Estudo inédito revela alto potencial do café clonal no Vale do Juruá

Estudo da Embrapa avalia desempenho de clones de café canephora em condições de sequeiro no Acre

Um estudo realizado no estado do Acre revela o potencial produtivo de variedades clonais de café da espécie Coffea canephora nas condições edafoclimáticas do Vale do Juruá. A pesquisa, conduzida pela Embrapa Café em parceria com diversas instituições, marca um novo capítulo na expansão da cafeicultura na região Norte do Brasil.

Um estudo inédito realizado no estado do Acre revela o potencial produtivo de variedades clonais de café da espécie Coffea canephora nas condições de solo e clima do Vale do Juruá.

O trabalho foi fruto da colaboração entre a Embrapa Acre, a Universidade Federal do Acre (UFAC), o Instituto Federal do Acre (IFAC), a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP) e o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Acre (Idaf).

Segundo o pesquisador Marcelo Curitiba Espindula, da Embrapa Café, os testes foram iniciados em 2017 na Fazenda Experimental da UFAC – Campus Floresta. No local, foram avaliados dez clones híbridos desenvolvidos especificamente para a Amazônia. “Os resultados têm se mostrado bastante promissores e demonstram a viabilidade do cultivo em sequeiro na região do Juruá”, explica Marcelo.

O chefe-geral da Embrapa Café, Antonio Fernando Guerra, destaca que o uso de cultivares clonais superiores tem sido o principal motor da revolução observada na cafeicultura amazônica nos últimos 15 anos. “A expansão do café canéfora no Norte do país está diretamente ligada ao uso de tecnologias modernas, especialmente os clones desenvolvidos para atender às condições específicas de solo e clima da região. Isso tem proporcionado geração de renda, melhoria na qualidade de vida das famílias produtoras e desenvolvimento sustentável”, ressalta.

A experiência bem-sucedida de Rondônia, que se consolidou como referência na produção de café clonal, serviu de base para que pesquisadores avaliassem o desempenho dos materiais genéticos no Acre. A iniciativa reforça o papel estratégico da ciência e da inovação no avanço da cafeicultura brasileira.

Novo Complexo do Café

Na manhã deste sábado (28), a região do Juruá viveu um marco histórico com a inauguração do Complexo Industrial do Café, localizado no município de Mâncio Lima. Considerado o maior empreendimento do gênero em toda a região Norte, o complexo promete transformar a realidade econômica e social de centenas de famílias envolvidas na cadeia produtiva do café, especialmente no âmbito da agricultura familiar.

Complexo fica no município de Mâncio Lima/Foto: Reprodução

Capacidade para 20 mil sacas e padrão de exportação

 

 

De acordo com Eduardo Tosta, representante da ABDI, o complexo industrial tem capacidade para beneficiar até 20 mil sacas de café por ano, operando com tecnologias de ponta. “Temos o que há de melhor em equipamentos para garantir café de altíssima qualidade. Desde o recebimento até a secagem lenta de 36 horas, passando por processos de rebeneficiamento e seleção dos grãos, o produto final tem padrão internacional e está pronto para exportação”, explicou.

Cerimônia de inauguração aconteceu neste sábado (28)/Foto: Juan Diaz

Cooperativismo e geração de renda

Um dos idealizadores do projeto, Jonas Lima, destacou o impacto social do cooperativismo para a região. “Antes, a economia girava em torno de auxílios e pescaria. Hoje, temos uma nova realidade com mais de 172 cooperados apenas no setor do café, sendo que 70% deles são de Mâncio Lima”, relatou. Segundo ele, nas últimas semanas da colheita, mais de 700 pessoas foram empregadas diretamente. “Colocando uma diária média de R$ 100, temos uma injeção de R$ 70 mil por dia na economia local, muitos ganham até R$ 300 por dia”, disse.

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O crescimento é tão expressivo que já está prevista a construção de uma nova unidade anexa no Ramal 2, que atenderá os produtores daquela região. Em paralelo, a prefeitura de Cruzeiro do Sul lançou um programa anual que distribuirá mudas de café a 100 agricultores familiares, com assistência técnica durante os dois primeiros anos de plantio.

A voz da juventude: o café como instrumento de transformação

Danilo, jovem produtor rural e cooperado da Coppe Café, celebrou o novo momento vivido no Juruá. “Esse complexo vai mudar a vida das pessoas. O café agrega valor, traz renda, qualidade de vida e segurança para continuar produzindo. Eu comecei sem imaginar que Mâncio Lima se tornaria um polo industrial. Hoje vendemos café a R$ 1.200 a saca, e isso atrai mais gente para o campo, tira as pessoas da marginalidade e valoriza toda a cadeia produtiva”, afirmou.

Além de beneficiar diretamente os produtores de café, o impacto também é sentido em outros setores. “Quem ficou na farinha também viu o preço subir. É um ciclo positivo que movimenta toda a economia local, da horta à pecuária”, acrescentou.

Um novo tempo para o Vale do Juruá

A inauguração do Complexo Industrial do Café representa uma conquista econômica. É símbolo de resiliência, organização coletiva e de um futuro mais promissor para o interior do Acre. Com apoio político, técnico e institucional, o café do Juruá começa a trilhar um caminho sólido rumo à consolidação como produto de exportação e alavanca de desenvolvimento social.

“É só o começo”, concluiu Jonas Lima. “Em 2024 colhemos de 700 hectares, em 2025 serão 1.300 hectares e, em 2026, 1.600. Isso aqui muda a vida das pessoas.”

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