Encravada no meio da selva amazônica, a cidade de Tarauacá, no noroeste do Acre, é um péssimo exemplo do insucesso da política de desenvolvimento proposta por Organizações Não Governamentais (ONGs), financiadas no exterior, para a região. A análise é do ex-ministro da Defesa Aldo Rebelo, que, em setembro, fará naquela cidade palestra acerca do desenvolvimento do município e da sobrevivência da população local. “Tarauacá expressa a falência desse modelo”, pontua Rebelo.
Integrante da bancada do Acre no Congresso, o deputado Coronel Ulysses (União–AC) concorda com Rebelo. Diz que as imposições de ONGs ao desenvolvimento da Amazônia, além de equivocadas, tende a levar a ampliar a miséria nos rincões amazônicos. No ano passado, Ulysses escreveu dois artigos para o jornal O Estado de S. Paulo (A dívida moral com o Acre), nos quais defende mais investimentos públicos para desenvolver a Amazônia, conciliando o desenvolvimento com a preservação sustentável.
“Não se pode, em nome da preservação da Amazônia, submeter 29,6 milhões de pessoas ao atraso e à miséria, como ocorre em Tarauacá”, lembra Ulysses. No caso do Acre, Ulysses cita como exemplo de “modelo perverso de desenvolvimento” o conceito de ‘Florestania’, implantado pelos governos do PT, “que só produziu pobreza no lugar de riquezas, principalmente em áreas de reservas, como a Reserva Extrativista Chico Mendes, em Xapuri”. “O fiasco desse modelo é hoje refletivo nas periferias das cidades do Acre, onde a violência e o desemprego são expressivos”, pontua Coronel Ulysses.
Ulysses está em viagem, de carro, de Rio Branco para Cruzeiro do Sul. “A BR-364 se encontra numa situação muito precária, exigindo recuperação imediata”, conta Ulysses. Presidente da Frente Parlamentar em Defesa da BR-364, Ulysses diz que as precárias condições da rodovia é, também, resultado da política de desenvolvimento da Amazônia imposta pelo atual governo.
Com apenas 20.169,485km² de extensão e população de 43.467 habitantes, o município tem 94% de seu território intocável, o que, segundo Rebelo, “inviabiliza totalmente seu desenvolvimento”. Ou seja, somente 6% da área territorial de Tarauacá são destinados a alguma atividade econômica ou à infraestrutura urbana. Desse modo, o município não terá como sobreviver, por exemplo, pela atividade econômica da agropecuária.
Modelo perverso de desenvolvimento agrava quadro social na Amazônia
Ainda conforme o ex-ministro da Defesa, o reflexo desse modelo perverso de desenvolvimento imposto por ONGs, inclusive com a chancela do governo federal, pode ser medido nas estatísticas sociais de cidades amazônidas, como Tarauacá. Ali, o índice de mortalidade infantil é de 22,6 óbitos por mil nascidos vivos, bem acima da média do Acre, que foi de 16, em 2019. Naquele ano, a taxa média no Brasil foi de 13 óbitos para cada grupo de mil crianças nascidas vivas.
Quando se fala em ocupação, emprego e renda, os números de Tarauacá são ainda mais preocupantes. De seus 43,4 mil habitantes, apenas 2.388 pessoais tinham emprego ou trabalho formal, segundo o Censo de 2022 (IBGE). Em 2021, 47,4% das pessoas da cidade tinham rendimento máximo de meio salário-mínimo, o equivalente a R$ 505,00.
Atualmente, o município tem 750 homens e 50 mulheres em seu presídio, e outras 1 mil pessoas monitoradas pela Justiça. Segundo o ex-ministro Aldo Rebelo, “essa situação se dá porque Tarauacá não tem direito a sobreviver pela atividade econômica da agricultura, da pecuária ou da pesca”. Rebelo lembra que, em Tarauacá, dezenas de propriedades foram vendidas e destinadas ao crédito de carbono, impedindo, assim, a expansão da atividade econômica na região. E o que é mais grave, segundo Rebelo, “nessas propriedades, as pessoas foram até proibidas de pescar para sua sobrevivência”.
“[A cidade de] Tarauacá, o Acre e a Amazônia podem proteger o meio ambiente e preservar a floresta e a natureza, mas, ao mesmo tempo, têm direito ao desenvolvimento e à sobrevivência de sua população”, defende Aldo Rebelo, no que é apoiado pelo deputado Coronel Ulysses. “Não podemos ser relegados ao atraso”, diz Ulysses, lembrando, a exemplo de Rebelo, que atualmente boa parte está deixando o Acre em busca de oportunidades em outras regiões do País.