Condição médica persistente, a dor crônica acomete 37% dos brasileiros com mais de 50 anos, segundo dados do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos (ELSI-Brasil), realizado pelo Ministério da Saúde em 2023. Sua ocorrência está associada a causas múltiplas, que podem ser físicas, emocionais ou uma combinação de ambas. Para atender esses pacientes, o Grupo Amil implementou a Clínica da Dor, como parte de seu braço de cuidados integrados.
– A dor é uma síndrome biopsicossocial de extrema complexidade. Ela é uma forma de proteção do corpo, que nos indica que há algo errado. Mas a gente começa a falar de dor crônica quando o paciente apresenta o desconforto por um período prolongado, superior a três meses – explica a Dra. Cecília Emerick, coordenadora de cuidados paliativos da Amil Regional Rio.

Dra. Cecília Emerick, coordenadora de cuidados paliativos da Amil Regional Rio — Foto: Marco Sobral/GLab
A dor crônica é mais comum entre as mulheres. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira para os Estudos da Dor, a relação de prevalência entre os sexos é de 1,5 para 1 em casos de dor lombar, no ombro e joelhos; de 2 para 1 em dor orofacial; de 2,5 para 1 em migrânea (enxaqueca), e de 4 para 1 em fibromialgia, doença crônica caracterizada por dor constante em todo corpo.
– Sabemos que algumas doenças, como a fibromialgia, são mais frequentes em mulheres. Mas a dor crônica está associada a uma variedade de situações clínicas, como uma condição oncológica ou uma neuralgia do trigêmeo – enumera a médica.
Tratamento individualizado
Devido a essa grande gama de possíveis causas, o tratamento é feito de forma individualizada. O paciente passa por uma anamnese minuciosa, é submetido a exames físicos e complementares para que seja determinada a conduta a ser seguida.
– É um tratamento absolutamente individual, determinado por vários fatores. Depende de quanto dói, e isso é uma sensação individual e subjetiva. Quem sabe caracterizar e graduar sua dor é o próprio paciente. Fazemos uma série de perguntas para saber se a dor provoca um choque, queimação, se é pontual ou se irradia para algum lugar – exemplifica Emerick.
A abordagem é sempre multidisciplinar, uma vez que é preciso levar em conta todos os fatores desencadeadores da condição. Dependendo da causa associada, o tratamento pode incluir não apenas de medicamentos, mas também acompanhamento psicológico ou fisioterapêutico para o paciente.
– É necessário entender que o paciente precisa não só da medicação adequada, a depender do tipo de dor. Se é uma dor nociceptiva (dor causada por lesão tecidual), se é uma dor neuropática, visceral ou mista. Precisamos também entender que existem componentes emocionais que intensificam a dor. Tudo isso vai fazer diferença na hora de optarmos por um tratamento – afirma.
Aliviar a dor é objetivo do tratamento
Para as causas físicas, podem ser prescritos vários tipos de medicamentos, desde analgésicos a anti-inflamatórios, anticonvulsivantes, corticoides e opioides. A escolha tem como base as características da dor e sua intensidade, medida com auxílio da Escala Visual Analgésica. Com base na resposta, os médicos usam a Escada Analgésica estabelecida na década de 80 pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para determinar qual o medicamento deve ser usado.
– A Escala Visual Analgésica é uma medição de zero a dez, em que de 1 a 3 caracteriza dor leve, 4 a 7 é a dor moderada e, acima de 7, dor intensa. Pedimos ao paciente que descreva a dor e gradue sua intensidade. Se é uma dor que irradia, que queima, que dá choque, eu percebo que é uma dor neuropática e posso, por exemplo, optar por prescrever um anticonvulsivante. Se é uma dor aguda, caracterizando dor nociceptiva, podemos usar opioides.
Aliviar a dor do paciente é um dos principais objetivos do tratamento. Por isso, em casos de dor crônica intensa e moderada, a melhor indicação é o uso de opioides.
– Se estamos falando em dor intensa, indicamos logo opioides, como a morfina, metadona e seus parceiros. Em alguns casos moderados também optamos por opioides fortes, em doses mínimas. São ações necessárias para já dar mais qualidade de vida a esse paciente – ensina a profissional, especialista em cuidados paliativos.
A médica ressalta que o uso deste tipo de medicamento é seguro e feito com base em procedimentos bem estabelecidos.
– Por conta da crise dos opioides nos Estados Unidos, há um grande preconceito em relação a seu uso. Mas o que aconteceu lá não se aplica aqui. No Brasil, muitos pacientes não têm acesso a esse tipo de droga. Nem todo médico tem a receita, que é obtida por meio de cadastramento na Vigilância Sanitária, para prescrevê-los.
Técnicas intervencionistas para dores localizadas
A clínica da dor conta ainda com algumas técnicas intervencionistas, voltadas para o alívio de dores localizadas e de difícil controle.
– Um exemplo são os bloqueios, muito usados para dores associadas a hérnia de disco. A realização de um bloqueio local permite que menos remédios sejam usados, o que é positivo se levamos em consideração que o tratamento da dor crônica é contínuo – pontua.
Eliminar a dor crônica nem sempre é possível. Mas o tratamento multidisciplinar permite que ela seja amenizada devolvendo ao paciente uma vida funcional e ativa.
– Para pacientes que tinham uma dor intensa, passar para o nível 3 já é um enorme ganho. Isso devolve a eles uma vida funcional, muitas vezes perdida para a dor. Esse é o nosso maior objetivo: fazer com que possam voltar a ter uma vida ativa – conta a médica.