8 de junho de 2025

“Narcocultura”: caso de Poze do Rodo reascende debate sobre limites entre arte e apologia ao crime

Secretário de Polícia Civil do Rio de Janeiro defendeu que letras do MC são "mais perigosas que tiros de fuzil"

A prisão de MC Poze do Rodo na última quinta-feira (29), no Rio de Janeiro, reascendeu um antigo debate: quais os limites entre a arte e a apologia ao crime?

caso de Poze do Rodo reascende debate sobre limites entre arte e apologia ao crime. Foto: Reprodução

Conhecido por suas letras que fazem menção à maior facção criminosa do estado, o Comando Vermelho, o funkeiro também costuma realizar shows em áreas dominadas pelo grupo, usando inclusive, segundo a polícia do Rio, criminosos como seguranças.

Na avaliação do secretário da Polícia Civil do Estado, Felipe Curi, as composições de Poze do Rodo são “mais perigosas que tiros de fuzil”.

“Ele transformou a música num instrumento de dominação, divulgação e disseminação da ideologia e da narcocultura da facção criminosa, com o Comando Vermelho. Ele dissemina, nas suas letras, que o crime é uma necessidade social. Então, ele cria essa narrativa”, defendeu o secretário.

No Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio, o funkeiro pode decidir em qual ala ficaria preso. Poze do Rodo escolheu a que abriga detentos ligados à facção. O funkeiro, que também é suspeito de ligação com o Comando Vermelho, alega perseguição.

Outros cantores de funk que fazem shows em comunidades cariocas também estão na mira da Polícia Civil. Entre eles, estão Oruam, Orochi e Mc Cabelinho. Todos eles também são investigados por apologia ao crime.

Para a socióloga e especialista em segurança Carolina Grillo, é preciso separar o artista da obra que ele cria e entender o contexto social que dá origem às letras do funk.

“É importante entender que ele está falando a partir de uma experiência, de uma experiência que é compartilhada, vivida por muitos jovens de favelas e periferias e que, por isso, as suas músicas fazem tanto sucesso, porque elas expressam um tipo de experiência, uma realidade, e elas comunicam isso amplamente”, explica a especialista.

O antropólogo e ex-oficial do Batalhão de Operações do Rio de Janeiro Paulo Storani discorda. “Utilizam os bailes funk para a venda de drogas, principalmente nas comunidades. A corrupção do funk é quando esse ritmo e as letras passaram a ser utilizadas como um reforço para determinados comportamentos que contrariam a convivência pacífica, harmoniosa na sociedade. Principalmente, quando elas evidenciam alguns comportamentos criminosos, no caso, o narcotráfico ou qualquer outra manifestação criminosa, como esses MCs vêm fazendo rotineiramente, uma apologia dessa atividade criminosa”, ele argumenta.

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