“Recomendamos às famílias que não permitam, ou que evitem que seus filhos tragam celulares para a escola”, é o que diz o comunicado de uma escola particular de Belo Horizonte a dois dias do início do ano letivo de 2025. A recomendação da instituição segue a risca a lei 15.100, de 13 de janeiro de 2025 – que restringe o uso de celulares nas escolas brasileiras.
Sancionada pelo presidente Lula, a medida tem sido bem vista por muitos profissionais da educação, mas é percebida por alunos, principalmente os adolescentes, como um absurdo. “Como que vou avisar meus pais que eu cheguei? Como vou fazer o Pix para comprar lanche? Isso é ridículo, eu não vou entregar meu celular”, é a fala de uma adolescente em um vídeo publicado nas redes sociais.
Em contraponto aos estudantes, os educadores entendem que a medida é crucial para que os alunos possam absorver melhor os conteúdos das salas de aula e consigam aprender e socializar adequadamente. “A proibição é beneficial para a aprendizagem e para a convivência social dos alunos. Reduzindo distrações, os estudantes se concentram melhor nos conteúdos pedagógicos e interagem mais com colegas, fortalecendo habilidades sociais essenciais”, aponta o supervisor de Ensino Médio do Colégio Santo Agostinho, Gabriel Verdin.
Pai de duas meninas, uma de 16 anos e outra de 13, Rafael Marcos, também vê a nova norma com bons olhos. “O uso excessivo tem sido cada vez mais preocupante com os nossos jovens e, até mesmo, adultos. Para piorar, nossos jovens têm maior facilidade em se viciar sem nem perceber”, reflete o engenheiro eletricista.
Dificuldade de concentração
Um dos grandes pontos que faz o celular ser considerado um aspecto crítico nas escolas, é que o dispositivo está associado a diminuição da capacidade de concentração de crianças e adolescentes. “Estudos indicam que o uso excessivo de telas compromete a leitura, o pensamento crítico e até a empatia, impactando o desenvolvimento cognitivo e emocional dos jovens”, aponta Verdin.
Na convivência com as adolescentes, Rafael consegue ver a influência dos celulares na vida das jovens. Ele e a esposa restringem o tempo de uso do dispositivo por semana e permitem que as jovens administrem como vão utilizar o tempo disponível. Contudo, apesar dos esforços, a família de Rafael sente na pele os danos causados pelo uso de telas.
“Houve uma vez que uma delas excedeu o limite de uso, e quando fomos conferir, ela deveria ficar o resto da semana o celular. O que aconteceu é que ela ficou extremamente nervosa e ansiosa”, conta o Engenheiro Eletricista.
Verdin esclarece que situações como essas comuns no início do processo de ‘desconexão’ dos estudantes. “Alguns alunos podem sentir dificuldade em se desconectar e em encontrar outras formas de entretenimento e interação social. O diálogo com as famílias será essencial para esclarecer os benefícios dessa medida e garantir que ela seja compreendida e apoiada”, informa.
Regras e diálogo entre escola e família
A advogada Flávia Campos, tem dois filhos, um deles é adolescente. Ela vê nas regras, tanto na escola, quanto em casa, como uma solução para diminuir as implicações negativas do celular na vida dos filhos. “Ele tem acesso a uma ferramenta que dá muito acesso à informação e, às vezes, a conteúdos que não são adequados e apropriados para determinadas idades. Aqui em casa ele segue regras bem rígidas para qualquer tipo de eletrônico, tem horário e os sites bloqueados”.
Embora Rafael e Flávia percebam os riscos da exposição excessiva dos dispositivos, Verdin explica que não são todos os pais que concordam com a medida. “Muitos ainda não têm total consciência dos impactos negativos do uso excessivo de telas e podem considerar essa regra como uma restrição exagerada. Para alguns responsáveis, o celular é visto como uma ferramenta essencial para garantir a segurança dos filhos e acompanhar sua rotina, o que pode gerar resistência à mudança. Porém, o ambiente virtual pode trazer vários prejuízos se não houver uma orientação adequada”, pontua o educador.
Para Verdin, o diálogo entre as famílias é o aspecto crucial para que a implementação das restrições sejam menos traumáticas para as crianças e adolescentes. “É necessário reforçar os laços de parceria e confiança entre família e escola para que os benefícios da proibição sejam percebidos pelos responsáveis e pelos alunos. Vamos promover espaços de diálogo para explicar os efeitos do uso excessivo de telas e demonstrar como a restrição pode contribuir para um melhor desempenho acadêmico e social dos alunos”, conclui o professor.