mas, ao que tudo indica, com o envelhecimento da população e as mudanças sociais, tornaram-se cada vez mais frequentes. Tanto que já existem especialistas investigando as causas para compreendê-las melhor.

Sociólogos e estudiosos especializados em fenómenos demográficos deram até um nome a esses casos: “divórcios cinzentos”. Não há nada escrito sobre o amor – e sobre o desgosto também não.

Há quem termine o casamento poucos anos após dizer “sim”, quem faça isso depois de décadas e quem assine os papéis do divórcio após os 60 anos, quando ambos os cônjuges já têm cabelos grisalhos.

Em 2004, o termo já era utilizado pela Associação Americana de Aposentados (AARP) e, em 2012, pesquisadores da Bowling Green State University chegaram a falar em uma “revolução cinzenta do divórcio”.

Desde então, o tema tem atraído cada vez mais atenção de especialistas. Hoje, a expressão é amplamente discutida em estudos e artigos, incluindo um extenso relatório publicado recentemente, que busca investigar as causas desse fenómeno crescente, principalmente no Brasil.

Nos EUA, a taxa de divórcios entre adultos com pelo menos 50 anos mais, duplicou em apenas duas décadas. Em 2010, quase 25% das separações já podiam ser classificadas como “divórcios cinzentos”.

Apesar de alguns especialistas terem observado que sua incidência estabilizou ou até diminuiu após a pandemia do coronavírus, quase 40% das pessoas que decidem dissolver seus casamentos nos EUA ainda têm mais de 50 anos. O Brasil caminha para rumos parecidos.

Aliás, o fenómeno não é exclusivo dos EUA. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam insights interessantes sobre o que está acontecendo na Espanha. Por exemplo, quase um terço (32%) dos divórcios registados em 2023 foram de casais casados há duas décadas.

Outro fato relevante é que, embora a maioria das separações ocorra entre cônjuges na faixa dos quarenta (40 a 49 anos), a idade média para o divórcio tem aumentado nos últimos anos, aproximando-se dos 50.

Entre os homens, a média já está próxima dos 49 anos. O INE estima que, nas últimas três décadas, os divórcios de casais com mais de 50 anos tenham aumentado cerca de 40%.

A grande questão não tem uma resposta única. Além das mudanças nas relações individuais, a sociedade como um todo mudou, envelhecendo cada vez mais em regiões como a Europa e os EUA. Se considerarmos que a idade média dos americanos tem aumentado desde a década de 1970 e que a população com mais de 64 anos não parou de crescer, é natural que haja mais divórcios envolvendo casais dessa faixa etária.

Pesquisadores identificaram que os divórcios tardios tendem a ser o resultado de processos longos e complexos, geralmente divididos em duas fases. A primeira é um período prolongado de convivência marcada pela distância emocional. A segunda ocorre quando se toma a decisão final pela separação, um ponto de inflexão influenciado por fatores como problemas financeiros, infidelidade, má comunicação ou mudanças comportamentais.

Outro fenómeno curioso é o dos múltiplos divórcios cinzentos, em que pessoas se casam novamente após um divórcio ocorrido depois dos 50 anos. Estudos da Bowling Green State University apontam que 8,5% dos homens que passam por um divórcio cinzento enfrentam processos semelhantes novamente. Entre as mulheres, a taxa é ligeiramente menor, 6,5%.

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