Com dedicação, quadrilheiros se preparam para calendário de apresentações juninas

De Rio Branco, são esperadas as juninas Amor Junino; Escova Elétrica; Sassaricano na Roça; Pega Pega; Matutos na Roça; Malucos na Roça; Assanhados na Roça; CL na Roça; e Explode Coração

Os preparativos para a temporada de arraiais de São João estão animados com os ensaios de quadrilheiros dispostos a participar nos circuitos municipal, estadual e nacional de 2024. Neste ano, cerca de treze grupos, da capital Rio Branco e de municípios do interior do estado, se preparam com entusiasmo, brilho e dedicação para manter viva a rica tradição junina.

Para a etapa estadual, o governo do Acre, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour (FEM), está se preparando para receber as quadrilhas juninas. Neste mês de abril, a FEM alinha os primeiros detalhes sobre a etapa estadual com a Liga de Quadrilhas Juninas do Acre (Liquajac).

“O governo do Estado, por meio da Fundação de Cultura Elias Mansour, investe na tradição das festas juninas com a realização do Arraial Cultural, e o ponto alto é a apresentação das quadrilhas juninas, que levam ao público toda a beleza da diversidade cultural acreana. A FEM reconhece a importância desse evento para a população e, no momento, finaliza as tratativas com a Liga das Quadrilhas Juninas do Acre”, enfatizou o presidente da FEM em exercício, Altino Machado.

No ano passado, além das juninas da capital, grupos de Santa Rosa do Purus, Sena Madureira e Porto Acre participaram do circuito de apresentações estadual, o Arraial Cultural. A expectativa é que, neste ano, os quadrilheiros do interior voltem a participar nesta etapa.

“Nos esforçamos para manter as quadrilhas ativas, mesmo diante dos desafios. A dedicação de todos os envolvidos é fundamental para preservar essa tradição”, disse a presidente da Liga das Quadrilhas Juninas do Acre (Liquajac), Lene Santos.

De Rio Branco, são esperadas as juninas Amor Junino; Escova Elétrica; Sassaricano na Roça; Pega Pega; Matutos na Roça; Malucos na Roça; Assanhados na Roça; CL na Roça; e Explode Coração. Do interior, há as juninas Treme Terra, de Santa Rosa do Purus; Manguaça e Farofa de Capeta, de Sena Madureira; Forrozeira, de Porto Acre; e Pacatuba, de Plácido de Castro.

Preparação e amor

Os ensaios da Sassaricano na Roça começaram na terceira semana de janeiro, mas o planejamento começou ainda em outubro do ano passado, após a junina ter sido campeã do circuito estadual, com o tema “A flor e o beija-flor: 20 anos de uma história de amor”. Dois dias após o título estadual, a Sassaricano foi para a etapa nacional, em Canaã dos Carajás (PA), onde conquistou o 9º lugar, entre as quinze melhores do país.

“Vencemos o estadual e fomos para o nacional com um frio na barriga, porque quando vamos para o nível nacional o Acre sempre fica entre os últimos. Então, ficar em nono lugar foi maravilhoso. Ficamos aflitos para organizar tudo, os mantimentos, as roupas e todo mundo, mas foi uma aventura e deu tudo certo”, disse Júnior Martins, coordenador de apoio da Sassaricano.

De volta em casa, após a conquista, o grupo começou o planejamento para 2024 e, nos ensaios deste ano, os quadrilheiros seguem entusiasmados para apresentar o “São João das Maravilhas”, tema deste ano. Os ensaios acontecem toda terça, quarta e quinta-feira, e as inscrições são abertas para todos que desejam participar.

Sassaricano na Roça: 21 anos de amor

Neste ano, a Sassaricano completa 21 anos de história, todos eles vivenciados com o quadrilheiro Willen Augusto, que participa desde o início das atividades da junina, quando os ensaios ainda aconteciam na Associação de Moradores do bairro Novo Esperança.

“Eu vinha passando de algum lugar e o Branco [personagem icônico na história da Sassaricano] me chamou para dançar. No primeiro e segundo ano eu não peguei festival, mas comecei no terceiro ano. Nessa caminhada eu já fui rei, noivo, noivo atuante, tenho um histórico de personagens na quadrilha”, Willen disse com orgulho da trajetória.

“A gente começou bem lá atrás, quando não tinha festival. Depois veio o festival do Sesc [Serviço Social do Comércio seccional Acre], e os circuitos na Gameleira e na Arena da Floresta”, acrescentou o quadrilheiro.

