O delegado da Polícia Civil (PCDF) Mikhail Rocha e Menezes, 46 anos, acusado de atirar em três mulheres — incluindo a esposa — permanece internado na ala psiquiátrica do Hospital de Base (HBB). O Correio obteve informações sobre a evolução do quadro do servidor público, que está sob escolta de três agentes.
Mikhail deu entrada no HBB no dia em que foi preso pela Polícia Militar (PMDF), na noite de quinta-feira (16/1), após ser conduzido à Divisão de Controle e Custódia de Presos (DCCP). “Durante a triagem, ele foi avaliado por um médico da unidade, que recomendou encaminhamento à ala psiquiátrica do HBB. Atualmente, o custodiado permanece sob supervisão médica com escolta policial”, informou a PCDF oficialmente.

Mikhail Rocha foi levado para a ala psiquiátrica do Hospital de Base de Brasília/Foto: Reprodução/TV Band
O Correio apurou que, na noite desse domingo (19/1), Mikhail não apresentou intercorrências e não apresentou conduta delirante ou alucinatória durante a avaliação. Outra informação é de que o delegado tem dito, regularmente, estar arrependido do fato e questionado sobre o estado de saúde da enfermeira Priscila Pessoa, 45, uma das baleadas.
O crime
Na quinta-feira pela manhã, Mikhail atirou contra a esposa, Andréa Rodrigues Machado, 40, e contra a empregada doméstica, Oscelina Moura Neves de Oliveira, 45, entre 8h e 9h30. O crime ocorreu na cozinha da casa, no condomínio de luxo Santa Mônica, no Jardim Botânico.
Depois de atirar contra as vítimas, o policial deixou o condomínio junto ao filho de 7 anos e o cachorro da família. Novos detalhes elucidados pela investigação revelam que, antes de ir ao Hospital Brasília, Mikhail passou no Gilberto Salomão pouco depois das 10h, horário de abertura das lojas, e entrou acompanhado da criança e do animal.
A reportagem foi até à loja de celulares onde o delegado esteve, mas os funcionários preferiram não conceder entrevista. Na loja, estava o único vendedor do turno da manhã. Segundo as informações, Mikhail pretendia comprar um celular, mas pediu ao funcionário o telefone da loja para fazer uma ligação e perguntou se podia comprar esse mesmo celular. O rapaz respondeu que o aparelho era profissional.
“Quando eu cheguei, vi toda a movimentação. Ele saiu da loja com o celular (da loja) na mão e jogou o telefone no chão. A criança estava descalça e vomitou muito no chão. A todo momento, ele (o delegado) pedia para que o filho o abraçasse”, declarou uma vendedora ao Correio.
Ataque no hospital
Mikhail saiu do shopping e seguiu até o Hospital Brasília, distante cerca de 2km. Segundo informações obtidas pelo Correio por meio de fontes policiais, o delegado entrou na unidade de saúde com duas armas de fogo em punho — posteriormente apreendidas pela Polícia Militar — acompanhado do filho e do cachorro. Com falas desconexas e aparentando nervosismo, ele se dirigiu até à atendente do balcão e exigiu atendimento prioritário à criança. Numa das falas, disse: “Será que vou ter que atirar em mais alguém?”.
A enfermeira Priscila Pessoa, chefe do Pronto-Socorro do hospital, saiu da sala de pediatria para conversar com o delegado. A profissional de saúde perguntou sobre o estado da criança e Mikhail respondeu que o filho sofria de dores abdominais e problemas psicológicos. Ela voltou a questioná-lo se o garoto precisava de atendimento. Em resposta, o delegado disse que não e que tinha atirado em um robô.
Durante a discussão com a enfermeira, Mikhail afirmou que contaria até cinco para receber o atendimento; caso contrário, atiraria. Ele contou até três e disparou no pescoço e no ombro de Priscila. Após o ataque, conforme apurado pelo Correio, Mikhail ainda foi à sala de um dos consultórios e só depois saiu do hospital como se nada tivesse acontecido.
De posse das informações sobre o ocorrido, a Polícia Militar capturou o delegado na altura da QI 23 do Lago Sul. Ao que tudo indica, ele voltaria para a casa. A abordagem ocorreu em uma via e foi registrada em filmagem. Com ele, os PMs apreenderam uma Glock 9 mm, da PCDF, e uma .40 Taurus. Mikhail vai responder por três tentativas de feminicídio.