‘Cometa do Diabo’ passa pelo Acre nesta sexta; astrofísico explica fenômeno ao ContilNet

É a primeira vez em mais de 70 anos que o cometa passa pelo planeta Terra

Avistado pela primeira vez no século 19, o cometa 12P/Pons-Brooks foi catalogado pelo astrônomo francês Jean-Louis Pons. O corpo celeste passa pelo planeta a cada 71 anos, sendo que sua última aparição foi por volta da década de 50. Nesta semana, ele estará visível no céu acreano na sexta (19) e o ContilNet conta, em detalhes, como observar o fenômeno espacial.

Alguns poros de ar escaparam do corpo celeste, formando um espaço no meio da cauda, lembrando o “chifrudo”/Foto: Justin Wolff/Reprodução

Caso seu conhecimento de astrofísica nuclear seja limitado a filmes de ficção científica como Interestelar ou A Chegada, Luis Gustavo de Almeida, de 49 anos, ou apenas Prof.º Luis, explica como funciona o cometa. Bacharel em astronomia e astronomia e Mestre e Doutor em astrofísica nuclear pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Um astrofísico estuda a física de corpos do espaço sideral. E existem diversos tipos, como os planetários, que estudam a física de planetas, os extra-galácticos, que estudam as interações entre galácticas. O Prof.º Luis estuda as reações nucleares dentro de estrelas. E destrincha os mistérios por trás do chamado Cometa do diabo. 

Mas, afinal, o que é um cometa e de onde eles vêm?

“No geral, cometas são bolas de gelo sujas. Então, quando você tem uma grande massa de gelo se aproximando do Sol, eventualmente vai começar a evaporar. O que você vê como cauda do cometa, na realidade, é parte dele evaporando ao longo das voltas que ele dá em torno do Sol. Ele vai se desgastar e sumir, mas isso pode levar milhões ou bilhões de anos”, explica o professor.

Acredita-se que esta nuvem consiste em bilhões, senão trilhões, de pedaços de gelo e rocha/Foto: Pablo Carlos Budassi

Existem cometas periódicos, que passam em volta do Sol em órbitas aproximadamente elípticas – em formato de olho. São periódicos, porque eles têm um tempo onde eles voltam a aparecer perto do Sol. 

Os cometas do Sistema Solar surgem de dois lugares, de um cinturão de asteroides – rochas gigantes do espaço – depois do último planeta do nosso sistema, Netuno, ou da “Nuvem da Morte”, uma bola imensa de gelo que envolve o nosso sistema. O cometa do “sete-peles” vem, provavelmente, de depois de Netuno.

“Eles têm mais de 8 bilhões de anos de idade, então compreender cometas e asteroides nos permite ter uma compreensão maior também da formação do Sistema Solar”, fala Luis Almeida.

Por quê “cometa do diabo”?

Embora parecer que tenha um significado obscuro e assustador, o nome tem uma explicação bem simplória. O professor disserta:

O cometa é periódico/Foto: Comet Chasers

“Como eu disse [os cometas são] são pequenas pedras de detritos que se acumularam naquele gelo. Essas pequenas pedras podem ter algumas porosidades e com a medida que vão se aproximando do Sol, aquele gás, ali dentro, se expande e pode escapar. O que provavelmente aconteceu é que alguma quantidade grande desse gás deve ter se escapado de uma vez e fez aquela aquela injeção de gás, parecendo o chifrinho”, diz.

Ou seja, uma quantidade de gás ou material escapou do corpo celeste, criando um vazio no centro da cauda, que se assemelha à forma do “chifrudo”. O professor garante que este é o único significado para o nome do cometa.

Como ver o cometa?

Um cometa é catalogado pelas coordenadas de onde ele é visto pela primeira vez. Depois de anotadas, é possível estimar o tamanho da órbita – a volta que ele dá no Sol – e prever de quanto em quanto tempo ele passa nos céus. Nesse caso, são cerca de 71 anos.

Captura de uma das explosões do 12P/Pons-Brooks/Foto: BarryFlansburg/Repr dução

A visibilidade do cometa será difícil a olho nu no hemisfério sul. Vai depender das condições locais, brilho da lua, iluminação artificial, poluição, nuvens. Então, segundo o professor, a visualização será mais garantida com binóculos ou telescópios. O cometa do diabo poderá ser visualizado até às 19h50, principalmente no Acre

Ao fim, Prof.º Dr.º Luis Gustavo de Almeida deixa claro como é importante usar da astronomia para falar de ciência para a sociedade:

“Astronomia é a melhor forma de fazer divulgação de ciência. Física, você vai tentar ensinar e o pessoal, já, olha para você torto, com total preconceito. Mas as pessoas não sabem que astronomia também é uma física disfarçada. Ela serve de porta de entrada muitas vezes”, conclui.

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