Conheça o Rio Hamza, sistema subterrâneo na bacia Amazônica com suposta nascente no Acre

O geógrafo e doutor em geografia Alexsande Franco, professor da Universidade Federal do Acre (Ufac) explica mais sobre o Hamza

A hipótese da existência de um gigantesco curso d’água subterrâneo sob a bacia amazônica, conhecido como “Rio Hamza”, voltou ao debate acadêmico e científico após estudos apontarem para fluxos hídricos a cerca de 4 mil metros de profundidade na região.

O aquífero seria o maior do mundo/Foto: Reprodução

Embora popularmente apelidado de “rio subterrâneo”, especialistas afirmam que a formação se comporta, na verdade, como um grande aquífero, um sistema poroso que armazena e conduz água, sem canal definido.

O geógrafo e doutor em geografia Alexsande Franco, professor da Universidade Federal do Acre (Ufac), destaca que o chamado “Rio Hamza” é mais adequadamente descrito como parte de um sistema dinâmico de águas subterrâneas com comportamento típico de aquífero.

“O fluxo de água mencionado se comporta como um imenso aquífero, e não como um rio. A água se movimenta por camadas superficiais mais porosas até encontrarem camadas mais profundas de rochas, sem a presença de um leito contínuo, como em rios superficiais”, explica.

A pesquisa que deu origem à tese do “Rio Hamza” foi desenvolvida em 2010 pela então doutoranda Elizabeth Pimentel, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), com base em análises de fluxo geotérmico realizadas a partir de poços perfurados pela Petrobras na década de 1970. A formação foi nomeada em homenagem ao geofísico e hidrogeólogo Valiya Hamza, orientador da pesquisa.

Alexsande Franco, professor da Universidade Federal do Acre explicou o caso/Foto: Cedida

Segundo os dados preliminares do estudo, o Hamza teria cerca de 6 mil quilômetros de extensão, largura variável entre 1 e 60 quilômetros e um fluxo extremamente lento, de 10 a 100 metros por ano, em contraste com os cerca de 5 metros por segundo do rio Amazonas. Sua nascente estaria localizada no Acre, alimentada por águas infiltradas dos rios da superfície e pela precipitação.

Apesar do interesse gerado, a hipótese do Hamza segue sem validação científica ampla. Diversos pesquisadores questionam sua classificação como “rio”, devido à ausência de um canal definido e ao caráter essencialmente geológico de seu funcionamento. Também há incertezas quanto à salinidade da água armazenada, fator que influencia diretamente sua interação com o ecossistema amazônico e o Oceano Atlântico.

Franco acrescenta que a região amazônica abriga um vasto e complexo sistema de aquíferos, entre eles o Sistema Aquífero Grande Amazônia (SAGA), considerado o maior do mundo em volume de água, com estimativa de 162.520 km³. Esse sistema se estende por diversos países da América do Sul, incluindo Brasil, Peru, Colômbia, Bolívia, Equador e Venezuela.

“O Saga é um conjunto de aquíferos, muitos deles ainda pouco explorados cientificamente. Um exemplo é o aquífero Solimões, que se estende pelo sul do Amazonas, Acre, Rondônia e parte do Peru e Bolívia”, explica.

Segundo ele, todos esses aquíferos seguem fluxos definidos, com direção e velocidade variáveis conforme as características do terreno. Em Rio Branco, por exemplo, o aquífero local, que possui características superficiais e não confinado, tem fluxo da região do bairro Vila Acre em direção ao rio Acre.

O aquífera estaria localizado em baixo do Rio Amazonas/Foto: Reprodução

O professor destaca ainda que a qualidade da água subterrânea pode variar conforme a profundidade e a composição geológica da região. “Poços mais profundos, dependendo da área, podem apresentar água mais salobra, com maior teor de sais minerais. Isso precisa ser analisado caso a caso”, afirma.

Ele também chama atenção para a necessidade de proteção dos aquíferos mais superficiais, que são mais vulneráveis à contaminação. “É essencial que haja infraestrutura adequada de saneamento básico, como coleta e tratamento de esgoto, para garantir a proteção dessas reservas”, defende.

Enquanto o debate sobre o Hamza permanece no campo das hipóteses científicas, cresce o consenso entre especialistas sobre a importância estratégica dos aquíferos amazônicos, tanto para o abastecimento quanto para o equilíbrio ambiental da região.

A floresta, que se formou ao longo de milhões de anos em uma antiga área oceânica transformada em bacia sedimentar, é resultado direto de um processo geológico que contribuiu para a formação de extensas reservas subterrâneas de água, hoje vitais para a conservação do bioma e a segurança hídrica da região.

PUBLICIDADE

Bloqueador de anuncios detectado

Por favor, apoie-nos desativando sua extensão AdBlocker de seus navegadores para o nosso site.