Mamulengo: oficina une confecção de bonecas e teatro tradicional em Rio Branco; participe

Evento pretende construir um teatro de bonecos a partir das peças confeccionadas

Em Rio Branco, nesta segunda-feira (18), a Oficina de Confecção de Bonecos de Mamulengo iniciará na Casa de Cultura da Gameleira. Indo até o dia 30 de março, das 14h até às 18h, com inscrições gratuitas, o curso pretende unir o artesanato e cultura tradicional nordestina a partir dos ensinamentos do mestre Romualdo Freitas, mestre bonequeiro.

A Tropa Mamulungu de Teatro de Rua e Bonecos te convida a aprender sobre o universo dos bonecos de mamulengo, de 18 a 30 de março, das 14h às 18h, na Casa de Cultura da Gameleira/Foto: Reprodução

Produzido por Patrícia Helena Costa juntamente com a Tropa Mamulungu de Teatro de Rua e Bonecos de Rio Branco por via do Fundo Municipal de Cultura 2023 – área do patrimônio cultural, a oficina conversa com passado e presente para desenhar um futuro com a arte tradicional.

O ContilNet conversou, com exclusividade, com Patrícia Helena, Daniella Lopes, 38, e o mestre Romualdo Freitas, 64, sobre a arte do fazer mamulengo, o trabalho e o esforço para se costurar um futuro que respeite os ideais pregados pela arte popular e sobre a importância da oficina que inicia nesta semana.

A brincadeira

O Mamulengo é uma forma popular e tradicional do teatro de bonecos no Brasil. Nasceu nos interiores do Nordeste e, de lá, migrou para outras regiões. É chamado de Mamulengo em Pernambuco e no Distrito Federal, é Babau na Paraíba; João Redondo ou Calunga no Rio Grande do Norte; e Cassimiro Coco, no Ceará, Piauí e Maranhão. 

A brincadeira, como é chamada a apresentação de Mamulengo, é um ofício repassado oralmente, por convívio familiar ou de mestre para aprendiz e só em 2015 foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial brasileiro pelo IPHAN.

“A Tropa Mumulungu é um grupo de teatro que desde seu surgimento vem trabalhando com essa técnica de Mamulengo, tanto a gente trabalha como a gente também desenvolve formação. Agora com esse projeto, a tropa está retornando com o nosso mestre, o Romualdo Freitas, para dar continuidade a um trabalho que está sendo desenvolvido no grupo, um trabalho de pesquisa”, quem fala é Daniella Lopes, integrante da Tropa Mamulungu e uma das idealizadoras do projeto.

Na oficina, os bonecos confeccionados servirão como personagens para a montagem de uma peça teatral chamada Mistérios da Natureza, uma adaptação da obra da mestra Francis Nunes, detentora dos conhecimentos tradicionais e de brincadeiras populares do Juruá. 

“Vamos adaptar pelo teatro de bonecos que fala de personagens acreanos, como seu Hélio Melo. Fala de lendas como a mãe da Mata, o Mapinguari. Fala de indígenas. Fala sobre diversos temas acreanos na Amazônia”, explica Patrícia Helena sobre o espetáculo que será montado.

Seu Romualdo Freitas, que nasceu em Arcoverde, em Pernambuco, e começou sua vida artística em Caruaru, no mesmo estado, fala sobre sua jornada de 45 anos, que passa em sua moradia no Acre por 20 anos, e a importância dos teatros de rua em sua formação:

“A gente tá tratando de uma linguagem e hoje patrimônio, né?! Então, o mamulengo é o teatro popular de bonecos do Nordeste. Essa é onde a gente consegue apresentar as características daquela região, que se expandiu pelo Brasil inteiro”, disse.

A costura

“O  Romualdo vai ensinar as técnicas para confecção dos bonecos de mamulengo. Nós vamos passar por várias várias técnicas, desde a construção com o papel que é uma arte reciclada. A parte da pintura também de criação dos rostos. A parte do cabelo, que a gente faz com linha de lã ou outros materiais. Tem a parte da confecção da roupa, a gente costura. De acordo com o personagem”, explica Helena sobre o processo de confecção dos bonecos.

Durante a entrevista, tanto Helena, Lopes e Freitas falam da importância de valorizar os mestres da nossa região, porque, segundo eles, são muito esquecidos pelo próprio povo acreano. Dentro do universo do mamulengo, que engloba desde sua construção, até a técnica dos dedos e afins, a ideia é permitir que essa cultura seja mantida como forma de expressão:

A importância é manter vivo esse patrimônio cultural brasileiro. Veio do Nordeste até aqui e muitas pessoas já adaptaram à forma amazônica de contar história. Ela vai se transformando, porque a cultura é movimento”, ressalta Helena.

O futuro

Através da adaptação da obra de Francis Nunes, com seus 70 anos e que será narradora do espetáculo, se pretende resgatar e manter viva esta forma de artesanato. Nas duas semanas de oficina, conforme dito pelos entrevistados, o foco é brincar, mas também valorizar este patrimônio brasileiro:

“Essa brincadeira de preservar memórias. A importância da brincadeira, a partir da manifestação do boneco, que é isso que eu tô querendo dizer, a oficina vai passear pelo universo do mamulengo”, fala Freitas.

Lopes fala que está animada para a execução do projeto:

“A expectativa é que a gente tenha uma boa oficina. Os alunos possam apreciar e aprender essa nova técnica e que as pessoas passem a ver a nossa cultura, os nossos mestres, com outro olhar. Que nosso público-alvo tenha mais conhecimento sobre ela, sobre a obra, sobre a vivência dela no mundo artístico e construir os bonecos, para que eles criem vida”, fala.

Por fim, Patrícia Helena fala sobre o fim da oficina, onde ela, Romualdo Freitas, Daniella Lopes e quem quer esteja presente farão uma apresentação improvisada, para mostrar o progresso dos participantes:

“Quem mais estiver participando que queira brincar e apresentar sua boneca. Vamos fazer uma pequena confraternização no dia 30 para finalizar essa oficina”, finaliza.

A Tropa Mamulungu de Teatro de Rua e Bonecos te convida a aprender sobre o universo dos bonecos de mamulengo, de 18 a 30 de março, das 14h às 18h, na Casa de Cultura da Gameleira – Rua Cunha Matos, 531, 6 de Agosto, Rio Branco/AC. Inscrições gratuitas pelo WhatsApp (68) 98119-6662 – Daniella Lopes.

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