Marina é apontada como ‘entrave’ no Governo Lula para exploração de petróleo na Foz do Amazonas

Acreana é apontada como entrave para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas e Lula tenta amenizar: “Ela é muito inteligente e só quer as coisas feitas direito”

A acreana Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e deputada federal licenciada pelo Rede de São Paulo, está de novo na berlinda no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o qual já divergiu e até saiu do Governo pelas mesmas razões de agora: incompatibilidade entre o meio ambiente e a necessidade de exploração de recursos naturais. 

Situação da ministra volta a se complicar no governo/Foto: Reprodução

Em meados 2010, Marina Silva deixou o segundo governo de Lula do qual era integrante desde o primeiro mandato obtido por Lula em 2002 depois de três derrotas seguidas nas eleições de 1990, 1994 e 1998, e seguiu até praticamente o fim do segundo mandato de Lula, quando bateu de frente com a então toda poderosa ministra-chefe do gabinete civil, Dilma Rousseff, apontada na época pelo próprio Lula como “Mãe do Pac”.

PAC era a sigla do Programa de Aceleração do Crescimento, cujas obras, em sua maioria, precisariam de licenças ambientais para suas execuções. Com a briga do batom – como a imprensa chamou a divergência entre as duas ministras na época, Marina Silva deixou o governo para reassumir seu segundo mandato no Senado da República (em todo o tempo em que foi ministra ela foi substituída pelo suplente Sibá Machado) e Dilma Rousseff começou a ser preparada para ser a primeira mulher eleita presidente da República no Brasil – e ser cassada dois anos depois, em 2016. 

Marina Silva disputou as duas eleições presidenciais como candidata em 2010 e em 2014, mas nem chegou ao segundo turno nos dois pleitos.

Agora, de novo, a ministra do Meio Ambiente volta ao fogo cruzado entre as alas divergentes do governo, os desenvolvimentistas, onde estão situados os setores mais pragmáticos do próprio governo, como o ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira, que e senador licenciado por Minas Gerais, e a ala dos preservacionista, na qual pontifica a própria Marina Silva, que é deputada federal por São Paulo após transferir seu título eleitoral de Rio Branco, no Acre, para a cidade de Santos, no litoral paulista, onde vive atualmente com o marido Fábio Vaz e o restante da família. 

A causa da nova divergência de Marina Silva com o governo do qual faz parte é sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial do rio Amazonas, um desejo do presidente Lula que encontra resistências no Ministério do Meio Ambiente através de órgãos como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), a quem cabe conceder a licença e a palavra final sobre a exploração ou não de petróleo na Foz do Rio Amazonas, medida criticada pelo movimento ambientalista internacional.

Em vista ao Estado do Amapá, em cujo território dar-se-ia a exploração petrolífera a partir do fundo do rio, na última sexta-feira (14), o presidente Lula voltou a falar publicamente sobre o assunto e procurou isentar Marina Silva de culpas por a exploração petrolífera ainda não ter sido autorizada pelo Ibama, órgão com o qual  governo em geral trava uma espécie de luta de braços.  sobre o assunto. Era visível o constrangimento do presidente ao tratar da questão e tratar do nome de sua ministra como alguém que, em tese, seria contra a obra.

Segundo o presidente, Marina Silva, como ministra de seu Governo, não se posicionará contra a exploração de petróleo na Foz do Amazonas, na Margem Equatorial. O projeto da Petrobras está sob análise do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e, nos últimos dias, o governo ampliou a pressão para concessão da licença para pesquisas na região.

Lula defendeu

Durante entrevista, Lula voltou a defender a iniciativa e citou a ministra do Meio Ambiente. “Eu tenho certeza de que a Marina [Silva] jamais será contra, porque ela é uma pessoa muito inteligente. O que a Marina quer é o seguinte: não é que eu não quero fazer, é como fazer. Esse ‘como fazer’ é uma coisa que eu quero, que ela quer e que você quer. Como fazer para a gente não ser predatório com a nossa querida Amazônia”, pontuou Lula.

Marina e Lula durante campanha em 2022. Foto: Ricardo Stuckert

Localizada no Norte do país, a Margem Equatorial se estende do Rio Grande do Norte ao Amapá. A Petrobras quer investir US$ 3,1 bilhões para explorar petróleo e gás na região, mas a iniciativa depende do aval do Ibama, responsável por emitir o licenciamento ambiental.

Em maio de 2023, o órgão ambiental negou a emissão da licença “em função do conjunto de inconsistências técnicas”. Na última quarta-feira (12), Lula reclamou do que chamou de “lenga-lenga” do órgão na análise do projeto. Ele defendeu o início dos estudos sobre o tema.

“Nós temos de autorizar que a Petrobras faça pesquisa. Se, depois, a gente for explorar, é outra discussão. O que não dá é ficar nesse lenga-lenga. O Ibama é um órgão do governo, parecendo que é um órgão contra o governo”, disse o presidente.

Sim, o Ibama é um órgão do governo. Só que sob Marina Silva.

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