Os casos de ataques envolvendo cães da raça Chow-Chow têm ganhado destaque na mídia recentemente, após um episódio em que um animal atacou o rosto da própria dona, dilacerando os lábios superiores da tutora.

A raça é tida popularmente como instável e agressiva/Foto: Ilustrativa
Entretanto, este não é um caso isolado. Um menino de 13 anos foi atacado por um cachorro da raça no último dia 1º de maio, no bairro Tucumã, em Rio Branco. A mãe do garoto, Monique Pontes, relatou o ocorrido em entrevista ao ContilNet.
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Segundo ela, o adolescente foi surpreendido pelo animal ao passar de patinete pela rua onde o cachorro vive, diariamente solto. “Ele estava indo comer um pastel com um amigo quando, ao passar pela casa onde o cachorro mora, foi atacado. O portão estava aberto e o animal avançou diretamente sobre meu filho, que tentou se proteger subindo em uma caçamba de entulho próxima”, contou.
O garoto sofreu cinco mordidas nas pernas e uma no braço. As lesões não chegaram a exigir sutura, mas causaram dores intensas, febre e inflamação. O adolescente segue sob acompanhamento médico e chegou a faltar aulas por conta das dores e do mal-estar decorrentes do ataque.

O caso aconteceu no começo do mês de maio/Foto: Cedida
“O cachorro continua solto no bairro, como se nada tivesse acontecido. Só quem teve a vida mudada fomos eu e meu filho. Ele vive momentos de pânico desde então”, lamentou Monique, que também destacou que o animal já foi visto circulando livremente em várias ruas da vizinhança. Segundo relatos de moradores, o cachorro, chamado Bhetovem, já teria demonstrado comportamento agressivo anteriormente.
Apesar do ataque, a família do dono do animal não tomou providências para evitar novos incidentes. “Duas pessoas da família chegaram a me procurar para lamentar o que aconteceu, mas o cachorro continua solto. É como se não se importassem com o que meu filho passou”, disse.
A mãe registrou boletim de ocorrência e entrou com ações tanto na esfera cível quanto criminal. “Eu sei que o cachorro não tem culpa, mas os donos sim. Se não têm condições de manter o animal com segurança, que doem ou tomem alguma providência. Só espero por justiça”, concluiu.

O caso aconteceu na capital do estado do Acre/Foto: Cedida
Saiba mais sobre a raça
O chow chow é uma raça de cão milenar, que tem sua origem na China, por volta dos anos 100. No país asiático, o animal era usado como guarda e também para serviços de tração.
Além disso, outro momento da história que é marcado pela participação dos animais é o império mongol liderado por Gengis Khan, já que a figura histórica incorporou os cães como animais de guerra, durante a expansão de seu império na Ásia e Europa.
Na realidade, apesar da aparência e de sua origem, trata-se de uma raça “reservada”, “independente” e com traços semelhantes aos de felinos.

Apesar de sua origem, o animal não é naturalmente agressivo segundo especialistas/Foto: Reprodução
Apesar de companheiros dos tutores, esses cães preferem ter seu espaço respeitado e podem reagir negativamente a carícias excessivas.
O que diz o espacialista?
A agressividade em cães não está diretamente relacionada à raça, mas sim à forma como o animal é criado, socializado e educado desde filhote. A afirmação é da professora Agnes de Souza Lima, do curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal do Acre (UFAC), que esclarece equívocos comuns sobre o comportamento de raças consideradas “difíceis”, como o Chow Chow.
Originário da China, o Chow Chow é conhecido por sua aparência marcante, com semelhanças físicas a um leão ou urso, e pela característica língua azulada ou preta. Apesar da fama de temperamento difícil, a professora explica que o comportamento da raça é mais reservado e protetor, mas não agressivo. “O Chow Chow apresenta características como territorialidade, calma, proteção e independência”, diz Agnes. “São traços da raça que exigem cuidados específicos, mas não significam que o animal seja naturalmente agressivo.”
Segundo ela, estudos sobre comportamento animal demonstram que o maior fator de influência no temperamento dos cães é o manejo adotado pelo tutor. “A forma como o tutor educa o cão influencia mais no comportamento do que a própria raça”, afirma.

A especialista esclareceu algumas duvidas sobre a raça/Foto: Cedida
Agnes alerta ainda que diversos fatores podem contribuir para a agressividade em cães, independentemente do porte ou da linhagem. Entre os principais estão a falta de socialização, socialização inadequada, manejo incorreto e ausência ou erro na educação. “Animais que são criados sem contato com outros animais ou pessoas tendem a apresentar maior agressividade”, explica. “Além disso, brincadeiras que estimulam a agressividade ou adestramentos punitivos podem tornar o animal irascível.”
A professora observa que comportamentos indesejados podem ocorrer com qualquer cão, mas o impacto costuma ser maior quando se trata de raças de grande porte. “Muitas vezes, esses comportamentos são negligenciados pelos tutores. O ideal é que o adestramento seja iniciado assim que forem notadas alterações no comportamento ou, de forma preventiva, a partir dos quatro a seis meses de idade.”
Ela destaca que muitos ataques poderiam ser evitados com socialização adequada. “É fundamental investir em abordagens que desenvolvam o equilíbrio emocional do animal, melhorando sua relação com o ambiente, com outros cães e com pessoas.”
Por fim, Agnes reforça que a criação responsável é o fator-chave para um convívio harmonioso. “Embora o Chow Chow tenha um comportamento mais reservado, essa raça não é agressiva. Socialização precoce, adestramento adequado, manejo correto e atividades que reduzam o estresse são essenciais para garantir um comportamento equilibrado”, conclui.
A professora ainda faz um alerta aos futuros tutores: “Antes de adquirir um cão, é importante conhecer as necessidades da raça escolhida e buscar orientação com profissionais da Medicina Veterinária. Isso faz toda a diferença na qualidade de vida do animal e na convivência com os humanos.”