No Acre, desembargador diz que ‘repressão ao tráfico’ é um fracasso e fala de ameaças ao Judiciário

A Fronteira do Pó mostra a realidade do tráfico de drogas na triplice fronteira entre Acre, Peru e Bolívia

O documentário A Fronteira do Pó, produzido pela Rede Record de Televisão, foi lançado, no serviço de streaming da rede de TV, o Play Plus, mostrando como funciona o tráfico de drogas na tríplice fronteira, entre o Acre, Bolívia e Peru.

Além das questões relativas aos entorpecentes, o material aborda ainda a violência à população, gerada pelos conflitos entre as facções envolvidas, sejam por assaltos, roubos ou até mesmo assassinatos.

Ao todo, apenas no ano de 2023, foram apreendidos 1,112 de cocaína e 1,227 toneladas de maconha apenas no estado do Acre, somando 2,339 toneladas de drogas.  Além disso, no mesmo período, Grupo Especial de Fronteira (Gefron) afirma que  o crime organizado custou cerca de R$30 milhões aos cofres públicos do estado.

O desembargador, Raimundo Nonato, falou com a reportagem acerca da atuação e impacto dessas organizações criminosas na segurança da capital. “Estamos vivenciando um momento em que essas organizações têm um poder muito grande, tivemos aumento de crimes contra a vida e contra patrimônio, além do crime de tráfico de drogas”, disse o desembargador.

O desembargador foi um dos entrevistados e ressaltou as dificuldades no combate ao tráfico de drogas no estado/ Foto: Reprodução/RecordTV

Bernardo Albano é promotor de justiça e conta que as facções começaram a surgir no estado há mais de 10 anos, ainda em 2011. “Tivemos a chegada do comando vermelho em 2013 e do PCC ainda em 2011. Presidiários do Francisco de Oliveira Conde resolveram replicar a metodologia e criar uma facção local, conhecida como Bonde dos 13”.

Albano explica ainda que 2017 foi um ano de grandes conflitos envolvendo o tráfico, quando o estado passou a ser o segundo com maiores índices de violência, e Rio Branco a cidade que liderava o ranking entre as capitais.

“Com esse movimento de conflito entre as facções, tivemos uma relação de aliança entre duas delas, o Bonde dos 13 e o Primeiro Comando da Capital contra o Comando Vermelho”, explica o promotor.

Porém, Nonato contrapõe, afirmando que, apesar da aliança local entre o “B13” e o PCC, é nítido que o Comando Vermelho tem se sobressaído e vem neutralizando as outras duas facções.

O desembargador ainda destaca que no estado alguns servidores da justiça já foram ameaçados e precisam de seguranças especiais para realizar seus afazeres diários. “(Ocorre) principalmente em cidades do interior, onde muitas vezes tem apenas um juiz, e que todo mundo o conhece”, explica.

Bernardo Albano diz que é preocupante as organizações estarem cooptando indígenas e integrantes em outros países/ Foto: Reprodução/RecordTV

O promotor de justiça afirma também que o alcance desses grupos criminosos estão se expandindo cada vez mais, chegando a outros países e até mesmo em comunidades indígenas.

“Parte das rotas de escoamento de entorpecentes perpassam territórios indígenas, e a gente tem verificado a cooptação, por parte dessas organizações criminosas, integrantes das comunidades tradicionais, e isso altera a lógica de poder dentro desses espaços”, conta Albano.

A lavagem do dinheiro oriundo do tráfico é feita, em grande parte, através das atividades agropecuárias no estado do Acre, relata Albano sobre o caminho feito pelos lucros das drogas.

Nonato encerra dizendo ainda que a política de repressão é ineficiente, pois não conseguem chegar aos grandes nomes. “A política de repressão ao tráfico é um fracasso, nós não conseguimos prender o grande traficante”, afirma o desembargador

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