Conheça o Roxo, marceneiro ‘naval’ de Tarauacá que sonha em se profissionalizar

ContilNet traz a saga de Edson Arantes, um tarauacaense que não mede esforço para trabalhar no que gosta

O menino nasceu quase peixe querendo pular n’água. Veio ao mundo mais púrpuro que a própria nuance da pele. Se pudesse ter saído do ventre direto pro Rio Tarauacá, como os botos, ele teria feito. Pelo matiz, ganhou o apelido de Roxo nos primeiros dias de vida. Roxinho para os mais chegados. Roxo para os colegas de ofício.

Edson Pereira do Nascimento, 34 anos, o Roxo, quase homônimo do Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, é marceneiro naval. Como assim: marceneiro naval?

Roxo é figura ilustre de Tarauacá/Foto: Juan Diaz/ContilNet

– Isso mesmo, responde o Roxo. O marceneiro trabalha com madeira. Faz móveis e até casa. O naval, navios.

Ah, bom! Você faz navio?, pergunto.

– Não propriamente, mas me considero marceneiro ‘naval’ só de consertar batelões como esse aqui.

O tarauacaense trabalha na construção de embarcações e até casas/Foto: Juan Diaz/ContilNet

Encontramos Roxo no bairro da Praia trocando as pranchas do fundo de um barco. Fones de ouvidos na cabeça, escutava Zezé de Camargo e Luciano no celular, quando riscava a lápis parte do assoalho a ser substituído. Tomou um susto quando cutucamos suas costas para a entrevista.

Por quatro dias, naquele outubro de verão, faria os remendos apropriados para lançar a embarcação no rio novamente. Roxo é marceneiro ‘naval’ há quatro anos. Aprendeu o trabalho vendo mestres calafeteiros consertando barcos às vésperas do rio encher.

– Quando comecei eu era meio cabreiro. Ficava olhando aqui, pregando uma tábua acolá, e fazendo. Aí aprendi.

Pelos dias de reparos, Roxo acertou em R$ 100. Mas confessou que choraria por R$ 140 para o dono do batelão, porque faria a calafetagem com estopa e breu.

Aprendeu o trabalho vendo mestres calafeteiros consertando barcos às vésperas do rio encher/Foto: Juan Diaz/ContilNet

No período de seca, o bairro é vistoso. As longas praias servem de campinhos de futebol pra meninada, e de atracadouro de barcos para famílias de indígenas kaxinawás que chegam da região do município do Jordão. Leva-se até oito dias de barco até a cidade de Tarauacá pelo Rio Muru que desemboca no rio de mesmo nome.

É nesse intervalo de estiagem que profissionais como Roxo aproveitam para ganhar um bom dinheiro. Mas ele confessa uma coisa. Diz que não vai parar por aqui não.

“Me considero marceneiro ‘naval’ só de consertar batelões como esse aqui”, disse o acreano/Foto; Juan Diaz/ContilNet

– Vou ser ainda comandante de balsas. Já manobrei alguns batelões grandes, mas quero ser profissional. Um dia, reúno grana e tiro minha carteira da capitania dos portos. Aí, quando vocês vierem me entrevistar de novo, eu vou estar de chapéu cheio de estrelas como os comandantes dos navios dos filmes.

E como afinal, quem acredita sempre alcança, torcemos para que o marceneiro naval do Rio Tarauacá consiga realizar seus sonhos.

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