Marina Silva saiu derrotada de uma eleição interna da Rede Sustentabilidade pela terceira vez consecutiva. No 6º Congresso Nacional da legenda, realizado neste fim de semana em Brasília, o grupo apoiado por Heloísa Helena venceu a disputa e garantiu o comando da sigla pelos próximos anos.
O novo porta-voz da Rede será o secretário de Relações Institucionais de Belo Horizonte, Paulo Lamac. Ele superou o candidato apoiado por Marina, Giovanni Mockus, na eleição deste domingo (13), com 76% dos votos dos delegados.
Em entrevista ao jornal O Globo, Lamac declarou receber o resultado com “grande responsabilidade” e ressaltou o compromisso com a pacificação interna da legenda. “Essas questões internas são menores diante do trabalho da Rede e das bandeiras que defendemos”, afirmou.

O grupo apoiado por Heloísa Helena venceu a disputa pelo comando do partido e garantiu o comando da sigla pelos próximos anos / Foto: Reprodução
Judicialização e impasses
A disputa foi antecedida por tensão e tentativas de anulação. A ala de Marina recorreu à Justiça para tentar suspender o congresso, alegando irregularidades no processo, mas teve a liminar negada na quinta-feira (10), poucas horas antes do início do evento.
Conflitos como esse têm sido recorrentes. A legenda enfrenta disputas judiciais em pelo menos cinco estados — Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Espírito Santo — onde aliados da ministra alegam fraudes em filiações e irregularidades nas convenções estaduais.
Na Bahia, o embate ganhou contornos simbólicos: duas convenções paralelas foram realizadas. O grupo de Marina ocupou a sala originalmente reservada, enquanto a ala de Heloísa se reuniu no saguão do hotel. Durante o impasse, um aliado da ex-senadora chegou a incitar vaias à ministra, que não compareceu ao local.
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Ideologias em rota de colisão
A derrota de Marina reflete a fragilidade de sua influência dentro da Rede e explicita o racha ideológico que divide o partido desde 2022. De um lado, a ministra defende uma linha “sustentabilista progressista”, que propõe a conciliação entre preservação ambiental e economia de mercado. Do outro, Heloísa Helena representa o “ecossocialismo”, que prega mudanças estruturais no sistema econômico como caminho para a justiça ambiental.
As divergências também se estendem à relação com o governo federal. Enquanto Marina ocupa um ministério na gestão de Lula (PT), Heloísa mantém postura crítica ao petismo desde sua expulsão do partido, em 2003, por votar contra a reforma da Previdência.

A ala de Marina recorreu à Justiça para tentar suspender o congresso, alegando irregularidades no processo, mas teve a liminar negada na quinta-feira (10), poucas horas antes do início do evento. / Marina Silva/Foto: ContilNet
Coros e memórias eleitorais
Durante o congresso, militantes da chapa vencedora entoaram o coro “A Rede que eu quero não votou no Aécio”, em referência ao apoio de Marina a Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições de 2014, o que ainda gera desgaste interno. Em resposta, apoiadores da ministra gritaram “Glauber fica”, em apoio ao deputado Glauber Braga (PSOL-RJ), atualmente ameaçado de cassação — sua suplente é Heloísa Helena.
Desde a chegada de Heloísa à Rede, em 2015, e sua eleição como porta-voz em 2021, a ala mais à esquerda da legenda ganhou força. Agora, com mais uma derrota de Marina, esse domínio se consolida, evidenciando as dificuldades da ministra em manter protagonismo dentro do partido que idealizou.