A professora aposentada Maria Isabel Sabino Fernandes, 48 anos, que vem fazendo uma série de denúncias contra o ex-marido Maurílio José Reis, 70 anos, e outros dirigentes da Colônia Cinco Mil e Céu do Mapiá, instituições cujos membros praticam a doutrina do Santo Daime, começou a receber apoio do poder público.
VEJA MAIS: Ex-esposa acusa dirigente do Santo Daime de pedofilia e tráfico de mulheres
Técnicos da Secretaria de Estado da Mulher (Semulher) e do CAV (Centro de Atendimento à Vítima) do Ministério Público do Estado do Acre (MPAC) entraram em contato com ela nesta segunda-feira (6) e lhe ofereceram apoio psicológico e outros tipos de ajuda.
A mulher reafirmou as denúncias e acrescentou mais informações sobre tráfico internacional de mulheres e acrescentou que o Iceflu (Igreja do Centro Eclético da Fluente Luz Universal), que comanda igrejas daimistas em todo o Brasil e em alguns países da Europa, tem envolvimento ou é omisso em relação ao que vem acontecendo e que ela denuncia desde 2018.
Segundo ela, o Iceflu, do qual faz parte seu ex-marido Maurílio José Reis, também participa de uma rede de pedofilia praticada por dirigentes das igrejas daimistas e de promover casamentos com mulheres da doutrina com milionários estrangeiros, o que, em tese, caracterizaria tráfico humano.
“Esses casamentos são arranjados por dinheiro. As mulheres vítimas, de famílias muito pobres, aceitam esses casamentos para saírem da miséria, e quem promove o casamento acaba ganhando dinheiro, muito dinheiro, como é o caso de Maurílio José Reis”, disse Maia Isabel, em entrevista gravada pelo ContilNet.
“Eu não quero saber de marido milionário. Não estou à venda e não sou sua mercadoria. Eu quero você, mas já que você não quer, dane-se! – teria dito a professora diante de uma proposta do então marido para lhe arranjar um casamento com um homem rico do exterior.
As denúncias da mulher, desta vez, versam sobre o tráfico de mulheres e casamentos arranjados por Maurilio José no exterior.
A seguir, os principais trechos de sua nova entrevista sobre o caso:
A senhora tem conhecimento dos casamentos arranjados no exterior a partir do tráfico de influência e de mulheres ligadas à doutrina do Santo Daime?
Maria Isabel – Os casos sobre os quais tive conhecimento foi através dele mesmo, o Maurílio José Reis, quando ele me ofereceu também para me casar com alguém ligado a ele e ao Daime no exterior. Mostrava as condições em que viviam mulheres que ele conseguia enviar para o exterior para esses casamentos, como forma de também me convencer a aceitar. Foi quando eu tive aquela reação de dizer que não era mercadoria dele, como as outras. O esquema é assim: ele casa a mulher com um milionário no exterior, e as coloca para chefiar uma igreja daimista na cidade e na região em que estiver a mulher e seu marido, geralmente alguém também seguidor da doutrina, para manter o esquema de daime, abrindo uma igreja local, que é chamada de ponto, onde ele vai buscar dinheiro com a venda do Daime e ao mesmo tempo ganhando pela venda das mulheres.
Como foi a proposta que ele lhe fez?
Maria Isabel – Ele me disse que, se eu ficasse calada e fosse obediente, eu teria tudo o que Saori teve, um casamento milionário no Japão e a partir daí ela passou a ser a dirigente de igreja que mandava mais dinheiro para o Iceflu.
E quem é Saori?
Maria Isabel – Uma japonesa que ele conheceu no Japão, que hoje mora na Austrália, com o marido dela, um homem chamado Riuske, que foi preso junto com ela por tráfico de drogas e tiveram que deixar o Japão com vergonha. Maurílio conheceu Saori quando ela era muito pobre lá no Japão e então passou a ter caso com ela por mais de 20 anos. Ele me contou que pegou ela bem novinha, bem pobrezinha e passou a ajudar ela. Como ela era muito obediente, segundo ele, além de terem um caso amoroso, ele acabou por arranjar a ela um casamento rico. Eu denuncio esse tráfico internacional desde 2018 e isso já repercutiu na França, na Espanha e no Japão, onde houve prisões feitas pela Interpol de pessoas envolvidas e que são ligadas a Maurílio.
