Tudo começou em uma tarde de calor, em um dia qualquer ainda no ano 2000, no auge da pandemia do coronavírus. Como fazia todas as tardes, por mais de duas décadas, o pequeno empresário Evandro Damasceno, então com 46 anos de idade, dirigiu-se à mercearia e bar de seu amigo e vizinho Francisco Moka, situada na rua Francisco Neri, no Conjunto Procon/Solar, bairro Vila Ivonete, em Rio Branco (AC). Pretendia, como de costume, fugir do calor tomando uma cervejinha e encontrar seus muitos amigos que também costumavam frequentar o local.
Mas, naquele dia, Evandro Damasceno, um homem natural de Tarauacá e membro de uma tradicional família do município, deixou o local com uma ideia na cabeça e alguns rabiscos no bolso que, quatro anos depois, prometem revolucionar a indústria das embalagens ao redor do mundo, além de, claro, fazer do criador da invenção o mais novo milionário do Acre.
“Naquele dia, ao chegar no Moka, o dono da mercearia, que estava sem um auxiliar como entregador, me pediu para tomar conta do comércio enquanto ele se ausentava para entregar dois galões de 20 litros cada de água mineral para uma cliente ali mesmo no bairro”, contou Evandro. “Hoje, ele faz essas entregas de bicicleta, mas, na época, fazia o serviço a pé e, naquela tarde, pude observar todo o seu sacrifício. Ele colocou um dos baldes no ombro, enquanto o outro segurava com o braço, carregando aqueles 40 quilos de água. O balde do ombro vazava água em gotas, e ele caminhava visivelmente desconfortável. Tanto que, a cada dez metros, acho, ele parava, abaixava a carga e descansava um pouco. Foi uma cena comovente, e ali percebi que outras pessoas, idosos ou crianças, ou mesmo pessoas com deficiência, passavam pelo mesmo sacrifício ao fazer esse tipo de transporte”, revelou.
Assim que Francisco Moka retornou do sacrifício, suado e cansado, Evandro Damasceno pediu ao amigo uma caneta e um pedaço de papel. “Ele me deu um pedaço de papel daqueles usados como embalagem de cigarro, que permitem que a gente escreva e rabisque com facilidade na parte interna. Comecei a desenhar o que eu entendia ser útil e funcional para adaptar às embalagens de água mineral no futuro”, revelou.
Depois de concluir o desenho, o inventor procurou o Sebrae para registrar a ideia e buscar indústrias interessadas em firmar parceria para executar o projeto. Inicialmente, as grandes indústrias reagiram de forma negativa, justificando que as novas adaptações encareceriam o produto final.
De acordo com o inventor, as novas embalagens permitem melhores condições de empilhamento e armazenamento, têm resistência extrema – já que não quebram com facilidade – e contam com alças para facilitar o encaixe e o apoio das mãos ao colocar a embalagem no bebedouro. “Além disso, imaginei que o peso no transporte pudesse ser dividido entre duas pessoas. Então, a embalagem que criamos tem espaços para que duas pessoas – mãe e filha, pai e filho, dois amigos ou mesmo duas crianças – possam transportar o garrafão em caminhadas curtas”, explicou Evandro Damasceno. “Também está chegando o garrafão de dez litros, menor e mais leve, que pode ser trocado como se faz com as embalagens de gás, permitindo que o consumidor substitua o menor pelo maior, de 20 litros, sem a necessidade de adquirir o garrafão maior diretamente”, acrescentou.
VEJA COMO FICOU:
Uma vez testada, a invenção se mostrou viável e já está sendo utilizada por indústrias no sul do país. No entanto, a ideia do inventor é montar uma planta industrial em Rio Branco, no Acre, ou, no máximo, em Manaus, no Amazonas. “Trazer insumos do sul do país para o Acre torna o transporte muito caro, inviabilizando o projeto. Em Manaus, é possível operar uma fábrica com uma máquina de sopro capaz de moldar as embalagens para deixá-las esticadas e consistentes. Ainda não tenho parceria nesse sentido. Sei que preciso levantar um grande investimento para instalar a fábrica em Manaus e, a partir de lá, exportar para todo o Brasil e para o mundo. Alguns países já demonstraram interesse no produto. A ideia é primeiro escalar o mercado no Brasil e depois expandir para mercados como China e Estados Unidos, que têm alta demanda por embalagens tradicionais e certamente investirão ao conhecer nossa invenção”, afirmou.
O inventor não revelou os valores já investidos no projeto nem quanto ainda será necessário para sua conclusão. “Posso garantir que tudo consumiu alguns milhões de reais, recursos meus e da minha família, mas o retorno, de acordo com os estudos que fizemos, está garantido”, assegurou.