Influenciadores “atípicos” divertem e promovem inclusão nas redes

Influenciadores com transtorno do espectro autista tem usado redes sociais para promover conscientização e empatia o ano inteiro

Celebrado na última terça-feira (3/4), o Dia Mundial do Autismo foi instituído pela Organização das Nações Unidas com o intuito de inserir o tema no debate público e reduzir a discriminação e o preconceito. A iniciativa é importante, mas limitada diante da relevância do assunto e do número de pessoas com o transtorno do espectro autista (TEA): cerca de 70 milhões no mundo, segundo a ONU. Felizmente, com o crescente presença de influencers com o diagnóstico não é mais preciso esperar um ano inteiro para obter conhecimento a respeito e exercitar empatia.

O perfil da aposentada Luci Maia (@lucigmaia), de 76 anos, é um exemplo do potencial da internet para gerar debates sobre o tema. Ela é mãe dos gêmeos Ângelo e Augusto, que completaram 43 anos no dia 3, mesma data em que o Dia Mundial do Autismo é comemorado. No ano passado, a matriarca usou as redes sociais para fazer uma homenagem de aniversário à dupla e viralizou. Saiu de 200 seguidores para 950 mil.

“Na mensagem de aniversário deste ano, eu postei uma mensagem cujo trecho diz muito dos dois, sendo uma das coisas que eles têm a mostrar à sociedade, o ser humano em estado puro: ‘vocês parecem ter vindo de um mundo fantástico onde as pessoas vivem em harmonia. Onde não há violência, maldade, e a inocência prevalece’”, diz Luci ao Metrópoles.

A personalidade da dupla, que para além de autismo são portadores da Síndrome de William, conquistou a web e transformou o perfil de Luci em fonte de informação sobre o tema. Os feedbacks, ela diz, são sempre positivos, o que acalanta o coração de uma mãe que já sofreu muito com a falta de informações sobre o espectro. “Aonde vamos é muita gente querendo tirar fotos, conversar e isso não tem preço. É muito gratificante ver meus filhos hoje serem tão queridos e aceitos pela sociedade inclusive servindo de inspiração para que outros pais entendam que o autista tem que estar incluído”, destaca.

“Não me sinto mais sozinha como antes”

Creator e palestrante, Tabata Cristine (@tabata_meumundoatipico), de Blumenal (SC), também decidiu compartilhar as próprias experiências para mudar o cenário de falta de representatividade e de informações não só sobre o autismo, mas também sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, com o qual ela também foi diagnosticada. “Quis compartilhar minhas vivências, desafios e aprendizados para me ajudar a lidar com tudo isso e também para ajudar outras pessoas que estavam passando pelo mesmo processo”.

Apesar de usar o humor constantemente para gerar engajamento, Tabata destaca que seu conteúdo é resultado de muito estudo, muita troca com profissionais da área. “Também tem muito a ver com o meu crescente processo de autoconhecimento devido às terapias. Estou sempre refletindo sobre as situações, comportamentos e desafios que nós, pessoas neurodivergentes, enfrentamos e como posso traduzir essas questões em um conteúdo leve e acessível”.

Para além dos feedbacks positivos, a visibilidade nas redes sociais também rendeu outras experiências significativas à influenciadora.

“Fiz amizades e conheci muitas pessoas incríveis, então hoje já não me sinto mais sozinha como antes. Viajo para várias cidades para palestrar, o que acho muito divertido. Me superei em muitos momentos, pois nunca imaginei um dia conseguir falar para 500,600…1000 pessoas! Apareci na tv sendo entrevistada pelo Marcelo Tas no Provoca e foi sensacional. Fui no meu podcast preferido, que é o Inteligência Ltda e foi um sonho realizado com certeza! Recebi um áudio fofo da Tata Werneck, que é minha grande inspiração”, elenca.

Confira outros perfis para seguir e aprender mais sobre o autismo:

@dalvatabachi

Autora dos livros Mãe Me Ensina a Conversar e Mãe, Eu Tenho Direito, Dalva Tabachi, de 65 anos, também ganhou popularidade na web ao compartilhar vídeos do dia a dia ao lado do filho mais velho, Ricardo, de 32. Com uma personalidade curiosa e inventiva, o rapaz logo conquistou fãs na web.

“Hoje tem mais conscientização que antigamente e cada vez vai aumentando. Respeitar é tudo. Não há coisa mais significativa que respeitar o autista e qualquer um. A gente tem que abrir os braços pra essas mães, essa família. Está tudo muito melhor do que quando meu filho nasceu”, comemorou Dalva, no Dia Mundial do Autismo.

@seeufalarnaosaidireito

Fabio Sousa, também conhecido como Tio Faso, usa a página @seeufalarnaosaidireito, para falar sobre interseccionalidades envolvendo o artista.

“Ser autista, negro, pobre e periférico é quase zerar o super trunfo das desgraças que podem acometer a uma pessoa. Eu tive sorte por ser um negro de classe média com suporte familiar que conseguia me manter enquanto eu não funcionava direito. Não precisei fazer meus ‘corre’ sem saber o que acontecia comigo. É por isso que dedico os meus dias a falar de autismo para que mais pessoas possam se entender e receber o apoio que merecem, deixando de sofrer e até mesmo morrer por serem historicamente invisibilizados”, contou ele no ano passado, em entrevista ao portal da Fiocruz.

@irmasautistas

Responsável pelo perfil @irmasautistas, Mariana Santos é mãe de Júlia e Sofia. Tanto ela quanto as filhas são portadoras do transtorno de espectro autista. Nas redes, ela compartilha sua rotina — que também inclui desde evoluções na terapia a crises de abstinência a medicamentos por parte das herdeiras — para ajudar outras famílias atípicas.

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