O pior município do Brasil para se viver ou tentar criar uma família fica no Amazonas e está bem próximo ao Acre. Trata-se de Ipixuna, distante de Feijó, no Acre, por apenas 194 km em linha reta – embora não haja estrada trafegável entre as duas cidades, o transporte é feito apenas por vias fluvial ou aérea, em aeronaves de pequeno porte.
A proximidade e a realidade das duas cidades são tão semelhantes que ambas são banhadas pelo mesmo rio, o Envira, manancial que nasce na Serra da Contamana, em território peruano, tem uma extensão de 512 quilômetros e está localizado na calha do rio Juruá. O rio é navegável entre a sua foz no Amazonas e o seringal Califórnia, no Acre.

Os dados que indicam Ipixuna como o pior lugar do Brasil para um ser humano sobreviver foram elaborados pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e publicados pela instituição nesta segunda-feira (12). Um dos critérios utilizados pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) e suas filiadas estaduais é o desenvolvimento da economia, que em Ipixuna é muito baixo em relação à indústria e ao comércio.
De acordo com a Firjan, os dados nas duas áreas em Ipixuna são próximos de zero. Numa escala própria do sistema da indústria nacional, a cidade amazonense, com 20.393 habitantes (segundo o Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, de 2020), alcançou apenas 0,1485 ponto, o que a classifica como de desenvolvimento crítico e a pior do Brasil.

Vista aérea do rio Envira, que conecta municípios do Acre e do Amazonas em meio à floresta densa/Foto: Reprodução
O título já pertenceu, até o ano passado, a Uiramutã, cidade localizada no extremo norte de Roraima, na fronteira com a Venezuela e a Guiana, que enfrentava – e ainda enfrenta – problemas graves de acesso a saneamento básico e saúde e sofre com desmatamento e conflitos relacionados a terras indígenas.
O município de Ipixuna, segundo o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), é avaliado com base em dados oficiais referentes ao ano de 2023, pelos indicadores de Emprego & Renda, Saúde e Educação. A Firjan informou que esta edição do estudo analisou 5.550 cidades, que respondem por 99,96% da população brasileira.
O levantamento apontou ainda que, além de Ipixuna, outro município do Amazonas também está entre os piores do país: Jutaí, que ocupa a quarta pior posição, com 0,1802 ponto. O IFDM revela que essas cidades com classificação de desenvolvimento crítico têm, em média, 23 anos de atraso em relação aos municípios mais desenvolvidos do país, como Água de São Pedro (0,8932), São Caetano do Sul (0,8855) e Curitiba (0,8814), que lideram o ranking com os melhores resultados.
Comunidade ribeirinha próxima a Ipixuna evidencia os desafios de acesso e infraestrutura na região amazônica/Foto: Reprodução
O município acreano de Santa Rosa do Purus também ficou próximo de Envira, com 0,1806 ponto.
O gerente de Estudos Econômicos da Firjan, Jonathas Goulart, afirmou que todas as regiões ainda têm cidades em situação crítica, mas que Norte e Nordeste são as mais prejudicadas. Ele destaca que o estudo oferece uma análise detalhada para que o cenário possa ser transformado nos próximos anos.
“Estamos fornecendo um quadro representativo para a formulação de políticas públicas mais eficazes e equitativas”, pontuou Goulart.
Criado em 2008 e atualizado neste ano com nova metodologia, o estudo é composto pelos indicadores de Emprego & Renda, Saúde e Educação e varia de 0 a 1 ponto, sendo que quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento socioeconômico.
A análise mostra que 99% dos municípios registraram avanço no índice geral entre 2013 e 2023. Com isso, a pontuação média brasileira no estudo é de 0,6067 ponto, referente a desenvolvimento moderado. As três vertentes do índice contribuíram para esse avanço, ainda que em ritmos distintos.