Na Sassaricano desde 2015, a história do coordenador de apoio, Júnior Martins, é contada com brilho nos olhos. Ele lembra que sempre admirou as apresentações: “Eu sempre quis dançar, mas eu venho de uma família muito rígida e religiosa. E o pai e a mãe não me deixavam participar porque tinha aquela visão de bagunça. Mas um dia me chamaram, eu encarei o desafio e estou até hoje”, revelou.

Respeito e compromisso

Natural de Feijó, a presidente da Sassaricano, Ellen Hanashara, é integrante do grupo desde quando veio para a capital, em 2009. Ela fala que chegou a montar uma junina na cidade natal, mas encontrou um novo lar na Sassaricano na Roça, após vir a trabalho para a capital.

“Para nós, público LGBTQIAP+, não existem muitas oportunidades, e as quadrilhas abraçam todos os públicos – adultos, crianças e adolescentes que vivem em vulnerabilidade. Então, as quadrilhas têm essa essência de acolher as pessoas, abraçar, tirar de um mundo que a gente sabe que não é fácil”, explicou Ellen.

No caminho da roça em família

E foi no caminho da roça que sete integrantes da família Souza Oliveira encontraram uma festa cheia de alegria. A mãe, Dinha Oliveira, conta que começou levando as filhas Nicole, Vanessa e Andressa Souza, e a nora Vitória. Com o tempo, o filho mais novo, Bruno Souza, de 10 anos, também começou a participar e, por fim, o esposo, Welinton Oliveira também acabou como integrante da equipe de apoio.

“Quando você vai para a quadrilha, se distrai e fica muito feliz. Você se alegra, esquece o que tem lá fora. É muito bom”, disse Bruno Souza, de 10 anos, filho mais novo da família e rei mirim eleito na etapa estadual no ano passado, ao lado da rainha mirim, Kemilly Vitória, de 9 anos.

Na preparação para os circuitos do ano, as irmãs Vanessa e Nicole também estão animadas com as atividades. “Antes de eu vir, eu achava muito lindo como é feito o trabalho, o acolhimento. O jeito que a gente está aqui, todo mundo junto, eu considero como minha segunda família”, disse Vanessa. “É bem legal, bem familiar, todo mundo se conhece e se ajuda. É uma quadrilha muito família mesmo. A gente está em casa”, acrescentou Nicole.

Potencial econômico

As preparações das juninas começam sempre de um ano para o outro, e vão desde a temática, figurino, coreografia, trilha musical, cores, materiais e história. “As pessoas acham que é só brincadeira, mas não é só isso. São muitas lutas para chegar até aqui, mas é algo gostoso de fazer, envolve repertório musical, coreografia, as cores que vão representar aquela história. A Liga ajuda a nos manter unidos, e os nossos jurados são capacitados para julgar a gente dentro desse contexto”, explicou a presidente da Liga das Quadrilhas Juninas do Acre, Lene Santos.

Além disso, o aspecto financeiro é significativo para o comércio local. No ano passado, com o apoio da Secretaria de Estado de Turismo e Empreendedorismo (Sete), o Arraial Cultural reuniu cerca de 60 empreendedores: “O nosso movimento contribui muito em relação aos feirantes. Todos os nossos festivais são frequentados por cerca de vinte mil pessoas. Temos capital de giro no comércio”, destacou a presidente da Liga das Quadrilhas Juninas.

Novo ano, nova preparação

Para chegar aos objetivos, também há custos financeiros para os grupos quadrilheiros. “Para colocar uma quadrilha no tablado, o mínimo que você gasta é R$ 50 mil, e esse valor pode chegar até R$100 mil, dependendo do tema. Então a gente escreve projetos para os editais na área de cultura para dar mais uma ajuda, fazemos rifas e organizamos arraiais, para ter uma arrecadação maior”, acrescentou Júnior Martins, da Sassaricano na Roça.

Em meio a tantos desafios, os resultados ultrapassam o aspecto econômico e comercial, e contribuem para o crescimento pessoal e emocional, incendiando os corações quadrilheiros: “As juninas representam muito a união. Temos a rivalidade e a competição, mas elas representam uma cultura popular livre e de uma riqueza que os quadrilheiros estão aí e não ganham nada, mas vêm pelo prazer em algo que representa muita alegria. A gente leva muita alegria e entretenimento tanto para quem participa como para o público que nos vê”, ressaltou Lene.

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