Papa Francisco tinha preocupação com a Amazônia e com a qualidade de vida dos caboclos e ribeirinhos, dizem religiosos

“O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes [...] mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres”, disse o papa no Sínodo de 2019.

Quando o esquife com o corpo do Papa Francisco baixar à terra fria no sábado (26) para ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, no centro de Roma, num sepultamento singelo e fora dos padrões e dos portões do Vaticano, a pedido do próprio pranteado, descerá com ele também a esperança de melhorias de vida para ribeirinhos e caboclos da Amazônia, já que Jorge Bergoglio foi, até aqui, o único líder máximo da Igreja Católica a de fato se preocupar com a região amazônica. Conhecido pelo apelo à preservação do bioma, Francisco foi uma das vozes mais ativas contra o desmatamento ilegal na região e o papa que olhou para a Amazônia e seus ribeirinhos.

“O nosso sonho é de uma Amazônia que integre e promova todos os seus habitantes, para poderem consolidar o bem viver. Mas impõe-se um grito profético e um árduo empenho em prol dos mais pobres.” Foi assim que o Papa Francisco começou a exortação “Querida Amazônia”, escrita por ele após o Sínodo para a Amazônia em 2019.

Papa Francisco/Foto: Reprodução

Em 2017, quatro anos após o início do seu pontificado, Francisco impressionou fiéis do mundo inteiro ao convocar, pela primeira vez, um sínodo dedicado à Amazônia. O encontro aconteceu em Roma dois anos depois e reuniu representantes de todos os países da Amazônia Legal, incluindo bispos, padres e religiosos da Amazônia brasileira.

“Durante a assembleia, o papa se fazia presente e escutava com atenção todas as intervenções. Ele próprio confirma na introdução da exortação ‘Querida Amazônia’: ‘Ouvi as intervenções ao longo do Sínodo e li, com interesse, as contribuições dos Círculos Menores’ (QA, 2). Ele esteve no Peru. Aliás, foi durante a sua estada na Amazônia que ele indicou a sua intenção de convocar o sínodo. Gostaríamos muito que ele tivesse visitado a parte da Amazônia brasileira, mas infelizmente isso não aconteceu, por diversos fatores”, destacou um dos religiosos que participou daquele encontro, o padre Amarildo Luciano, reitor do Santuário Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (AM).

Papa Francisco durante assembléia/Foto: Reprodução

O religioso destacou a preocupação do papa com os ribeirinhos. Segundo ele, o líder da Igreja Católica se importava não apenas com a região, mas com a qualidade de vida dos povos que habitam o bioma. “Outros papas, é claro, já tinham demonstrado atenção para com a nossa região. O papa Paulo VI afirmou que ‘Cristo aponta para a Amazônia’. O papa João Paulo II esteve nos visitando, inclusive. Mas o papa Francisco demonstrou especial preocupação com a qualidade de vida dos povos que vivem na Amazônia: os povos originários e os ribeirinhos”, descreveu o padre. “O papa Francisco nos despertou ainda mais para o compromisso que devemos ter com essa região rica e de pessoas pobres. E nos convida a estarmos próximos às populações mais vulneráveis”, acrescentou.

Para o padre, o papa também convocou toda a Igreja a refletir sobre a ecologia integral e como ela impacta a evangelização. Ainda de acordo com ele, o pontífice desejava abrir mais espaço dentro da Igreja para todos os cristãos batizados, inclusive as mulheres.

“Eu diria que participar do sínodo foi uma oportunidade de entender como o papa compreende a Igreja como povo de Deus. Não podemos compreender a Igreja somente a partir da hierarquia. A Igreja são todos os fiéis batizados”, disse.

A atenção de Francisco pela Amazônia foi tão grande que, em agosto de 2022, ele nomeou o arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner, como o primeiro cardeal da Amazônia brasileira. Na época, logo após o anúncio, Steiner afirmou que o papa estava preocupado com o desmatamento, com as ameaças às culturas indígenas e com a poluição dos rios causada pelo uso de mercúrio em garimpos ilegais na região.

“A nomeação de um cardeal da Amazônia mostra o desejo do papa de aproximar a Igreja da Amazônia”, disse Steiner, na época.

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