Facebook e Instagram promovem anúncios misóginos e tóxicos, diz relatório

O relatório analisou durante 28 dias (de janeiro a feveiro deste ano) 1.565 anúncios publicitários com mulheres como público-alvo que foram classificados como problemáticos, irregulares ou ilegais/fraudulentos

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FOLHAPRESS) – Anúncios presentes nas plataformas da Meta promovem golpes, misoginia e reforçam estereótipos de gênero, apontam um levantamento realizado pelo NetLab (Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro).

O relatório analisou durante 28 dias (de janeiro a feveiro deste ano) 1.565 anúncios publicitários com mulheres como público-alvo que foram classificados como problemáticos, irregulares ou ilegais/fraudulentos.

“Conteúdos pagos e com alto potencial de danos às mulheres brasileiras garantem receitas para a empresa”, aponta a análise, financiada pelo governo federal.

Os dados foram coletados das redes sociais da Meta: Facebook, Instagram, Messenger e Audience Network. O relatório mostra que 98% do conteúdo analisado não foi categorizado como sensível pelas próprias plataforma.

Procurada, a Meta afirmou estar comprometida com a segurança de mulheres. Disse também que utiliza uma combinação de tecnologia e revisores humanos para identificar conteúdos que violem as suas políticas. “Estamos sempre trabalhando para aprimorar a nossa abordagem em prol de um ambiente seguro para todos”, completa a empresa.

A reportagem perguntou quantos anúncios tóxicos são retirados do ar diariamente no Brasil, mas a Meta não respondeu.

O levantamento “Observatório da Indústria da Desinformação e Violência de Gênero nas Plataformas Digitais” faz parte do programa Brasil Sem Misoginia que conta com o apoio e financiamento do Ministério das Mulheres.

Ao todo, foram identificadas 550 páginas e perfis que publicaram anúncios categorizados como tóxicos pelo NetLab.

O relatório apontou que a grande maioria (958 dos anúncios analisados) levam o cliente para o WhatsApp. O aplicativo de troca de mensagens não é rastreável e possui mensagens criptografadas, o que torna o ambiente ainda mais propício para fraudes e golpes, segundo o estudo.

Os anúncios foram classificados em cinco ameaças, sendo que a mais recorrente foi “risco à saúde pública ou individual” (78,6% dos anúncios analisados); seguido de “desinformação ou publicidade abusiva ou enganosa” (66%); “reforço de estereótipos de gênero, machismo e objetificação da mulher” (44,3%); “fraude ou golpe” (35%), e, por fim, “uso de identidade falsa” (34%).

Um anúncio pode ter mais de um tipo de ameaça.

Em relação aos conteúdos analisados, 1.253 tratam de temas relacionados ao corpo da mulher, ligados mercado da estética, como produtos que prometem clareamento vaginal e redução da flacidez.

O relatório aponta que 97,6% dos anúncios que estão nessa categoria promovem risco à saúde pública e individual, 68,8% contêm desinformação ou publicidade abusiva ou enganosa, 50,6% são do mercado de beleza, 38,1% promovem emagrecimento, 36% promovem estereótipos de gênero e 42,% possui algum tipo de fraude ou golpe.

Este tipo de conteúdo costuma fazer referência à supostas aprovações da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), para conferir legitimidade aos produtos e incentivar o consumo. Outros, usam recursos como logo, fotos de fachada da agência e deep fakes para criar narrativas falsas e aplicar golpes.

Também foram encontrados 221 anúncios que promovem anúncios tóxicos que promovem a misoginia. Este se dividem em dois grupos: o primeiro é voltado para o desenvolvimento masculino e o segundo mostra estratégias para enfrentar processos judiciais feitos por mulheres.

O relatório identificou 148 anúncios voltados para o desenvolvimento masculino, sendo que em 67% foram encontrados discursos misóginos. Há ainda 58 anúncios que tratam sobre autonomia pessoal e financeira, e 48 que exploram a fé e a espiritualidade das mulheres.

Luka Franca, pesquisadora do grupo Violência em Tempos Sombrios, do NEV (Núcleo de Estudos da Violência) da USP considera que o relatório joga luz sobre como as empresas de tecnologia lucram com a promoção da misoginia.

“As big techs entregam conteúdos que promovem a misoginia e se vale da vulnerabilidade que muitas estão inseridas, como a pobreza. É muito sintomático que temos a garantia de funcionamento de conteúdos que são comprovados como pertencentes a uma extrema direita misógina, altamente violenta e machista”, diz ela.

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