Há 40 anos, depois de 20 anos de ditadura militar sem eleições diretas para a presidência da República, o Brasil derrotaria, no plenário do Congresso Nacional, com votos de parlamentares acreanos, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) apresentada no ano anterior pelo deputado federal Dante de Oliveira. A PEC foi apresentada ao Congresso Nacional, com o intuito de retomar a democracia por meio das eleições diretas e, ao final de uma sessão nervosa, com militares na rua e armados cercando a sede do Congresso Nacional, a ideia seria derrotada por 22 votos, com a bancada do Acre, composta de oito deputados, completamente dívida.
Dos oito deputados, quatro votaram pela derrota da emenda. Na época, eram deputados pelo Acre Alércio Dias, Amilcar Queiroz, Nosser Almeida e Wildy Viana, pelo PDS, partido que dava sustentação à ditadura militar, cujo presidente, naquele momento, era ainda o general João Batista Figueiredo. Pelas oposições, representada pelo MDB, os deputados eram Aluísio Bezerra, Ruy Lino, José Melo e Geraldo Fleming. No placar da votação, apenas os quatro deputados do MDB votaram pela volta do voto direto para presidente.
Dos oito deputados federais pelo Acre naquele período, assim como Dante de Oliveira, o autor da emenda, então deputado federal pelo Mato Grosso, não há mais nenhum vivo. Naquele 25 de abril de 1984, a partir da sede do Congresso Nacional, a imagem era de luto em todo o país.
A euforia que tomava conta do Brasil, desde 1983, quando Dante de Oliveira apresentou a emenda que poria fim às eleições presidenciais via colégio eleitoral, de forma indireta, dera lugar a uma profunda tristeza entre os democratas brasileiros pelo temor de que a ditadura dos generais, que chegara ao poder com a deposição de João Goulart, em 1964, pudesse se perpetuar ou permanecer por mais tempo no país.
A euforia anterior àquele dia de tristeza começou logo após à apresentação da proposta de Dante de Oliveira, com as lideranças políticas de oposição na época, com Ulysses Guimarães (deputado federal por São Paulo), Tancredo Neves (governador de Minas Gerais), Teotônio Vilela (senador por Alagoas), entre outros, iniciaram a organização do movimento chamado “Diretas Já”. Apesar dos esforços, naquele em 25 de abril de 1984 a emenda foi rejeitada. No entanto, apesar da derrota na Câmara dos Deputados, o movimento começava a mostrar que a sanguinária ditadura militar poderia, sim, ser derrotada – e com seus próprios meios. O movimento popular, com comícios espalhados por todo o Brasil, já estava consolidado, e o anseio da população pelas eleições diretas não poderia mais ser ignorado. Foi assim que as Diretas Já se transformaram em uma das maiores manifestações populares da história do país.
Os comícios em prol das “Diretas Já” tiveram início em março de 1983, mas antes disso, em junho, uma frente ampla reuniu os governadores Leonel Brizola, do Rio de Janeiro, Franco Montoro, de São Paulo, e então presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Inácio Lula da Silva, entre outros líderes políticos que também participaram da construção do movimento.
Engajaram-se na mobilização a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), a União Nacional dos Estudantes (UNE), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT), assim como múltiplos setores da sociedade.
As Diretas Já levaram milhares de pessoas nos cerca de 30 comícios organizados entre os anos de 1983 e 1984 nas ruas. As eleições presideciais com o voto direto, no entanto, só correria cinco anos depois, após o governo do presidente José Sarney. A ironia é que o presidente eleito pelo voto direto na primeira eleição presidencial após a ditadura militar, Fernando Collor de Mello, foi exatamente um daqueles 22 votos que derrotaram a emenda de Dante de Oliveira. Ele era deputado federal por Alagoas e, antes de chegar à presidência, da qual foi afastado por corrupção, em 1992, apoiava a ditadura e chegava a se apresentar, para defender a candidatura presidencial do então deputado federal Paulo Maluf, “como o mais malufista dos malufistas”. Após 40 anos, ambos estão condenados por corrupção.