Enquanto no exterior os envolvidos com essa rede foram presas, no Brasil o Maurílio José Reis nunca foi incomodado e continua a cometer seus crimes. Saori, que inicialmente era vítima, terminou também sendo presa por tráfico de drogas vendidas junto com o Daime. O fato é que Maurílio fez vítimas em todos os países do mundo onde ele foi levar a doutrina do Daime. No Japão, inclusive. Além dessa Saori, há outro caso que ele me contou, com uma mulher de nome Takako. Pelo que ele me falou, essa Takako foi vítima dele desde os 20 anos de idade. Faz 35 anos que ele viaja para o Japão. Ele foi um dos primeiros a levar a doutrina do Daime no Japão, há 35 anos.
Segundo ele, já vendeu mais de 5 mil litros de Daime no Japão e ganhou mais de 5 milhões de dólares com essas vendas de Daime lá. Por isso, se tornou um homem poderoso no Japão e arranjou essas duas amantes das quais ele mesmo me falou e depois de usá-las, acabou entregando-as para milionários. No caso da Saori para um milionário lá mesmo do Japão, e no caso da Takako, ele agenciou para um francês, um mestre da Yoga, que estava doente. Maurílio pediu para ela cuidar dele, casar e ter direito à herança do homem. Quando o francês morreu, a mulher teria ficado com a herança para dar meio milhão de dólares para ele. Ela casou-se com outro homem após a morte do primeiro marido e esteve aqui na Cinco Mil em junho de 2018, quando houve um encontro de seguidores da doutrina de várias partes do mudo.
Onde ele fez a proposta de casar a senhora com um milionário?
Maria Isabel – Foi no Japão. Após uma turnê que a gente fez por Israel e Espanha, até o Japão. Ele tem fetiche em suruba e em possuir as mulheres dos amigos e me convidava para essas coisas e eu reagia de forma contrária. A situação no Japão só não foi pior porque havia uma filha minha, a mais nova, que nos acompanhava.
Tem mais mulheres além das duas japonesas que a senhora citou?
Maria Isabel – Além da Takako e da Saori, há o caso da Marinês, que é esposa do Claude, que também foi preso e depois passou para prisão domiciliar, por causa do Daime na França. A Marinês é brasileira, daqui do Acre Eu tenho certeza de que Marines também era amante dele e a técnica dele é oferecer casamentos com homens ricos como prêmio, para elas ficarem de boca calada. Ele arranjou esse casamento para ter vantagens financeiras do Claude e em relação a ela, ele a convenceu de que, além de casar com milionário, ela seria uma espécie de rainha e chefe da igreja do Daime na França. “O que tu vai perder casando com um milionário?”, disse ele para convencer a Marinês e ela aceitou se casar com Claude. Esse Claude é tão poderoso que, quando ele, Maurílio, foi preso por pedofilia na França, ele conseguiu soltá-lo. As três meninas que ele havia levado para a França e foi preso por causa disso, eram do Céu do Mapiá. Uma dessas meninas, que voltou da França para Rio Branco, foi assassinada no bairro Alto Alegre, perto da casa de onde mora Maurílio. Isso foi ele que me disse, como forma de ameaça. Ele falou o termo “engano” com os dedos em aspas, insinuando ter tido participação na morte. A menina, cujo nome eu não sei, era filha de uma senhora conhecida como Dona Sena, do Céu do Mapiá.
Tenho informações de que Marinês é uma espécie de escrava deste homem, vive infeliz, não teve filhos. Ele casou Marinês com esse Claude mesmo passando por cima do melhor amigo dele, de nome Marcial Galeize, que é dono da Pousada do Mar, em barra de Guaratiba, no Rio de Janeiro, que viu a mulher que ele amava ser vendida para um milionário do exterior mesmo depois de tudo o que ele fez pela doutrina.
Você tem conhecimento desses três casos no exterior. E no Brasil, há registros disso?
Maria Isabel – No Brasil, sei do caso da Daniela, que casou com o Marcão, um milionário de Minas Gerais, que já morreu e deixou a mulher milionária. Mas, agora, Daniela odeia Maurílio e, embora ele seja patrono da igreja Flor de Jagube, cujo nome oficial é o dele, Maurílio José Reis, lá ele não pode entrar porque Daniela descobriu as coisas erradas que ele faz. Há os casos de ainda a Cintia e a Sueli, que eram amantes de Apolo Gazel, um médico cirurgião de Minas Gerais. Essas duas mulheres foram passadas a Apollo por Maurílio. Assim como no caso da menina por engano no bairro Alto Alegre, em Rio Branco, no caso de Apollo há também uma morte estranha, a dele mesmo, após um acidente na garagem de sua casa, atropelado pelo próprio carro, quando ele iria abrir o portão. Tudo coisa que, a meu ver, a polícia precisa investigar.