Acreana que faz doutorado em uma das melhores universidades do mundo é contratada por empresa europeia

Alana Pacheco é formada pela Universidade Federal do Acre e está prestes a se tornar doutora pela Universidade de São Paulo e pelo Imperial College London

A educação é, indiscutivelmente, um dos principais meios para grandes mudanças em trajetórias de vida, e Alana Pacheco é um desses exemplos. Acreana do pé rachado, como ela mesma se intitula, tem 31 anos, está na reta final de seu doutorado em materiais de construção com baixo impacto ambienta, parte realizado na Universidade de São Paulo (USP) e outro trecho feito pelo Imperial College London, frequentemente colocada entre as dez melhores universidades do mundo.

Alana fez parte de seu doutorado em uma das melhores universidades do mundo, em Londres/Foto: Cedida

Recentemente, a futura doutora Pacheco foi contratada pela C2CA, empresa dos Países Baixos, especializada em inovação na reciclagem do concreto, e conta como foi receber o convite para integrar a equipe.
“No final do ano passado eu ainda estava trabalhando no meu doutorado, então não estava oficialmente buscando um novo emprego. Mas então essa empresa de reciclagem de concreto viu meu perfil no LinkedIn e entrou em contato comigo, interessados em me contratar para uma vaga técnica e comercial que eles tinham aberto recentemente. A vaga era muito interessante e o trabalho é uma aplicação direta de tudo que aprendi nos últimos anos do meu doutorado, então fiquei bastante empolgada”, explicou ela.

Sobre o trabalho que será executado, ela explica que, de maneira resumida, o intuito é diminuir o impacto ambiental de construção, mantendo um padrão de qualidade alto, podendo assim criar obras menos agressivas pelo ponto de vista ecológico.

“A partir de algo que seria considerado lixo, ou seria usado só como base na construção de estradas, é possível obter materiais mais baratos e com qualidade suficiente pra substituir materiais naturais até em concreto armado e estrutural. O produto mais interessante é o cimento reciclado, que pode substituir em parte o cimento comum e com isso reduzir o impacto ambiental da construção”, explica.

“Meu trabalho é ser uma ponte entre a área científica e a comercial. Então sou responsável por comunicar a parte técnica e científica dos produtos reciclados para os clientes, que são as construtoras ou concreteiras. Também ajudar os clientes a usar esses materiais da melhor forma, visando atender toda a parte técnica que é muito importante, mas também diminuir o impacto ambiental do concreto que está sendo produzido”, continuou.

Pacheco chegou ao país no início de 2024, pouco após seu companheiro, Rafael, concluir seu doutorado e conseguir um emprego no país, como pesquisador, e então acompanhou o marido na mudança para o velho continente.

Alana estuda materiais reaproveitáveis na construção civil/Foto: Cedida

“O processo foi bem tranquilo porque, como ele foi contratado por uma instituição holandesa, ele recebeu um visto de “imigrante com altas habilidades”, que dá o direito de permanecer no país para trabalhar. Também te dá o direito de trazer o seu parceiro, que foi como eu cheguei aqui”, relatou.

A trajetória de Alana Pacheco é notável e merece ser apoiada e prestigiada, entretanto, como todo filho que do ninho sai, deixa sim muito orgulho, mas também a saudade em quem fica. Lenice Lima, mãe de Alana, também deu detalhes sobre a trajetória da filha e, principalmente, de como é lidar com a distância. Lima destaca que os voos maiores sempre foram algo que rondam as possibilidades da primogênita.

“Lembro de uma vez que ela chegou em casa, quando tinha iniciado o ensino médio, me dizendo que queria fazer o 2º grau fora do estado, que poderia morar com uma amiga. Eu não tinha condições de sustentá-la em outro estado e foi preciso eu dar um ‘chacoalhão’ nela, dizendo ‘que tanta inteligência é essa tua, que o Acre é pequeno para você?’. Hoje, quando lembro disso, me emociono ao ver que de fato era”, revela.

Sobre a distância, Lenice Lima revela que sempre teve consciência que criou a filha pro mundo, o que não diminui a saudade sentida ao vê-la partir.

“A saudade me consumia, mas eu me fazia forte, porque sempre entendi que os filhos são independentes e precisam seguir seu rumo, em busca de realizar seus sonhos, sejam pessoais, profissionais, sempre tive isso bem claro no meu entendimento. Eu a criei para ser independente. A partir disso, eu conseguia e consigo ficar bem”, revelou.

Lenice diz que apesar da saudade se sente realizada vendo as conquistas da filha/Foto: Cedida

Sobre sua própria trajetória, Pacheco reconhece que é sim uma história a ser comemorada, ao mesmo tempo que também é um privilégio poder ter tido as oportunidades que recebeu ao longo da vida.

“É uma trajetória inspiradora de fato, sair do estado do Acre, um dos menores, mais jovens e periféricos do Brasil, pra ser contratada por uma empresa grande em outro país. Me sinto muito feliz e grata. Sou muito orgulhosa de onde eu saí, do meu estado e da minha família. É só perguntar pra qualquer um. Ser acreana é uma das primeiras coisas que eu falo quando conheço alguém, até mesmo daqui da Europa. Acreano é bicho orgulhoso”, revela.

O orgulho do caminho trilhado também transborda de sua mãe, que pensa não só onde a filha chegou, já sendo um referência da sua área de estudo, mas também pontuando as origens de seus pais, avós de Pacheco.

“É difícil falar sem me emocionar. Eu não tinha dimensão de onde ela chegaria e hoje eu me pego, muitas vezes pensando que ela chegou no topo! Meus pais, semi-analfabetos, sempre falaram que deveríamos estudar, e eu entendi isso desde cedo e trouxe isso para a educação da Alana e isso, certamente, contribuiu para ela chegar aonde está. Sinto que minha missão foi, orgulhosamente, cumprida”, encerrou Lenice Lima.

Por fim, Pacheco comenta que sonha em poder devolver um pouco de todo o conhecimento que acumulou durante sua trajetória de estudos para o estado do Acre. “Meu sonho é retornar esse conhecimento que recebi até aqui de volta pra sociedade, especialmente pro meu Acre. Eu tô trabalhando em lançar uma mentoria grátis exclusiva para acreanos que querem seguir a carreira científica. Ainda não tenho data certa pra lançar, mas se tudo der certo, esse projeto sai do papel até o final do ano”, revelou.

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