Em 1961, o Instituto Internacional do Teatro (ITI) determinou o Dia Universal do Teatro para celebrar todas as formas de artes teatrais. No Acre, o teatro é presente como manifestação artística e histórica em todos suas formas. Seja em espaços públicos, como a “Usina de Arte João Donato” ou espetáculos que contam nossa história, como “Em Busca do Tesouro”.
Na próxima semana, o final da Oficina de Mamulengo realizada pela Tropa Mamulungu, adicionará “mais uma ato” nessa relação de história do teatro com nosso estado. “Mistérios da Natureza” adapta o álbum de mesmo nome da artista Francis Nunes na forma de um teatro de bonecos, organizado pelo mestre Romualdo Freitas. O ContilNet conversa com os dois sobre a importância histórica do dia, da peça e da história a ser contada no espetáculo.
Os Mistérios da Natureza
“Eu fiz um projeto com o Alexandre Anselmo, eu já tinha trabalhado com ele, com a minha irmã Márcia – com quem mais trabalho desde criança. Então, a peça é [sobre] meu pai que veio na Segunda Guerra Mundial e foi seringueiro na Amazônia até o Alto do Môa. Ele ficou com indígenas, que apesar de muito bravos, ficou morando com eles”, fala Francis Nunes sobre a ideia inicial da peça.
Nunes, com quase 80 anos, revela que guardou as histórias contadas pelo seu pai por muitos anos em cadernos e esperando um dia ganhar a luz. Natural de Mâncio Lima, ela passou sua infância em Cruzeiro do Sul e mora em Rio Branco desde meados dos anos 80.
A artista nos conta que os mistérios da natureza se referem àquelas chamadas lendas, mistérios, coisas misteriosas que apareciam e desapareciam na floresta. “Só quem chegou a ver essas coisas foram os seringueiros do tempo da Segunda Guerra Mundial e os povos da floresta”, relata a compositora.
Ela fala como ficou feliz de mostrar o trabalho que deixou seu pai deixou, além de que o trabalho possibilitou a antiga peça que ela apresentava anos atrás – e foi muito elogiada -, além do álbum lançado em 2022 e agora, a reinterpretação em teatro de bonecos mamulengo.
As magias do teatro
“Vamos adaptar pelo teatro de bonecos que fala de personagens acreanos, como seu Hélio Melo. Fala de lendas como a mãe da Mata, o Mapinguari. Fala de indígenas. Fala sobre diversos temas acreanos na Amazônia”, explica Patrícia Helena, produtora da Oficina de Mamulengo, sobre o espetáculo que será montado.
Romualdo Freitas, 64, garante que com seus mais de 40 anos em experiência no teatro de rua, de arena e de bonecos, reflete sobre a importância da arte teatral, em suas mais variadas formas para a sociedade e em sua vida:
“São 45 anos de trabalho, dá para falar que sou um artista de teatro, de rua e bonecos. A partir do teatro de rua foi necessário que fosse agregando outras linguagens. Então, nas danças tradicionais eu visito a minha sobrevivência. Depois, naturalmente fui introduzindo o boneco em todos os espetáculos. Todos os meus [espetáculos] têm bonecos, pensando em evidenciar a cultura”, fala.
Para ele, o teatro é sobre evidenciar e valorizar culturas e histórias. Algo que é um passo e uma ideia crucial para a peça montada a partir das escritas de Nunes. Todos os entrevistados falam da importância da cultura popular e da força que resistir através da arte possui em suas vidas.
O amor pea arte
Francis Nunes garante que nem sempre obteve retorno, muito pelo contrário, enfrentou dificuldades nas primeiras peças, sem dinheiro e investimento:
“ Todo mundo gostava, aplaudia, mas não corria grana. Assim, para nos ajudar não tinha nem muito pouquinho. Eu chorava muito, me aperreava, queria desistir, eu queria rasgar tudo e jogar tudo fora. Mas meu coração disse, meu pastor e minha irmã, a gente dando uma força, falando para eu continuar. Pois, percebi que o que faço, é por amor. Tudo que faço é por amor”, afirma.
Uma mensagem que conversa diretamente com os ideias da data que celebra o teatro em um nível universal e comemora todas as formas de arte presentes nesta arte.