Novela da vida real: ator José de Abreu alfineta autora acreana Glória Perez por apoio às pautas de Bolsonaro

“Chama a Cássia Kiss e a Regina Duarte”, escreveu o ator, em referência às atrizes que também defendem a causa e são declaradamente de direita e apoiadoras do ex-presidente

O apoio da novelista acreana Glória Perez às pautas e ações bolsonaristas mereceu do ator José de Abreu, ator vinculado ao PT e às pautas defendidas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e que já viveu vários personagens em novelas da autora.

As críticas vieram em alfinetadas nas redes sociais do ator ao tomar conhecimento de que a veterana autora, que viveu em Rio Branco até a adolescência, onde ainda tem amigos e familiares, está cada vez mais próxima do bolsonarismo e defendeu os atos pedindo anistia aos presos e condenados pelo 8 de janeiro de 2023 na Praça dos Três Poderes, em Brasília. O ato foi realizado em Copacabana, no Rio, no domingo (16) passado.

Glória publicou imagem nas redes sociais do protesto feito pela direita com pedido de anistia aos golpistas. Na imagem, a autora destacou na legenda que a manifestação era “pacífica” e “defende a anistia”.

O ator, então, repercutiu a postagem de Glória em tom de ironia: “Chama a Cássia Kiss e a Regina Duarte”, escreveu o ator, em referência às atrizes que também defendem a causa e são declaradamente de direita e apoiadoras do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Quando o confronto de ideias vira um espetáculo fora das telinhas/Foto: Reprodução

Um dos papéis destacados de Zé de Abreu em uma das muitas novelas de Glória Perez na Rede Globo foi em “Amazônia; de Gavez a Chico Mendes”, exibida em 2007, após ser filmada no Acre para contar, em três fases, a história da ocupação e conquista do território ao Brasil, uma homenagem da autora à terra de seus pais e onde ela viveu até se mudar para Brasília, em 1961. A novela alcançou audiência absoluta no Acre e, na época das gravações, era comum se encontrar os atores, entre eles o já polêmico Zé de Abreu, em restaurantes, bares e cafés da cidade de Rio Branco.

A novela, que ganhou prêmios no exterior, conta a história do Acre a partir de 1899, quando o Acre vivia em situação de conflito com a Bolívia. O espaço territorial no que hoje é o Estado do Acre era território boliviano, mas fora povoado por brasileiros atraídos pela exploração da borracha.

Quando a Bolívia decidiu retomar seu território, almejando o lucro obtido com o látex extraído das seringueiras, o governo brasileiro não se opôs, pois a região, de acordo com o Tratado de Ayacucho, pertencia de fato ao país vizinho. O povo acreano se revoltou com a situação e seringueiros, liderados pelo espanhol Luiz Galvez, resistiram à ocupação boliviana.

A trama, para mostrar a cultura, os conflitos e a vida de riqueza e luxo dos seringalistas, narra a história do coronel Firmino, vivido por Zé de Abreu. Para retratar a saga difícil de um povo batalhador e suas características, o dia a dia da família de Bastião (Jackson Antunes), sua mulher Angelina e os filhos Delzuite, Bento e Tonho, que, assim como milhares de famílias, migraram do Nordeste para o Acre na tentativa de ganhar dinheiro por meio da extração do látex das seringueiras.

Em julho de 1899, foi criado o Estado Independente do Acre e Luiz Galvez, vivido por José Wilker, foi aclamado presidente, o que despertou o descontentamento de seringalistas, que se revoltaram com os impostos cobrados pelo novo governo.

Em dezembro, Galvez foi deposto pelo seringalista Antônio de Souza Braga, que não conseguiu se manter no poder e devolveu-lhe o comando. O Governo Federal brasileiro, porém, sabendo que a desobediência deste tratado colocava em risco suas relações internacionais, destituiu Galvez e devolveu a região do Acre à Bolívia.

José de Areu como Coronel Firmino, filmado no Acre/Foto: Reprodução

Enquanto isso, o militar gaúcho Plácido de Castro, vivido por Alexandre Borges, decidiu tentar a sorte no Norte do país, demarcando seringais na Amazônia. Nesta época, liderados pelo jornalista Orlando Lopes (Tarcísio Filho), intelectuais e boêmios de Manaus organizam uma expedição para expulsar os bolivianos e retomar o Acre. Porém, sem experiência na arte militar, o levante foi derrotado. Diante disso, os revoltosos chegaram à conclusão de que precisavam de um líder militar e convidaram Plácido de Castro, que aceitou o desafio.

A Bolívia arrendou o Acre para o Bolivian Syndicate, lhe dando poder de explorar as terras do estado e ocupá-las militarmente por trinta anos. Lino Romero foi enviado a Puerto Alonso para preparar a passagem da administração. Começa então o movimento armado contra a Bolívia, liderado por Plácido de Castro e bancado pelos seringalistas. Vencida a guerra, a diplomacia brasileira entrou em ação e o Acre foi finalmente incorporado ao Brasil, mas como território, e não como estado, como haviam sonhado os que lutaram por ele.

O terceiro líder da história do Acre foi o seringueiro Chico Mendes, interpretado por Cassius Gabus Mendes, que chamou a atenção do mundo para a preservação da floresta, que vinha sendo destruída desde que os seringais começaram a ser transformados em pastos para gado. Mendes criou, de forma pacífica, um movimento de resistência para impedir o desmatamento, usando apenas o diálogo. O seringueiro foi condecorado pela ONU e sua luta reconhecida pelas organizações internacionais de proteção ao meio ambiente. Porém, acabou covardemente assassinado.

Na novela da vida real, o ator José de Abreu e a autora Glória Perez vêm brigando de longe. Em 2019, por exemplo, quando estava no ar a novela “A Dona do Pedaço”, José de Abreu arrumou briga com o extinto Twitter, quando o ator publicou um post criticando a visão política da autora de novelas Glória Perez. No texto, ele citou o assassino condenado pela morte de Daniella Perez, filha da escritora.

“O Brasil está tão doido que vemos Guilherme de Pádua e Glória Perez apoiando o mesmo espectro político! Que tempos!”, publicou José de Abreu.

A resposta de Glória Perez foi no mesmo tom; “você é muito canalha”, disse ela, em referência ao falecido Guilherme de Pádua, condenado por matar a atriz Daniela Perez, filha da autora, em 1992. Ao morrer, de infarto, em Belo Horizonte, aos 53 anos de idade, era pastor evangélico e apoiador do então candidato à reeleição Jair Bolsonaro.

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