Nesta sexta-feira, 15 de março, completam-se 41 anos da morte, então com 76 anos de idade, do general e senador José Guiomard dos Santos, considerado o chamado “Pai do Acre”, por ter sido ele o autor, como deputado federal, da lei que elevou o então território federal à condição de Estado-membro da República Federativa do Brasil. Naquele 15 de março de 1983, durante as exéquias do homem que tornou o Acre Estado, tomava posse como o segundo governador constitucional e eleito pelo voto direto do povo acreano, o taracauense Nabor Teles da Rocha Júnior, do MDB.
A posse de Nabor Júnior no dia da morte de Guiomard Santos, representou, na prática, o que se via apenas em simbologia: o fim de um ciclo político e o começo de outro que durou mais de uma década, os governos do MDB, de ferrenha oposição aos ideais de Guiomard.
A luta política entre as duas correntes era tão forte que, enquanto Guiomard Santos, na condição de ex-governador do território, dos anos 40 a 50, e como deputado federal eleito lutava no Congresso Nacional pela aprovação a lei que transformaria o Acre em Estado, o MDB, que ainda não existia formalmente e seus futuros militantes ainda viviam sob o mando do PTB, eram contra as ideias de Guiomard Santos em relação a isso.
“Éramos contra porque o Guiomard era a favor”, disse-me, em 1986, o então deputado federal Ruy Lino, ao falar sobre o assunto – logo ele que foi governador, por um curto período, enquanto o território preparava as eleições que o tornaria, enfim, um Estado. O curioso é que, nesta primeira eleição livre no novo Estado, o autor da lei que criou o Acre como Estado, exatamente Guiomard Santos, foi derrotado na disputa. O eleito foi José Augusto de Araújo, do PTB. Como na época os candidatos poderiam disputar cargos tanto no Legislativo como no Executivo, Guiomard perdeu para governador, mas foi eleito para o Senado.
O criador da lei que fez do Acre Estado brasileiro nasceu em Perdigão, então um distrito de Santo Antônio do Monte, em Minas Gerais. Era filho de José Batista dos Santos e Bárbara Guiomard dos Santos, cuja família se mudaria para Barbacena, onde Guiomard ingressaria na escola militar. Mais tarde, iria para o Rio de Janeiro, ingressando na Escola Militar do Realengo, em 1925, e depois em instituições como a Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Escola Técnica do Exército e Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializando-se em astronomia e geodésia.
Posto a serviço do Ministério das Relações Exteriores entre 1934 e 1938, foi subchefe da comissão que estabeleceu os limites geográficos entre Brasil, Paraguai e Venezuela, integrou o Instituto histórico-Geográfico do Amazonas, a Academia Acreana de Letras e, quando de sua chegada em terras fluminenses, integrou o Clube Militar, o Clube de Engenharia do Rio de Janeiro e a Sociedade Brasileira de Geografia. Nesse período firmou uma amizade com San Tiago Dantas e integrou a Ação Integralista Brasileira e se manteve sempre fiel aos princípios integralistas mesmo depois da decretação do Estado Novo. Antes de ingressar na política foi colaborador do Correio Braziliense, dentre outros jornais.
Escreveu também alguns livros, como Cinquentenário do Tratado de Petrópolis, Mensagem do Acre e Territórios Federais, Grandezas e Misérias.
Articulista nas escolas militares onde serviu, foi procurador do Território de Ponta Porã antes de se filiar ao PSD. Governador do Território Federal do Acre durante a presidência de Eurico Gaspar Dutra, e renunciou ao cargo para entrar na política elegendo-se deputado federal em 1950, 1954 e 1958, período em que cimentou sua liderança política como antagonista de Oscar Passos e seus correligionários do PTB. Em sua passagem pela Câmara dos Deputados apresentou o projeto de lei elevando o Acre de território federal a Estado, medida concretizada em 1962,no governodo então presidente João gouart com Tancredo Neves como primeiro-ministro, no curto período em que o Brasil viveu a experiência de um regime misto de parlamentarismo e presidencialismo.
Eleito senador em 1962 e partidário da queda de João Goulart, foi reeleito pela Arena, partido que dava sustentação ao regime militar, em 1970 e 1978, neste último caso como senador biônico. Com a reforma partidária seguiu para o PDS falecendo em pleno exercício do mandato vítima de broncopneumonia.
Após sua morte, o município de Quinari, base política do José Guiomard, foi rebatizado com o nome de Senador Guiomard e sua cadeira no Senado Federal foi ocupada por Altevir Leal. Seus restos mortais, assim como de sua última esposa, Lídia Hames Guiomard Santos, estão sepultados no Memorial dos Autonomistas, no centro da capital Rio Branco.
Os “autonomistas” foi um movimento político criado no Acre assim que as negociações do Tratado de Petrópolis pacificaram o territórioio como parte do Brasil, depois de tomado à bala da Bolívia na revolução comandada por Plácido de Castro e que, com Guiomard Santos, nos anos 40 e 50, tomou forma como uma força política. Uma força vitoriosa que trouxe o Acre até os dias atuais, com seus diversos ciclos políticos. O do MDB, herdado com a morte de Guiomard Santos, veio até os anos de 1990, quando um terceiro ciclo foi iniciado com a eleição de Edmundo Pinto, seguidor de Guiomard Santos, e com a eleição de Orleir Cameli como governador, em 1994, cuja herança política está tendo continuidade, 30 anos depois, com o governo de Gladson Cameli.