Estudo de SC busca promover alternativa inovadora para tratamento de pacientes de AVC

Pesquisadores catarinenses buscaram formas de melhorar o acesso a serviços de saúde para pessoas com sequelas motoras

Quando os vasos sanguíneos que levam sangue ao cérebro se rompem de repente ou ficam entupidos por algum motivo, acontece um Acidente Vascular Cerebral (AVC). A partir deste momento, a vida de uma pessoa pode mudar para sempre, com sequelas cognitivas e físicas. Uma das principais dificuldades enfrentadas por quem sobreviveu ao acidente é a dificuldade de locomoção. E para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, pesquisadores da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) realizaram um estudo focado na telerreabilitação que, nesta semana, ganhou visibilidade mundial.

AVC pode ser isquêmico ou hemorrágico (Foto: Banco de Imagens)

O estudo, desenvolvido por integrantes do Laboratório de Controle Motor (Ladecom), do Centro de Ciências da Saúde e do Esporte (Cefid), foi publicado na revista científica com o maior impacto na área da fisioterapia neurofuncional mundial, a Journal of Neurologic Physical Therapy.

De acordo com o Ministério da Saúde, o tratamento do AVC é feito em centros de atendimento de urgência, com o uso de trombolítico. Já a reabilitação pode ser feita nos centros especializados. Porém, nem todos os sobreviventes da condição conseguem acessar esses lugares pela dificuldade em chegar até o local, e é nisso que o estudo se propõe.

O que é a telerreabilitação

A telerreabilitação diz respeito a possibilidade de se obter tratamento para diversas condições de saúde à distância, sem a necessidade de deslocamento aos centros de saúde ou outros locais que possam oferecer auxílio para a reabilitação.

No caso do estudo conduzido pelos fisioterapeutas da Udesc, a alternativa seria destinada a quem possui dificuldade de acesso a serviços de saúde para receber cuidados pós-AVC.

Como foi feito o estudo

Segundo estudos recentes, para avaliar como a recuperação de um sobrevivente de um AVC está progredindo, fisioterapeutas utilizam a chamada Escala de Equilíbrio de Berg (BBS). Por meio dessa ferramenta, os profissionais conseguem avaliar o equilíbrio e a mobilidade desses pacientes e, assim, saber se a pessoa pode cair se estiver sem supervisão.

A professora e coordenadora do Ladecom, Stella Maris Michaelsen, doutora em Ciências Biomédicas pela Universidade de Montreal, do Canadá, explica que a escala é “uma das mais utilizadas para avaliar o equilíbrio, tanto na população geral, que inclui idosos, quanto em pessoas que sofreram AVC”.

Para medir o quão confiável seria utilizar a telerreabilitação para casos de sobreviventes da condição, os pesquisadores fizeram uma avaliação de como a Escala de Equilíbrio de Berg poderia ser usada por meio de videoconferências. Essa alternativa é regulamentada desde o início da pandemia da Covid-19, segundo Stella.

— Sabemos que alterações de equilíbrio são comuns na população e elas precisam ser tratadas pela fisioterapia. No entanto, nem todas as pessoas têm acesso a esse tratamento. Por exemplo, problemas de acesso ao transporte público, dificuldade na mobilidade, condição das calçadas e problemas de acesso devido à arquitetura dos prédios podem limitar o acesso ao tratamento. A telerreabilitação, de uma forma geral, e a telefisioterapia são alternativas de tratamento quando as pessoas não têm acesso — explica.

Ao todo, 31 sobreviventes de AVC participaram do estudo e tiveram avaliações presenciais e remotas. O avaliador A conduziu avaliações presenciais e remotas por videoconferência em dois momentos diferentes (teste-reteste), e o avaliador B conduziu uma avaliação usando a segunda gravação feita remotamente.

A validade e a concordância entre as avaliações presenciais e remotas foram analisadas usando o coeficiente de correlação de Pearson e os limites de concordância dos gráficos de Bland-Altman, com equações matemáticas.

Resultados

O resultado final do estudo mostrou que não houve diferenças significativas nas avaliações presenciais e remotas, isto porque ela foi menor que um ponto entre as duas formas.

Os resultados preliminares da pesquisa já haviam sido apresentados no VII Congresso Brasileiro de Fisioterapia Neurofuncional em 2023, da Associação Brasileira de Fisioterapia Neurofuncional (ABRAFIN).

Como conclusão, ela mostra que “o Tele-Berg demonstrou validade, excelente confiabilidade teste-reteste e interavaliador, baixo erro de medição, consistência interna adequada e ausência de efeito teto. Essas descobertas sugerem que o Tele-Berg é comparável à Berg Balance Scale presencial em sobreviventes de AVC”.

— Os resultados mostraram que essa escala é válida e confiável para ser aplicada de forma remota, ou seja, é semelhante quando é aplicada presencialmente e remotamente, tanto quando ela é repetida pela mesma pessoa de forma remota como quando ela é avaliada por outra pessoa a partir do vídeo, ela também apresenta resultados que nós dizemos que são confiáveis — aponta a professora.

O professor Bruno Freire, que também participou da pesquisa ao lado das fisioterapeutas Aline Barbosa da Costa e Tayara Gaspar da Silva, destacou que o estudou também pode servir para desafogar o sistema público e privado de saúde em momentos de muita demanda.

— É possível, com a avaliação remota e com o instrumento confiável, entrar em contato com essas pessoas, prestar essa avaliação, acompanhar o progresso, o quadro da pessoa e também fazer um planejamento que possa, no futuro, beneficiar e atender a comunidade, seja de forma presencial ou não, mas estar diante a essas pessoas, não deixá-las desamparadas — explica.

AVC em Santa Catarina

Apesar de ter caído ao longo dos anos, a mortalidade do AVC ainda é alta no Brasil. Em Santa Catarina, não é diferente. Segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (SES), até outubro de 2024, foram registradas 2.550 mortes por AVC.

Em relação ao número de casos, foram 5.612 até julho do ano passado, com maior incidência entre as mulheres de 70 e 79 anos.

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